
A Argentina decidiu colocar à venda a operação de sua principal rede ferroviária de cargas, com o objetivo de modernizar a infraestrutura e reduzir drasticamente os custos de transporte para grãos e minerais. A expectativa do governo é de que a iniciativa ajude a transformar o modal ferroviário em um motor de crescimento para exportações estratégicas como soja, milho, cobre e lítio — e também viabilize o escoamento eficiente de recursos de regiões remotas até os portos.
O plano de privatização abrange a rede conhecida como Belgrano Cargas, que representa as três maiores linhas de transporte ferroviário de carga do país. A licitação está prevista para o início do próximo ano. Paralelamente, o governo pretende modernizar trechos degradados e reativar trechos atualmente paralisados, abrindo caminho para a expansão da produção agrícola e mineral, especialmente em áreas distantes dos centros tradicionais de escoamento.
Com a renovação da ferrovia, espera-se que os custos de frete sejam reduzidos pela metade para quem exporta grãos ou minérios a partir de regiões do interior e do norte argentino. Isso poderia tornar competitiva a produção de regiões mais remotas — fazendo com que a distância em relação aos portos deixe de ser um obstáculo para os preços e a viabilidade econômica das colheitas e extrações.
A modernização não se restringe à infraestrutura. A proposta inclui concessões privadas para operação de trens, manutenção de linhas, reconstrução de vias degradadas e reativação de trechos parados. Há interesse de grandes operadores internacionais e de empresas do setor agrícola e minerador em disputar a concessão, o que atrai projeções de investimentos bilionários e de longo prazo.
Para os setores de agronegócio e mineração, a mudança representa uma oportunidade estratégica de grande amplitude. A lógica é clara: com transporte mais barato e eficiente, regiões até então pouco competitivas podem ganhar nova vida econômica — estimulando expansão da produção, atraindo investimentos e impulsionando exportações. No caso da mineração, o escoamento de minérios que exigem logística pesada também se beneficiaria, abrindo espaço para crescimento nesta frente.
Mas o desafio é expressivo. A ferrovia foi alvo de sucessivos anos de abandono e subinvestimento. A malha ferroviária hoje transporta volumes muito inferiores aos de décadas atrás, mesmo em um cenário em que a produção agrícola chegou a crescer várias vezes. Corrigir esse legado exigirá investimentos pesados, reabilitação de trilhos, modernização de terminais e garantia de segurança nas operações — fatores essenciais para reconquistar a confiança de produtores e exportadores.
Enquanto isso, o governo coloca grande parte de suas fichas nessa aposta: se bem-sucedida, a privatização da Belgrano Cargas poderia transformar o transporte ferroviário de cargas na espinha dorsal da competitividade argentina no agronegócio e na mineração, reduzindo custos, fortalecendo as exportações e ampliando o desenvolvimento de regiões historicamente periféricas. O sucesso, no entanto, dependerá de investimentos concretos, fiscalização eficiente e capacidade de articulação entre Estado, iniciativa privada e setor produtivo para transformar intenções em resultados.