Indústria paranaense alerta para riscos de atraso na adaptação à reforma tributária

A menos de quatro meses do início da implementação da reforma tributária, a indústria do Paraná manifesta apreensão com os desafios de adaptação para as empresas e prepara um curso para ajudar na compreensão sobre as mudanças que começam a valer em janeiro de 2026.

Para Guilherme Hakme, coordenador do conselho temático de assuntos tributários da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), muitas empresas do setor estão atrasadas nessa preparação e já deveriam estar se mobilizando, principalmente para as mudanças na nota fiscal eletrônica.

A partir de 2026, as notas fiscais eletrônicas emitidas no país deverão trazer os campos referentes ao IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e à CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), novos tributos que irão substituir os atuais sobre consumo. Sem essas informações, o sistema governamental rejeitará o documento e as empresas podem ficar impossibilitadas de faturar.

Segundo ele, cada companhia precisa ajustar seus sistemas junto aos provedores de software para evitar problemas no início da vigência da obrigatoriedade. O alerta atinge especialmente as pequenas e médias, que em geral têm departamentos jurídico-tributários menos estruturados.

Hakme afirma que tem tido conversas com o governo para que erros no preenchimento das notas não levem à rejeição automática. A ideia é que se adote um período de transição, permitindo que o setor se ajuste sem que a atividade industrial seja paralisada por descumprimento da obrigação.

Com todas essas mudanças, surgem iniciativas de capacitação. A Fiep está promovendo o “Curso de Reforma Tributária – O que muda e como sua empresa pode se preparar”, formação gratuita e online, com 35 horas-aula, para preparar indústrias na adaptação às novas regras tributárias do país.

O curso, que está com inscrições abertas, será realizado de 15 de setembro a 27 de outubro, com encontros ao vivo às segundas e quartas-feiras, das 19h às 21h30.

Para Guilherme, o ritmo de preparação precisa acelerar. As indefinições quanto às alíquotas efetivas do IBS e da CBS, bem como sobre a aplicação de impostos seletivos e as novas regras de incentivos fiscais, reforçam um cenário de incerteza.

No Paraná, como em outros estados, a extinção de incentivos fiscais preocupa o setor. “Foi criado um fundo de compensação, mas há regras que dificultam o acesso a esse fundo. A dúvida é: que empresas conseguirão entrar e quanto recurso haverá disponível? Não parece suficiente para compensar a perda”, observa Hakme.

Outro ponto sensível é o impacto sobre empresas do Simples Nacional, regime em que se enquadram muitas indústrias de pequeno porte. Embora o modelo simplificado continue existindo, há receio de perda de competitividade: como o IBS permitirá que empresas aproveitem créditos de impostos pagos na etapa anterior, quem compra pode preferir fornecedores fora do Simples, que geram mais desses créditos.

O coordenador chama atenção ainda para o risco de perda de competitividade no mercado externo, principalmente em segmentos como o automotivo, calçadista, têxtil e de vestuário, que sofrem mais com o aumento de custos internos. Isto porque encarecer o produto nacional beneficia ainda mais concorrentes estrangeiros, como a China, que já consegue colocar no país produtos com preços mais baixos.

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