Na edição deste mês, você lerá sobre o avanço do projeto de lei que define o Devedor Contumaz, uma pauta histórica e que deve melhorar o ambiente competitivo do setor de distribuição de combustíveis. Também comentamos sobre o lançamento de leilão para baterias no próximo ano, com previsão de participação da Petrobras. Ainda sobre a estatal, comentamos sobre o estado atual da greve, que vem se expandindo dia após dia, por hora ainda sem impacto na produção, e também sobre a aquisição de participação no setor de energia solar.
Na seção de análise gráfica e contexto setorial, o ativo selecionado foi o dólar, em um gráfico semanal que discute possíveis rumos da moeda ante o real.
Por fim, discutimos também os dados de volumes e participação de mercado em distribuição de combustíveis, comparando a atuação de Ipiranga, Raízen e Vibra. Boa leitura!
Petróleo em foco
Como comentamos no gráfico apresentado no setorial de agosto, o petróleo segue em trajetória de queda desde 2022, no contexto de uma demanda global que cresce menos e um aumento da oferta. Entre as razões, menores importações pelas principais economias globais, com destaque para a China, que vem eletrificando sua frota automotiva em ritmo acelerado, mas também diante do aumento da oferta pela Opep+ (reversão dos cortes de produção iniciados no pós pandemia). Assim, permanece a expetativa de sobreoferta relevante para 2026, o que deve manter os preços da commodity arrefecidos. Ao longo do ano, conflitos geopolíticos vinham adicionando prêmios de risco, reduzidos mais recentemente (vide as cotações nas mínimas de 12 meses), com a recuperação na última semana ocorrendo no contexto de um bloqueio feito pelos EUA aos petroleiros da Venezuela. Ainda assim, mesmo um bloqueio total nas exportações do país não seria capaz de reverter tamanho excedente do mercado.
Biocombustíveis e hidrogênio
De acordo com a EPE, a integração entre hidrogênio de baixo carbono e biocombustíveis pode redefinir a transição energética no Brasil, criando sinergias que viabilizam dois mercados estratégicos de longo prazo. O setor de bioenergia, impulsionado por metas globais de descarbonização e pelo programa Combustível do Futuro, tende a se tornar o principal consumidor inicial de hidrogênio, garantindo demanda estável para projetos e reduzindo riscos de investimento. Ao mesmo tempo, o uso de hidrogênio verde pode melhorar a pegada de carbono dos biocombustíveis, ampliando sua competitividade internacional e potencial para geração de CBIOs, enquanto rotas como biometanol e amônia verde reduzem dependência de importações e emissões. Essa complementaridade, somada à abundância de biomassa e infraestrutura existente, posiciona o Brasil para liderar cadeias globais de energia limpa, com impactos na indústria, agricultura e exportações, caso foque em desenvolver esse mercado com os incentivos adequados.
Notícias e dados do setor
Uma pauta histórica do setor de distribuição para o combate à concorrência desleal avançou neste mês, com aprovação, pela Câmara dos Deputados, do projeto que regulamenta o conceito de Devedor Contumaz, criando critérios para distinguir quem enfrenta dificuldades pontuais de quem usa a sonegação como prática deliberada. O texto enquadra contribuintes com débitos acima de R$ 15 milhões, superiores a 100% do patrimônio, e atrasos superiores a um ano sem justificativa, atingindo cerca de 1.000 devedores responsáveis por mais de R$ 200 bilhões em dívidas. A proposta prevê punições como restrição a benefícios fiscais e participação em licitações, que se sancionado deve promover efeitos positivos no setor de distribuição de combustíveis.
O governo abriu consulta pública para realizar o primeiro leilão de sistemas de armazenamento em baterias para reforçar a segurança energética diante da expansão das fontes eólica e solar, com contratos de dez anos e início de suprimento em agosto de 2028. A Petrobras vem se movimentando para participar, após ter colocado o segmento em seu plano de investimentos 2026-30, na carteira de projetos em avaliação. O estratégico de tal posicionamento seria poder mitigar os efeitos do excesso de oferta de energia renovável, que tem provocado desligamentos compulsórios (curtailment). Esse contexto já levou a companhia a reduzir sua meta de expansão em eólica e solar de 4 GW para 1,7 GW em seu plano quinquenal, ou seja, para avançar em renováveis, é necessário contar também com armazenamento.
Greve dos petroleiros. Os petroleiros do Sistema Petrobras iniciaram uma greve na última segunda-feira (15), após a FUP considerar insuficiente a segunda contraproposta para o Acordo Coletivo de Trabalho de 2025. Neste início, a paralisação teve adesão de 28 plataformas de produção e nove refinarias, além de unidades administrativas e campos de produção terrestres.
A equipe de research do BB-BI divulgou na semana passada seu relatório mais completo do ano, o Seleção BB-BI 2026. Nele, comentamos o contexto de cada setor do Ibovespa, fazendo um mergulho em renda variável, fundos imobiliários e crédito privado. Clique aqui para conferir! No setor de distribuição de combustíveis, nossa indicação foi a Vibra, que vem apresentando boas margens e deve acompanhar o bom momento do setor, que contou com um necessário avanço nas ações contra ilegalidades em 2025. Em linha com o cenário de superávit global de petróleo e os impactos negativos sobre os preços da commodity na geração de caixa das empresas, não temos indicações de petroleiras. Ainda assim, preferimos nomes mais resilientes para se posicionar no setor, como a Petrobras, que tem o menor custo de extração no país.
A Braskem finalmente vislumbra um horizonte para a questão societária. A gestora IG4 fechou acordo para adquirir do consórcio de bancos credores cerca de R$ 20 bilhões em dívidas da Novonor. Caso aprovada pelo Cade, a transação dará ao fundo 34,3% do capital total e 50,1% do capital votante da Braskem. A operação envolve a criação de dois fundos: um FDIC para concentrar créditos dos bancos, quitados com a venda futura das ações da petroquímica, e um FIP para transferir as ações ordinárias da Novonor, em controle compartilhado entre IG4 e Petrobras.
A Petrobras anunciou nesta semana a aquisição de 49,99% das subsidiárias da Lightsource bp no Brasil, formando uma joint venture com gestão compartilhada para desenvolver projetos de energia renovável e ampliar sua presença no setor solar. A parceria inclui um pipeline de 1 a 1,5 GW em estágio avançado, além da usina fotovoltaica de Milagres (212 MWp), no Ceará. A iniciativa marca a entrada da companhia na geração solar, um setor com margens bastante comprimidas e sem sinergias claras com o restante de seu portifólio.
Análise técnica: gráfico e contexto
Nesta seção, realizamos, a cada mês, uma análise técnica de ativos selecionados, de indicadores relevantes para o setor ou de papéis cobertos pelo BB-BI. Neste mês, analisamos o desempenho do dólar americano.
Além dos preços de petróleo, outra variável relevante para as petroleiras brasileiras é o dólar, que está ligado tanto aos custos quanto às receitas das companhias. Vimos a moeda disparar ao longo de 2024, atingindo recorde histórico, na faixa dos R$ 6,20. Já em 2025, houve forte correção, mas que respeitou a retração Fibonacci de 38%, como podemos ver na imagem abaixo.
Nas últimas semanas, após atingir mínimas na casa dos R$ 5,25, o ativo voltou a subir, se aproximando da resistência dos R$ 5,50, com próximos objetivos já na casa dos R$ 5,70, o que compensaria parte da queda nos preços de petróleo para empresas do setor. Como suportes, vemos a faixa dos R$ 5,25, cuja perda poderia acelerar o declínio para R$ 5,10 e R$ 4,80, principal suporte de longo prazo. Por trás das variações, contextos domésticos e também globais, com o dólar enfraquecendo diante de uma dívida americana crescente e aumento da base monetária, o que vem estimulando investimento em diversas classes de ativos globais.
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