O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) dispõe hoje de mais de R$ 1 bilhão em programas de restauração florestal com recursos não reembolsáveis e uma linha de crédito com juros de 1% ao ano. Alguns programas também oferecem parceria com a Petrobras para unir a oferta e a demanda de capital para projetos de reflorestamento que geram créditos de carbono.
“Consideramos a agenda de restauro florestal e nativas como estratégica para o país. Não é só o compromisso que assumimos com relação aos 12 milhões de hectares que está no Planaveg (Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa), mas a possibilidade de o Brasil se tornar a principal referência mundial em resgate florestal. É com esse farol que estamos trabalhando”, afirma a diretora Socioambiental do BNDES, Tereza Campello, ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
Segundo ela, a atividade de restauração deve ser encarada como a mais promissora ferramenta global de captura de carbono. Não por acaso é crescente a procura de investidores por projetos de geração de crédito de carbono. O país possui grandes áreas passíveis de serem reflorestadas e que não se resumem à Amazônia e à Mata Atlântica. “Ninguém tem o potencial que o Brasil tem, do ponto de vista territorial, para restauro. Você plantar uma árvore aqui ou plantar no Canadá é completamente diferente. A curva de crescimento aqui é outra”, diz Campello.
Duas formas de reflorestamento avançam em paralelo. A restauração ecológica é voltada para a recomposição da estrutura, funções e biodiversidade dos ecossistemas, priorizando espécies nativas e áreas sensíveis, como Áreas de Preservação Permanente (APPs) e corredores ecológicos. Já a restauração produtiva busca conciliar a recuperação ambiental com a geração de renda e o uso de sistemas agroflorestais, Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), silvicultura de espécies nativas e cadeias de produtos não madeireiros, como cacau e açaí. Diretrizes como o Planaveg 2025-2028 tentam integrar as agendas.
Há possibilidade de restauro na Caatinga, no Pantanal e no Cerrado, com grandes potenciais de captura de carbono e geração de crédito. O Cerrado é um dos biomas que abrem mais possibilidades. “Ele é como uma floresta invertida. Você olha a árvore, que parece um arbustinho, e debaixo dela tem uma raiz profunda, gigantesca, muito maior do que a copa, e aquilo é carbono tanto quanto as folhas”, explica Campello.
O banco estruturou diferentes programas para impulsionar a restauração florestal combinando recursos reembolsáveis e não reembolsáveis. Entre os principais, o Floresta Viva 1 reservou R$ 460 milhões a projetos de restauração, com recursos não reembolsáveis e aporte conjunto de empresas privadas e governos em modelo de matchfunding. Em 2025, foi lançado o Floresta Viva 2, com R$ 100 milhões, também seguindo a lógica de parceria público-privada, podendo alcançar R$ 250 milhões, a depender do interesse de parceiros.
Além disso, o BNDES opera o Restaura Amazônia, linha do Fundo Amazônia com R$ 450 milhões voltados especificamente à recuperação de áreas na Amazônia Legal, integrando ações de larga escala e participação de comunidades locais. Com a parceria da Petrobras, que destinou R$ 50 milhões em apoio, a iniciativa alcançou R$ 500 milhões que já foram disponibilizados por meio de editais lançados entre novembro de 2024 e setembro de 2025.
No campo dos financiamentos reembolsáveis, o principal instrumento é o Fundo Clima, que oferece crédito para restauração com custo financeiro de 1% ao ano, taxa de juros real negativa, considerando a inflação nos últimos anos. Desde janeiro de 2023, foram aprovados R$ 865 milhões de crédito para o setor florestal, com recursos do Fundo Clima e da linha FINEM Meio Ambiente, para oito operações em segmentos como restauração ecológica, restauração produtiva, parques naturais, manejo sustentável e silvicultura.
Em parceria com a Petrobras, o BNDES lançou ainda o programa Pró-Floresta, que une quem vende e quem quer comprar créditos de carbono. “Juntamos as duas pontas e fizemos uma solução completa. Isso vai se tornar referência. Vamos ter um contrato conhecido e um preço conhecido pela primeira vez. Estamos trazendo para a mesa condições que vão ajudar o mercado a ter referências”, diz Campello.
A ideia, diz ela, é replicar no setor florestal a lógica dos leilões de energia renovável que ajudaram a consolidar esse mercado no Brasil. “Vamos organizar leilões em que a Petrobras, como compradora, assume um contrato público de longo prazo, e o BNDES entra como financiador, usando o próprio contrato como garantia. Isso é revolucionário.”
Em nota, o Ministério do Meio Ambiente afirma que os recursos disponibilizados pelo BNDES são um avanço, mas é necessário diversificar as fontes. O governo federal trabalha para estruturar mecanismos voltados para bioeconomia, mercados de carbono e instrumentos de “blended finance”, que permitem mitigar riscos e alavancar capital privado. Em paralelo, estão em curso negociações com bancos multilaterais, fundos ambientais e investidores institucionais para ampliar os aportes.