A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) determinou que a Rumo Logística recoloque os trilhos retirados no trecho de Santa Tereza. A ordem vem após relatos de moradores e registros do grupo Aventureiros do TPS sobre o avanço do desmonte entre Santa Tereza, Alcântara, Jabuticaba, Coronel Salgado, Feitor Faé, São João e Silva Vargas.
Em situação similar, a ANTT aplicou multa de R$ 2,1 milhões à Rumo Malha Oeste por dilapidar patrimônio público no Mato Grosso do Sul. No RS, a agência e o Ministério Público Federal recomendaram a suspensão imediata das retiradas e a reposição integral do material.
A remoção dos trilhos ocorre em um cenário de décadas sem investimentos. A Malha Sul foi concedida em 1997 e, desde então, não recebeu modernização estrutural. Trilhos antigos, ausência de manutenção, locomotivas obsoletas e baixa frequência de viagens tornaram o modal irrelevante.
Depois das inundações de 2023 e do ano passado, a situação piorou. A operação de combustíveis e metais foi encerrada devido aos danos da ferrovia. A concessão vence em 2027. O governo federal apresenta em janeiro o estudo para recuperação do modal no RS.
Modelo proposto é rejeitado pelos estados
Um pré-estudo do governo federal dividia a Malha Sul em três corredores logísticos — Paraná, Gaúcho e São Paulo–Uruguaiana — com novos leilões previstos para 2026. A proposta foi rejeitada pelos estados do Sul.
“Não aceitamos o fatiamento da malha. Fragmentar só fragiliza mais. Precisamos de uma nova ferrovia, não de mais sucateamento”, afirma o secretário adjunto de Transportes do RS, Clóvis Magalhães.
O RS possui mais de 3,6 mil quilômetros de trilhos. Apenas 921 km permaneciam ativos antes da tragédia climática. “O declínio não começou com a enchente. Veio da falta de investimentos da antiga ALL e depois da Rumo. Nossa capacidade logística foi reduzida ao mínimo”, diz Magalhães.
Trem dos Vales
Em paralelo ao impasse sobre a Malha Sul, a Associação dos Municípios de Turismo da Região dos Vales (Amturvales) espera o começo da reforma de 16 quilômetros do trecho entre Muçum e Vespasiano Corrêa ainda neste mês. A etapa corresponde à parte inicial do traçado que inclui o Viaduto 13.
O presidente, Rafael Fontana, confirma que enviou a documentação complementar solicitada pelo governo do Estado. “Se estiver tudo certo, assinamos o convênio e iniciamos a recuperação no dia 26”, afirma.
Segundo ele, a estratégia é iniciar pelo trecho mais viável enquanto se discute o restante da ferrovia. “Precisamos de algo concreto. Recuperar esses primeiros quilômetros ajuda a arrefecer os ânimos e devolve perspectiva ao setor do turismo.”
Entre 2019 e 2023, o Trem dos Vales atraiu mais de 112 mil passageiros, com oferta em mais de 200 agências de viagem nos três estados do Sul.
O que diz a lei?
A Resolução ANTT nº 5.945/2021 determina que nenhum trecho pode ser desativado sem:
requerimento formal da concessionária;
comunicação aos municípios afetados;
análise técnica da ANTT;
deliberação da diretoria colegiada;
portaria de desvinculação dos bens.