
A gigante australiana BHP quer recolocar o Brasil no centro de sua estratégia global. O presidente da companhia no país, Emir Calluf, afirmou nesta quarta-feira (22) que a mineradora pretende “destravar valor” em território brasileiro e consolidar sua presença nos chamados “minerais do futuro” — insumos essenciais para a transição energética mundial.
“Nossa estratégia é destravar valor no Brasil para a BHP e, junto com isso, incentivar todo o setor mineral. Acho que a gente precisa mudar um pouco o jogo, ser um player global relevante nesse cenário”, disse Calluf durante a abertura do Invest Mining Summit 2025, evento que reuniu representantes de grandes mineradoras, investidores e autoridades do setor.
Segundo o executivo, dois avanços recentes pavimentaram o caminho para essa nova fase: o acordo de reparação e compensação pelo rompimento da barragem de Mariana (MG), firmado com o governo federal, e o retorno das operações da Samarco, joint venture com a Vale, paralisada desde o desastre de 2015. Com esses capítulos encaminhados, a BHP volta a mirar projetos de expansão e novos investimentos no país.
Os “minerais do futuro” mencionados por Calluf — cobre, minério de ferro e potássio — são vistos como estratégicos para sustentar a descarbonização da economia global. O cobre, por exemplo, é considerado o “minério da eletrificação”, fundamental para redes elétricas, veículos elétricos e sistemas de energia renovável. “A gente vai ter que estar preparado com investimentos pesados, não só na infraestrutura energética, mas nos minerais que suportam essa estrutura”, destacou.
O executivo alertou, no entanto, que o cenário é desafiador. As novas descobertas de minas no mundo apresentam teores cada vez mais baixos, enquanto a demanda global de cobre deve dobrar até 2050, segundo estimativas da própria BHP. Além disso, a escassez de água — um insumo crítico na mineração — se torna um obstáculo cada vez mais recorrente para a expansão sustentável das operações.
Em nível global, a companhia também enfrenta um ambiente de negociações sensível. O presidente do grupo, Ross McEwan, confirmou que as tratativas anuais com a China sobre os preços do minério de ferro estão em andamento. Apesar de rumores sobre impasses com a compradora estatal chinesa, McEwan afirmou que a BHP mantém “um relacionamento muito bom” com seus clientes no país, principal destino das exportações australianas.
As conversas ocorrem em um momento em que siderúrgicas chinesas pressionam grandes mineradoras a realizar mais transações em yuan, e não em dólar. A BHP, que ainda efetua mais de 90% das vendas na moeda americana, reconhece que parte das negociações nos portos chineses já é feita em yuan — prática considerada “comum no setor”, segundo o diretor-presidente Mike Henry.
A movimentação global e regional da BHP reflete o novo eixo de atuação da mineradora: combinar estabilidade comercial e expansão sustentável com um portfólio voltado à transição energética. Para o Brasil, isso significa a possibilidade de atrair investimentos bilionários em cobre e potássio — e, ao mesmo tempo, reposicionar o país como um ator relevante na nova geopolítica dos recursos naturais.