
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central fez, em comunicado divulgado nesta quarta-feira, sutis modificações na sua linguagem que garantem flexibilidade para cortar ou não os juros na reunião de janeiro, a depender da evolução do cenário econômico até lá.
Uma das mudanças foi deixar claro que sua estratégia de manutenção dos juros altos por bastante tempo é algo que já vem sendo empregado ao longo de suas reuniões e, portanto, tem efeitos que se acumulam ao longo do tempo.
O comitê fez isso ao acrescentar a expressão “em curso” no seguinte trecho do comunicado: “O Comitê avalia que a estratégia em curso, de manutenção do nível corrente da taxa de juros por período bastante prolongado, é adequada para assegurar a convergência da inflação à meta.”
Muitos analistas econômicos antecipavam que, para poder embarcar num ciclo de distensão monetária, o Copom teria que primeiro excluir da sua comunicação oficial a avaliação de que os juros precisam ficar em 15% ao ano por período bastante prolongado.
Dias antes do período de silêncio do Copom, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, já havia dito que uma eventual exclusão dessa frase não seria uma sinalização de que o passo seguinte imediato seria um corte na Selic.
“Não sei se a gente tem a necessidade ou obrigação de criar algum tipo de código dentro da comunicação do Banco Central que vá telegrafar quando o Banco Central vai fazer algo”, disse Galípolo, em um evento da XP.
Ele explicou, na ocasião, que a contagem de tempo não é zerada cada vez que o BC cita num comunicado que precisa manter os juros altos por um período prolongado. A expressão “em curso”, incluída no comunicado desta quarta, transmite essa ideia de continuidade.
No mesmo trecho, o Copom mudou outra palavra. Antes, dizia que a estratégia de manutenção de juros por bastante tempo é “suficiente”. Agora, passou a dizer que é “adequada”.
Essa mudança, aparentemente, foi necessária para o Copom evitar passar a ideia de que a dose de juros, que vem sendo aplicada há algum tempo, é suficiente. A palavra “suficiente” foi incluída na comunicação para o Copom num outro contexto, para dizer que concluíra que não precisaria mais subir a taxa básica de juros.
No contexto atual, em que enfatiza os efeitos acumulados ao longo do tempo da Selic elevada, poderia passar a ideia de que a dose de juros já é suficiente – o que levaria participantes do mercado a se perguntarem se o corte de juros estaria encaminhado para janeiro. O Copom escapa dessa armadilha ao dizer que a estratégia é adequada, sem deixar claro se considera que é o bastante.
O Copom, com essas sutis mudanças, vai tirando travas que poderiam impedir cortar os juros quando chegar a hora. Antes, já havia tirado da mesa a hipótese de alta de juros. Também retirou, na ata de sua reunião de novembro, a frase que fazia um vínculo mais direto entre expectativas de inflação desancoradas e manutenção dos juros altos por período bastante prolongado.
Assim, o comunicado do Copom deixa em aberto os seus passos seguintes, e a decisão que vai tomar dependerá fundamentalmente dos dados que forem divulgados. No documento, há alguns sinais encorajadores.
Um deles é a nova redução na projeção de inflação do Copom para o horizonte relevante de política monetária, ou seja, o prazo em que o colegiado se propõe a cumprir a meta. Em novembro, a projeção de inflação para os 12 meses encerrados em junho de 2027 havia caído de 3,4% para 3,3% e, agora, baixou para 3,2%. Ainda está acima da meta, mas a diferença vai se tornando cada vez menos significativa.
O mais importante, porém, é o contexto em que essa leve queda na projeção ocorre. Dias antes da reunião, Galípolo reconheceu que havia progressos na luta contra a inflação, porém mais lentos do que o Copom gostaria. Se a projeção caiu, não parece que a evolução é mais lenta do que o esperado.
Há também uma pequena melhora na avaliação mais qualitativa. Quando fala da desaceleração econômica, o comunicado cita o Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre, um indicador que não vinha entrando nos comunicados, pelo menos no passado mais recente.
O PIB saiu no período de silêncio do Copom, e houve uma baixa variação no consumo e nos serviços em relação ao trimestre anterior, ambos de 0,1%. Vai ser preciso esperar a ata do Copom e o Relatório de Política Monetária, ambos na semana que vem, para ter uma avaliação mais completa do colegiado sobre esse indicador.
Outra pequena diferença é que o Copom não disse que o mercado de trabalho mostra “dinamismo”, mas sim que mostra “resiliência”. É uma mudança de gradação que, no fim das contas, chama a atenção para como o mercado de trabalho se relaciona com a atividade econômica, que vai desacelerando.
São sinais do Copom na direção do corte de juros, mas muito contidos – sempre na linha de que o cenário caminha na direção certa, mas todos os passos não foram dados. A descrição ainda ambígua do cenário, junto com a comunicação que procura garantir flexibilidade para os próximos passos de política monetária, deixa em aberto o que o Copom vai fazer na sua próxima reunião, de janeiro.