Aço brasileiro chega a 2026 sob cerco das importações e risco de novos cortes

Imagem da notícia

A indústria siderúrgica brasileira entra em 2026 sob forte pressão da concorrência internacional, especialmente do aço chinês, em um cenário marcado por queda de produção, avanço das importações e risco crescente de suspensão de investimentos. As projeções do Instituto Aço Brasil indicam que o setor continuará encolhendo, mesmo diante de uma demanda doméstica considerada saudável, mas cada vez mais atendida por produtos importados.

De acordo com a entidade, a produção de aço bruto no Brasil deve cair 2,2% em 2025 em relação a 2024, totalizando cerca de 33,1 milhões de toneladas. Para 2026, a estimativa é de novo recuo de 2,2%, para 32,4 milhões de toneladas, refletindo a dificuldade das usinas nacionais em competir com o aço estrangeiro, sobretudo o originado da China. As vendas internas também devem recuar: após queda projetada de 0,5% em 2025, para 21,2 milhões de toneladas, a expectativa é de retração adicional de 1,7% em 2026.

Enquanto a produção doméstica perde fôlego, as importações seguem em trajetória oposta. O Aço Brasil projeta que as compras externas de produtos laminados alcancem 6,324 milhões de toneladas em 2026, um crescimento de 10% sobre 2025, o que representaria um recorde histórico. O volume previsto para 2025, de 5,748 milhões de toneladas, já é significativamente superior à média anual de 2,2 milhões de toneladas registrada entre 2000 e 2019, o que significa uma alta de 168% frente ao padrão histórico.

Segundo André B. Gerdau Johannpeter, presidente do conselho diretor do Instituto Aço Brasil e do conselho de administração da Gerdau, o Brasil tem reagido de forma mais lenta às importações consideradas predatórias do que outros grandes mercados. “Os empregos e investimentos cortados na indústria do aço brasileira são o preço que o Brasil paga por não conseguir reagir contra as importações predatórias na mesma velocidade verificada em países como Estados Unidos, União Europeia e México”, afirmou. De acordo com a entidade, cerca de R$ 2,5 bilhões em investimentos já foram suspensos e aproximadamente cinco mil postos de trabalho foram fechados no setor.

O consumo aparente de aço no país, por outro lado, deve crescer cerca de 1% em 2026, atingindo 27 milhões de toneladas. Para o setor, o problema não é a falta de demanda, mas o fato de que boa parte desse crescimento tende a ser absorvida por produtos importados. “É um nível historicamente forte de consumo, mas cerca de 6,3 milhões de toneladas devem ser importadas dentro de um mercado doméstico que consome pouco mais de 20 milhões de toneladas”, disse Johannpeter, defendendo medidas mais eficazes de defesa comercial.

Desde 2024, o governo brasileiro adotou um sistema de cotas com tarifa para conter o avanço das importações, mecanismo renovado em 2025. Para os executivos do setor, a medida ajuda, mas está longe de resolver o problema. O modelo atual, classificado como “cota flexível”, eleva a tarifa de importação de cerca de 12,7% para 25% quando o volume estipulado é ultrapassado, mas não impede a continuidade das entradas. A avaliação da indústria é que o sistema é excessivamente generoso, ao considerar a média de importações entre 2020 e 2022 acrescida de 30%.

Na agenda prioritária para 2026, o Aço Brasil defende o endurecimento do modelo, com a adoção de cotas rígidas — que suspenderiam automaticamente as importações ao atingir o limite —, elevação das tarifas para patamares próximos de 35%, aplicação mais célere de medidas antidumping, salvaguardas comerciais, mecanismos de ajuste de carbono na fronteira e exigências de conteúdo local em setores intensivos em aço, como veículos, construção e máquinas.

Outro ponto de preocupação é o baixo nível da tarifa efetiva brasileira, estimada em apenas 7,2% quando considerados regimes especiais, acordos comerciais e isenções. Esse patamar é visto como incompatível com o cenário internacional, em que diversos países vêm adotando tarifas entre 35% e 50% para proteger suas indústrias. O recente anúncio do México, que elevou tarifas de até 35% para produtos siderúrgicos com o objetivo declarado de evitar a perda de até 320 mil empregos, foi citado como exemplo de uma postura mais firme.

A pressão tende a aumentar com o redirecionamento do aço global. Com Estados Unidos e União Europeia elevando barreiras — em alguns casos com tarifas entre 50% e 70% —, o excesso de produção mundial, estimado em 620 milhões de toneladas e projetado para alcançar 721 milhões até 2027, busca mercados mais abertos. Nesse contexto, o Brasil aparece como um destino natural.

A China permanece no centro das preocupações. Segundo o Aço Brasil, siderúrgicas chinesas operam com margens negativas e seguem sustentadas por subsídios estatais, como crédito favorecido, incentivos fiscais, energia subsidiada e regras trabalhistas assimétricas. Além disso, o anúncio de que Pequim passará a exigir licenças para exportação de aço a partir de janeiro de 2026 adiciona incertezas sobre volumes e padrões de qualidade.

Apesar do ambiente adverso, a indústria afirma manter diálogo construtivo com o governo brasileiro e demonstra cauteloso otimismo quanto ao fortalecimento da defesa comercial. Ao mesmo tempo, observa com atenção as negociações com os Estados Unidos para a possível retomada do acordo de cotas que, por seis anos, permitiu a exportação de semiacabados brasileiros ao mercado norte-americano com tarifa zero.

Para o setor, o alerta é claro: sem uma resposta mais firme e alinhada ao cenário internacional, o crescimento do consumo interno continuará beneficiando majoritariamente o aço importado, aprofundando a perda de competitividade da indústria nacional, com impactos diretos sobre empregos, investimentos e a própria capacidade produtiva do país.

Compartilhe esse artigo

Açogiga Indústrias Mecânicas

A AÇOGIGA é referência no setor metalmecânico, reconhecida por sua estrutura robusta e pela versatilidade de suas operações.
Últimas Notícias