A Bionow, uma joint venture entre a mineradora Vale e a fabricante de celulose Cenibra voltada para a produção de biocarbono de alta densidade, fará um investimento superior a R$ 100 milhões para implantar sua fábrica em São Gonçalo do Rio Abaixo, na região Central de Minas Gerais. Este será o maior aporte de um empreendimento do setor privado na cidade após a inauguração da Mina Brucutu, da Vale.
A previsão é que as obras comecem no início do próximo ano e a unidade entre em operação em 2027. Os projetos de engenharia da planta já foram concluídos e a ordem de serviço para as obras de parte da prefeitura são-gonçalense deverá ser emitida nos próximos dias.
Criada pela Vale em 2022, a Bionow teve 49,9% do capital social adquirido pela Cenibra neste mês. A maior parte do capital permanece com a Vale. A startup desenvolve soluções de biocarbono com foco na descarbonização da siderurgia.
O produto é obtido na carbonização da biomassa, ou seja, com emissão zero, e surge como alternativa sustentável ao carvão mineral e ao gás natural na cadeia siderúrgica. Os combustíveis fósseis são consumidos no processo de queima da pelota, aglomerado de minério de ferro utilizado na produção de aço.
O biocarbono de alta densidade produzido pela Bionow no interior mineiro será desenvolvido principalmente a partir de eucalipto fornecido pela Cenibra. A matéria-prima será certificada pelo Forest Stewardship Council (FSC), sistema internacional de certificação florestal.
Local de uma das maiores minas de minério de ferro da Vale, o município da região central do estado vê na nova fábrica uma oportunidade de transformar sua economia e reduzir sua dependência da exploração mineral.
A prefeitura de São Gonçalo do Rio Abaixo criou um programa de desenvolvimento econômico, o Prospera+, com incentivos fiscais, cessão de áreas, obras de infraestrutura logística e qualificação profissional, entre outras medidas, para atrair investimentos, empresas de diversos ramos e preparar a mão de obra local para setores emergentes.
O poder executivo municipal assinou, no mês passado, um memorando de entendimento com a Vale e a Cenibra para a instalação da fábrica da Bionow. O secretário de desenvolvimento econômico da prefeitura são-gonçalense, Gabriel Quintão, explica que o executivo municipal realizou a preparação do terreno e os projetos da planta em conjunto com a startup.
A assinatura do termo de compromisso para a implantação da unidade depende ainda da aprovação da operação entre as gigantes da mineração e da celulose no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), algo que o poder público espera que aconteça entre dezembro deste ano e janeiro de 2026.
“O plano de diversificação econômica do Prospera+ mapeou vocações do município e, dentro dessas vocações, uma delas é a indústria química, da biotecnologia. E nós temos trabalhado muito na atração de empresas nesse sentido”, declarou Quintão.
Em fevereiro de 2026, deverá ser concluída a instalação da Unidade do Parque Tecnológico Distribuído do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG) na cidade. O secretário explica que a construção da unidade do IFMG vem sendo pensada para uma formação profissional que, entre outros segmentos, tenha a Bionow em vista.
“Nossa intenção é, mais do que ter a empresa no nosso território, é gerar mão de obra qualificada para ela, reter mão de obra qualificada no município e também ser um território que possa trabalhar com pesquisa, inovação, biotecnologia e sustentabilidade”, disse Quintão.
“Na cidade tem uma mineração de grande porte, que é a Vale, e minério, como é dito por muitas lideranças, autoridades, não dá duas safras”, declarou o prefeito de São Gonçalo do Rio Abaixo, Raimundo Nonato de Barcelos (PDT). “Eu concordo, mas se você fizer um bom uso do dinheiro na hora que a mineração está puxando a economia da cidade, você colhe a segunda safra até mesmo antes da primeira acabar”, completa.