
Apesar de um certo pessimismo que prevaleceu no mercado nos últimos anos em relação ao potencial remanescente do pré-sal brasileiro, o governo federal e especialistas ouvidos pela BNamericas creem em novas descobertas comerciais na região – ainda que de menor porte que os campos gigantes encontrados na primeira década deste século.
Na quarta-feira (1º de outubro), o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) aprovou resolução que autoriza a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) a licitar os blocos Calcita, Dolomita e Azurita, sob o regime de partilha de produção, no sistema de oferta permanente. A expectativa de arrecadação é de R$719 milhões US$134,5mi) em bônus de assinatura e de R$167 bilhões para a União ao longo da vida útil dos projetos.
Os novos blocos se somam a outros 15 previamente aprovados pelo CNPE. Agora, é necessário aguardar a emissão dos pareceres ambientais do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) para disponibilizar os 18 blocos no 4º ciclo da oferta permanente de partilha, em 2026.
Além disso, em 22 de outubro será realizada a oferta pública do 3º ciclo da oferta permanente de partilha, com sete ativos exploratórios: Esmeralda, Ametista, Citrino, Itaimbezinho, Ônix, Larimar e Jaspe. A previsão de arrecadação é de R$161,5mi em bônus de assinatura, de R$436,7bi em investimentos e de R$368,2bi em arrecadação governamental.
O geólogo e fundador da ZAG Consultoria, Pedro Zalán, acredita que, afora casos mais excepcionais, como Bumerangue – onde a BP fez uma descoberta recentemente – a tendência geral é de descoberta de campos de médio porte, com até centenas de milhões de barris em reservas recuperáveis.
“Os blocos que estão sendo ofertados pela ANP oferecem essa oportunidade, e a infraestrutura existente facilita ainda mais o aproveitamento comercial”, disse à BNamericas, ressaltando que há também potencial além da Zona Econômica Exclusiva (ZEE).
“O pré-sal ainda vai ser a nossa ‘vaca leiteira’ durante muito tempo”, afirmou Zalán, que considera Ametista, Larimar, Citrino e Esmeralda os melhores blocos do próximo leilão.
Para Marcelo de Assis, sócio da consultoria MA2Energy, os blocos mais promissores do pré-sal hoje são Aram e Bumerangue, que já estão contratados e têm descobertas em avaliação pela Petrobras e BP, respectivamente.
“Talvez Alto de Cabo Frio Central, que também está em avaliação, possa ter algum potencial”, disse Assis à BNamericas.
Em relação a Calcita, Dolomita e Azurita, ele ponderou que, se fossem especialmente atrativos, teriam sido ofertados nas primeiras rodadas do pré-sal. “São formações menores”, disse.
Assis é menos otimista que Zalán em relação ao potencial além das 200 milhas náuticas (ZEE), devido a questões regulatórias referentes ao uso de águas internacionais e a desafios logísticos.
“Repare que ninguém mais fica mencionando a expressão de ‘espelho do pré-sal’ para as áreas além da ZEE [Zona Econômica Exclusiva]”, pontuou o consultor.
O consultor ressaltou que, caso venha a ser confirmada uma descoberta muito significativa em Bumerangue, áreas adjacentes poderão ser reexaminadas.
“Apesar de eu, pessoalmente, ter ressalvas sobre Bumerangue, essa descoberta foi uma notícia positiva para o pré-sal. Ultimamente as atenções estavam basicamente voltadas para Pelotas e Foz do Amazonas”, disse o consultor.
“O Brasil e a Petrobras precisam aumentar as reservas, pois a transição energética vai ser mais longa do que o esperado, tendo em vista a falta de acordos e coordenação política internacional”, concluiu Assis.
Para Flávio Menten analista sênior de upstream da Rystad Energy, o pré-sal voltou aos holofotes após a BP anunciar, na bacia de Santos, sua maior descoberta em 25 anos, trazendo de volta um tom otimista para o mercado.
“Além disso, contratos de partilha com lucro em óleo mais atrativos, como vimos nos leilões de oferta permanente, reduzem o volume mínimo para tornar uma descoberta viável economicamente,” disse à BNamericas.
Baixa atividade exploratória
Francismar Ferreira, coordenador de pesquisas do Instituto de Estudos Estratégicos do Petróleo (Ineep), defende que o pré-sal segue como uma das regiões mais promissoras do país, destacando-se por taxas de sucesso exploratório superiores às observadas em outras bacias brasileiras.
No entanto, ele reconhece que a chance de novas descobertas de grandes reservatórios é cada vez mais limitada, em função de uma dinâmica natural: nas bacias sedimentares, os maiores reservatórios tendem a ser descobertos antes dos menores nas áreas adjacentes.
Citando dados da ANP, Ferreira ressaltou que apenas 22 poços exploratórios alcançaram o pré-sal entre 2020 e 2025 – um número baixo que reflete os investimentos reduzidos em exploração e limita o conhecimento do real potencial energético da região.
“Mesmo assim, os resultados são significativos: Em 17 desses poços, houve notificação de descobertas à ANP, reafirmando a importância energética e estratégica do pré-sal,” disse à BNamericas.
O especialista assinalou que a licitação de blocos de partilha sem a obrigatoriedade de participação da Petrobras como operadora tende a reduzir a presença estatal no pré-sal.
“Esse movimento pode ampliar o espaço de atuação de multinacionais, privadas ou estatais estrangeiras, sobre áreas estratégicas, o que pode gerar riscos à segurança energética nacional, uma vez que os interesses dessas empresas são múltiplos e nem sempre convergem com as necessidades do desenvolvimento do país,” avaliou Ferreira.