O Ministério da Agricultura (Mapa) concedeu autorização oficial para que a escória de aço produzida pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) seja utilizada como matéria-prima na fabricação de insumos agrícolas destinados à correção da acidez do solo. A decisão abre um novo canal de uso para o coproduto siderúrgico, tradicionalmente empregado em setores como construção civil e pavimentação.
A aprovação foi emitida na quarta-feira, 19 de novembro, após uma avaliação técnica do Mapa que considerou a composição química do material, sua segurança e sua capacidade de neutralização. Com o registro, a escória poderá ser aplicada em propriedades rurais de todo o país, integrando formulações agrícolas voltadas ao ajuste do pH do solo.
A medida chega dois dias depois da divulgação de resultados preliminares de um experimento de campo conduzido nos Estados Unidos. O estudo apresentou evidências geoquímicas diretas de que a aplicação de escória siderúrgica em solos inicialmente ácidos aumentou o pH e a alcalinidade da água nos poros do solo, além de elevar o pH e a saturação por cálcio do próprio solo. Os autores interpretam essas alterações como sinais consistentes de intemperismo acelerado de rochas (ERW, na sigla em inglês) em condições reais.
No registro emitido pelo Mapa, o agregado da CSN não é classificado como fertilizante pronto para uso, mas como matéria-prima destinada à composição de produtos corretivos de acidez. Essa distinção permite que o material seja incorporado a diversos tipos de insumos agrícolas voltados à melhoria da qualidade química do solo, ampliando o alcance comercial da CSN para além de seus mercados tradicionais.
A aprovação regulatória ocorre também em um momento de atenção pública às práticas da empresa relacionadas à gestão de escória. No início de outubro, procuradores federais apresentaram uma ação ambiental questionando depósitos históricos de resíduos em Volta Redonda, no estado do Rio de Janeiro.
Com a nova classificação agrícola, a CSN passa a ter a oportunidade de redirecionar parte de sua produção para o agronegócio, ao mesmo tempo em que o setor rural ganha acesso a uma alternativa adicional para correção de solos ácidos — um dos maiores desafios da agricultura brasileira.