Acordo comercial Mercosul-Japão pode avançar, diz diplomata japonês

O governo japonês está empenhado em viabilizar um acordo comercial com o Mercosul, disse ao Valor o diretor da divisão da América do Sul do Ministério de Relações Exteriores do Japão, Ryo Kuroishi. Segundo o diplomata, a iniciativa tem potencial de gerar benefícios econômicos para todos os envolvidos.

Kuroishi afirmou que há interesse crescente do setor privado japonês em ampliar as exportações para os países do bloco sul-americano, o que reforça a importância de avançar nas negociações. Ele admitiu, no entanto, que o setor agrícola japonês ainda se mantém conservador e protecionista em razão da concorrência com os produtos agrícolas exportados por países da região.

Ele avalia, porém, que o debate interno no Japão sobre o tema tem evoluído e que o país estaria mais preparado para iniciar formalmente as tratativas de um acordo. Embora evite um tom otimista, o diplomata diz que as condições políticas e econômicas estão mais favoráveis para um avanço concreto.

Procurado para falar do tema, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil não respondeu até a conclusão desta edição.

“Minha impressão é que eles [o setor produtivo japonês] estão agora muito mais preparados para uma possível negociação. Não quero ser muito otimista, mas acho que estamos bem próximos de um possível início da negociação de um acordo de livre-comércio e estamos trabalhando duro nisso”, afirmou ao Valor.

Questionado se a eleição da primeira-ministra Sanae Takaichi, primeira mulher a ocupar o cargo, pode interferir nas negociações, Kuroishi ponderou que Takaichi é considerada conservadora no contexto das relações com países asiáticos, como a China, onde persistem divergências históricas e políticas. Segundo o diplomata, a postura de Takaichi não afeta a política econômica internacional do país: “Quando se trata de política econômica internacional, ela é bastante aberta e defende o livre-comércio”.

Kuroishi ressaltou que o Brasil é um dos parceiros mais importantes do Japão na América Latina. Este ano, os países celebram 130 anos de relações diplomáticas. Em 2024, o comércio entre Brasil e Japão somou US$ 11 bilhões, a 11ª posição no ranking da corrente comercial (soma de exportações e importações) de países com o Brasil.

De acordo com o diplomata, o Japão acompanha de perto o acordo entre o Mercosul e a União Europeia (UE). As diretrizes podem servir de referência e estímulo para uma futura negociação entre Tóquio e o bloco sul-americano. “Estamos estudando o conteúdo do acordo entre o Mercosul e a União Europeia. Então, sim, acho que isso também pode ser um incentivo para um possível acordo”, disse.

O diplomata japonês ressaltou que Japão e Mercosul discutem há cerca de duas décadas a possibilidade de firmar um acordo de parceria econômica ou tratado de livre-comércio. Segundo ele, os envolvidos decidiram dar um novo impulso às tratativas com a criação de uma Estrutura de Parceria Estratégica, que deverá ser lançada ainda neste ano.

A iniciativa, disse Kuroishi, tem como objetivo abrir caminho para negociações formais de um futuro acordo de livre-comércio entre o Japão, o Brasil e os demais países do bloco sul-americano. O governo japonês avalia que o instrumento pode servir como base institucional e política para aprofundar o diálogo econômico entre as partes. “Queremos que esse instrumento possa, futuramente, levar ao início das negociações de um acordo de livre comércio”, afirmou.

Sobre a importação de carne brasileira, Kuroishi afirmou que o tema tem avançado desde a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Japão, em março deste ano. Segundo ele, após o encontro, especialistas e cientistas japoneses foram enviados ao Brasil e os dois países têm mantido consultas técnicas regulares para cumprir as etapas exigidas no processo de reabertura do mercado japonês.

O diplomata explicou que, embora ainda faltem algumas etapas, o processo está em andamento e o governo japonês pretende concluir as análises científicas e suspender as restrições assim que possível. “Estamos acompanhando a consulta científica e queremos tentar concluir todas as etapas e suspender a restrição o mais rápido possível.”

Ele destacou, no entanto, que a questão envolve critérios sanitários rigorosos, uma vez que o Japão já enfrentou surtos de doenças animais no passado e mantém uma política cautelosa quanto à importação de carne estrangeira.

De acordo com Kuroishi, o Ministério da Agricultura do Japão conduz uma avaliação científica detalhada para garantir que a carne brasileira esteja em conformidade com os padrões de segurança e regulamentações japonesas. O diplomata reconheceu que o processo é demorado, mas reforçou que há disposição do governo japonês em avançar no tema.

A poucos dias da COP30, o governo japonês ainda avalia o convite do Brasil para participar do TFFF (Fundo Florestas Tropicais para Sempre), que será lançado na conferência de Belém, informou Kuroishi.

De acordo com o diplomata, o Japão espera estar entre os países fundadores da iniciativa, mas discute internamente a forma de participação no projeto. Kuroishi ponderou que o curto prazo até a conferência pode limitar o anúncio de compromissos concretos no evento. A primeira-ministra Sanae Takaichi não deve participar do encontro no Brasil.

“Não tenho certeza se podemos nos comprometer com algo muito concreto. Mas, como postura política, acho que podemos apoiar a ideia”, disse.

O diplomata lembrou ainda que a Parceria Global Verde, firmada entre Brasil e Japão, é um dos principais eixos da cooperação bilateral na área ambiental. Segundo ele, o programa tem permitido avanços conjuntos nas áreas de mudança climática e ambiente, consolidando o diálogo entre os dois países em torno da transição energética e da economia sustentável.

Entre os projetos em andamento, Kuroishi mencionou a colaboração japonesa em ações de recuperação de áreas degradadas na Amazônia por meio do Fundo Amazônia, administrado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O Japão se tornou, no ano passado, o primeiro país asiático a apoiar a iniciativa.

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