Importados batem recorde e expõem desafio da indústria brasileira

A combinação de demanda interna aquecida, retomada da produção industrial e câmbio desvalorizado em 2024 produziu um resultado incômodo para a indústria brasileira: nunca houve tantos produtos importados dentro do carrinho de consumo do país. Segundo o estudo “Coeficientes de Abertura Comercial” (CAC), da Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com a Funcex, a participação de bens estrangeiros no consumo aparente da indústria de transformação chegou a 26,7% em 2024, o maior patamar desde o início da série histórica, em 2003. Em 2023, esse percentual era de 24,5%.

O avanço ocorreu mesmo em um cenário de forte desvalorização do real, que em tese tornaria os importados menos competitivos. Em valores deflacionados e em moeda local, as importações cresceram 17,3% em 2024, impulsionadas pelo aumento da produção industrial e pela recuperação da demanda doméstica. Para a CNI, os coeficientes funcionam como um alerta: a indústria continua enfrentando entraves estruturais – como custo Brasil, infraestrutura, tributação complexa e gargalos de inovação – que limitam sua capacidade de competir tanto dentro quanto fora do próprio mercado nacional.

A China aparece como principal vetor dessa expansão. A participação de produtos chineses no consumo brasileiro subiu de 7,1% para 9,2% em 2024, também um recorde da série. O ganho de espaço veio sobretudo em segmentos de maior valor agregado e intensidade tecnológica, como máquinas e equipamentos, materiais elétricos, informática e óptica, além de forte presença no setor têxtil. Somados, China, União Europeia, Estados Unidos e outros países europeus responderam por 18,7% do consumo aparente da indústria de transformação em 2024, ante 16,9% no ano anterior – mas, entre essas regiões, apenas a China ampliou sua fatia.

A dependência externa não se limita aos produtos finais que chegam às prateleiras. O uso de insumos industriais importados também atingiu novo recorde: o coeficiente passou de 23% para 25% em 2024. As compras de insumos estrangeiros cresceram 16% em reais a preços constantes, enquanto o consumo de insumos nacionais avançou apenas 4%. Todos os 20 setores analisados registrar am maior uso de insumos importados, com destaque para máquinas e equipamentos, outros equipamentos de transporte, vestuário e acessórios têxteis. Na prática, isso significa que boa parte da produção “feita no Brasil” depende de cadeias globais de suprimento, mais sensíveis a choques cambiais e logísticos.

Na outra ponta, a importância do mercado externo para escoar a produção industrial recuou levemente. O coeficiente de exportação – que mede a parcela da produção voltada para o exterior – caiu de 19,3% em 2023 para 18,9% em 2024. As vendas externas da indústria de transformação até cresceram 2,6% em termos reais, mas em ritmo inferior ao da produção total, reduzindo o peso relativo das exportações. Estados Unidos, União Europeia, China e Sudeste Asiático seguiram como principais destinos, com a região asiática ultrapassando a Argentina no ranking.

Apesar da perda de fôlego nas exportações e da maior presença de importados, o saldo agregado da indústria de transformação ainda é positivo: o coeficiente de exportações líquidas subiu de 9,3% para 9,6% em 2024, indicando que a receita com vendas externas continua superior ao gasto com insumos importados. Setores como celulose e papel, madeira e outros equipamentos de transporte mantêm desempenho superavitário, enquanto áreas como informática, eletrônicos, ópticos e têxteis seguem com resultados negativos. Para especialistas, o quadro reforça um diagnóstico conhecido: sem uma agenda consistente de produtividade, inovação e redução de custos estruturais, o Brasil tende a ver a participação de importados crescer – especialmente vindos da China – ao mesmo tempo em que perde espaço competitivo nos mercados globais.

Compartilhe esse artigo

Açogiga Indústrias Mecânicas

A AÇOGIGA é referência no setor metalmecânico, reconhecida por sua estrutura robusta e pela versatilidade de suas operações.
Últimas Notícias