
O governo brasileiro busca destravar os contratos de concessão de duas ferrovias de carga que, juntas, devem gerar investimentos de cerca de R$30 bilhões (bi) (US$5,6 bi).
Os investimentos se referem aos projetos EF-118, ferrovia planejada para ligar o Espírito Santo ao Rio de Janeiro, e a EF-170, conhecida como Ferrogrão, que pretende conectar Mato Grosso ao Pará.
“A despeito de desafios existentes, acredito ser realista termos avanço na oferta dos contratos dessas duas ferrovias ao longo de 2026,” afirmou Vicente Abate, presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer), à BNamericas.
O plano mais avançado é o da concessão da EF-118. A ferrovia, com 575km, conectará Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, a Santa Leopoldina, no Espírito Santo, integrando a malha ferroviária do Sudeste e ampliando o acesso a terminais portuários estratégicos.
O governo planeja ofertar o contrato no primeiro semestre de 2026 e atualmente avalia um modelo de concessão que contará com aporte público, segundo um oficial consultado pela BNamericas.
O modelo em análise é o de concessão patrocinada, no qual o governo arca com parte dos investimentos e a concessionária vencedora do leilão assume o restante. O capex previsto para a EF-118 é de R$4,6bi.
Do lado do governo, os aportes devem vir de acordos fechados com a mineradora Vale e com as operadoras de logística MRS e Rumo, referentes às renovações antecipadas de outras concessões ferroviárias, que incluíram pagamentos compensatórios à União.
“A EF-118 é uma ferrovia estruturante, com capacidade para transportar minério de ferro, produtos ligados à cadeia de óleo e gás e grãos. Com esse tipo de demanda, potenciais interessados no contrato podem ser a Vale, as empresas de logística MRS e VLI, além de empresas de trading que atuam no segmento de commodities em geral”, disse Abate.
Outro contrato que pode ser leiloado ao longo de 2026 é o da Ferrogrão, cujo capex está estimado em R$25,2bi.
O traçado previsto liga Sinop, no Mato Grosso a Itaituba, no Pará. No entanto, o projeto enfrenta obstáculos relevantes.
Em outubro, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu por tempo indeterminado um julgamento que poderia viabilizar a construção da ferrovia. O julgamento do STF trata de uma liminar emitida em 2021 a partir de pedido do partido PSOL, que questiona um estudo de 2016 sobre a concessão da ferrovia de 933km, alegando impactos ambientais.
Atualmente, o governo federal, por meio do ministério dos transportes, está em diálogo com o STF para retomar o julgamento, na tentativa de avançar com o leilão.
Além das questões ambientais, executivos do setor afirmam que há pressões contrárias ao projeto, já que a Ferrogrão poderia competir logisticamente com ferrovias operadas pela empresa de logística Rumo.
Nos últimos anos, o governo brasileiro tem avançado com concessões e PPPs em segmentos como saneamento e rodovias.
No caso das ferrovias de carga, porém, o progresso tem sido mais lento, devido a entraves de licenciamento e desafios de financiamento.
Diferentemente do setor de rodovias, investidores privados mostram resistência aos projetos de ferrovias de carga, pois a geração de caixa ocorre apenas após a conclusão total das obras, ampliando o prazo de retorno. Por isso, o governo federal vem desenvolvendo modelos em que assume parte dos investimentos iniciais e trechos de maior complexidade regulatória.
Mobilidade urbana
Em paralelo, o segmento de trens de passageiros continua avançando mais rapidamente, especialmente no estado de São Paulo.
Nesta semana, o governo paulista autorizou o repasse de quase R$350 milhões (mi) à Companhia do Metropolitano de São Paulo – Metrô, destinados à expansão da rede. Desse total, cerca de R$160mi serão aplicados na Linha 2–Verde e R$90mi na Linha 15–Prata.