A novela da operação da BYD no Brasil em 5 capítulos

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A chinesa BYD já se consolidou no Brasil e tornou-se protagonista no segmento de veículos elétricos e híbridos nacional. Sua chegada com investimentos robustos em fábricas e rede de concessionárias mexeu com o equilíbrio de forças do mercado e colocou a eletrificação no centro das discussões da indústria – além de levar ao ar uma novela que já acumula capítulos interessantes.

Os últimos acontecimentos mostram como a montadora passou a ser parte essencial do debate sobre inovação, política industrial e responsabilidade social no país. Bem como um personagem que ainda pode dar muito o que falar.

Tudo embalado por números que saltam aos olhos para uma marca novata. Entre agosto de 2024 e agosto de 2025, vendeu 100 mil unidades por aqui. Contudo, no mesmo ritmo do volume, a operação da BYD coleciona capítulos controversos no Brasil dignos de uma novela.

A seguir, Automotive Business elencou os principais episódios dessa trama que ainda está em curso.

A novela da operação da BYD no Brasil

Capítulo 1: Fábrica em Camaçari

A ocupação das antigas instalações da Ford em Camaçari (BA) marcou a entrada da marca no país. O investimento bilionário promete gerar empregos, abastecer o mercado interno e prevê exportação para a América Latina.

A operação da BYD no Brasil contou com apoio do governo federal e deu novo fôlego à economia baiana. Porém, a inauguração da fábrica foi adiada por várias vezes e a solenidade oficial em julhopareceu mais uma forma de tentar calar a boca dos críticos.

Mesmo assim, o fato é que a operação industrial da BYD no Brasil ainda nem começou para valer. E quando começar será em um prosaico sistema SKD.

Bom lembrar que o próprio sindicato dos metalúrgicos da região alertou que a unidade da Bahia podia se tornar um simples centro de distribuição de peças.

Capítulo 2: Trabalho análogo à escravidão

Ainda no que tange a fábrica, a imagem da montadora foi arranhada por graves irregularidades trabalhistas. O Ministério Público do Trabalho (MPT) encontrou condições precárias nas obras de Camaçari e acusou a montadora de trabalho análogo à escravidão.

A BYD foi autuada e processada. A empresa prometeu rever contratos e reforçar auditorias, mas ficou sob pressão de sindicatos e da sociedade civil. Em maio, uma ação do MPT pediu a condenação da montadora e de outras duas empresas por trabalho escravizado e tráfico de pessoas, além de multa de R$ 257 milhões.

Capítulo 3: Confronto com montadoras tradicionais

Em meio aos pedidos da BYD junto ao Governo Federal de redução das alíquotas de importação para kits de preças semi desmontadas, a Anfavea e veteranas como Volkswagen e GM entraram na briga.

As montadoras tradicionais criticaram os incentivos dados às chinesas e pediram condições iguais. O governo defendeu a importância da competição e da eletrificação, acirrando a disputa.

Teve até uma carta aberta para deixar a briga digna de um dramalhão. No texto, a BYD chegou a chamar as fabricantes tradicionais de “dinossauros” e se autointitulou um “meteoro”.

No fim, o governo tentou ser diplomático. Zerou o imposto de importação de peças para montagem em CKD/SKD. Mas só por seis meses. A BYD havia pleiteado 36 meses de desconto na alíquota.

Capítulo 4: Expansão de rede e vendas

A BYD ampliou rapidamente sua rede de concessionárias e conquistou consumidores com modelos com custo/benefício agressivo, como o elétrico Dolphin e o híbrido Song Plus. Só em agosto, as 190 revendas da marca comercializaram quase mil unidades no país.

As vendas crescentes consolidaram a imagemda marca de alternativa viável em tecnologia e custo-benefício, atraindo também parceiros de infraestrutura.

Capítulo 5: Peças retidas em Salvador

O mais recente capítulo da novela que se transformou a operação da BYD no Brasil tem como locação um cais no mar baiano. A retenção de componentes no Porto de Salvador atrasou o cronograma de montagem em Camaçari e expôs vulnerabilidades logísticas.

A empresa cobrou solução do governo para evitar impacto nas entregas e perda de confiança de investidores e consumidores. Ironicamente, ainda ameaçou dar férias coletivas em uma fábrica que sequer começou a operar.

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