A reconfiguração da malha de ferrovias do NE nas mãos da TLSA

Enquanto se esperava que o setor ferroviário ganhasse força com novas conexões e modernização de longos trechos ociosos, o que se vê no Nordeste é um movimento inverso: a retração da malha existente, com a substituição de trechos abandonados por projetos pontuais de Veículos Leves sobre Trilhos (VLTs). E quem está por trás dessa reconfiguração é a concessionária privada Transnordestina Logística S.A. (TLSA), controlada pela CSN.

A empresa, que desde 1997 detém a concessão da antiga Malha Nordeste, vem conduzindo negociações com o governo federal para renovar o contrato e, com isso, repactuar obrigações. A proposta inclui a devolução de cerca de 3 mil km considerados inviáveis, e em seu lugar, a implantação de dois VLTs urbanos — um em Campina Grande (PB) e outro em Arapiraca (AL).

Esses novos projetos urbanos serão financiados com recursos originalmente previstos para a malha ferroviária regional. Ao invés de recuperar os trechos abandonados por décadas, a TLSA propõe viabilizar apenas pequenos circuitos urbanos, mais baratos e de operação simplificada. Em Campina, por exemplo, já foi autorizada a desativação de 16,3 km de trilhos. Em Arapiraca, está prevista a revitalização de apenas 9 km.

Ocorre que essa substituição da ferrovia regional por mobilidade urbana muda o papel da concessão, cuja função inicial era conectar estados nordestinos e ampliar o transporte de cargas e passageiros. Em vez disso, o que se vê é uma pulverização de esforços, com investimentos focados onde há visibilidade política, sem necessariamente corresponder à lógica da integração logística. Visibilidade política que, inclusive, fez a ferrovia nascer do interior para o litoral, contrariando toda lógica.

Apesar dos investimentos anunciados para a nova Transnordestina — que deverá ligar o Piauí ao Porto do Pecém —, os atrasos, cortes e devoluções de trechos apontam para uma tendência: o protagonismo da TLSA no redesenho do mapa ferroviário do Nordeste se faz mais pela lógica da redução do que da expansão. É um retrato claro da falta de planejamento do governo federal – do atual e dos passados. Afinal, a TLSA manda e desmanda há 20 anos. Fica evidente que o Brasil não tem um plano para seu desenvolvimento. E ponto final.

No próximo dia 14, o evento Conexões Transnordestina, promovido pelo Movimento Econômico, chega a Caruaru para discutir o traçado da obra da ferrovia em Pernambuco. Nova oportunidade para dar voz ao setor produtivo local, ouvir demandas e sugestões. Mais uma oportunidade de fazer pressão para que, ao menos no estado, se garanta que a ferrovia não seja substituída por um VLT. Inscrições pelo Sympla.

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