Brasil mira o futuro da mineração: investimentos em terras raras e minerais críticos marcam nova corrida por soberania e inovação

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O Brasil se prepara para uma nova corrida mineral. Com a transição energética no horizonte e a demanda global por minerais críticos em alta, o setor de mineração nacional vive um momento de expansão e redefinição estratégica. Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) apontam que o país deverá receber US$ 68,4 bilhões em investimentos entre 2025 e 2029, sendo US$ 18,45 bilhões voltados a minerais críticos e estratégicos — substâncias essenciais para tecnologias de ponta, defesa, agricultura e energia limpa.

Entre eles, as terras raras despontam como protagonistas. A previsão é de que esses minerais recebam US$ 2,17 bilhões em aportes até 2029, um salto de 49% em relação ao ciclo anterior (2024–2028). O movimento recoloca o Brasil — dono da segunda maior reserva mundial de terras raras, atrás apenas da China — no mapa global da mineração tecnológica.

“Com relação aos minerais críticos estratégicos, não tenho a menor dúvida de que isso está decolando e vai decolar muito mais”, afirmou Raul Jungmann, diretor-presidente do Ibram. Ele lembra que o avanço global rumo a uma economia de baixo carbono passa, inevitavelmente, por uma base mineral sólida. “Não há possibilidade de transição energética sem minerais críticos e estratégicos”, reforçou.

Mineração em expansão e recorde de faturamento

O terceiro trimestre de 2025 consolidou a força do setor mineral brasileiro. O faturamento chegou a R$ 76,2 bilhões, alta de 34% em relação ao mesmo período do ano anterior. O minério de ferro continua sendo o carro-chefe — responsável por 52% da receita, somando R$ 39,8 bilhões.

As exportações também seguiram aquecidas, com 121 milhões de toneladas de minérios embarcados, crescimento de 6,2%. A China manteve sua hegemonia como principal destino, absorvendo quase 70% das vendas externas.

Do lado das importações, o Brasil comprou US$ 2,5 bilhões em produtos minerais, principalmente potássio (57%), carvão mineral (24%) e enxofre (6%), com origem majoritária nos Estados Unidos, Rússia, Canadá e Austrália. Esses dados revelam que, apesar de sua riqueza mineral, o país ainda depende de insumos estratégicos para setores como a agroindústria e a geração de energia.

Minas Gerais e Pará: os gigantes do minério

No panorama estadual, Minas Gerais e Pará continuam dominando a mineração nacional. Minas respondeu por 39% do faturamento no terceiro trimestre, movimentando R$ 30 bilhões, enquanto o Pará contribuiu com 35% do total.

Em Minas, o resultado foi impulsionado pela alta produção de minério de ferro, beneficiada pelo período seco, e pela valorização do ouro, que atingiu média de US$ 3.455 por onça-troy, uma alta de quase 40% em relação a 2024. O estado também mantém liderança na produção de nióbio, mineral estratégico para a indústria de ligas metálicas e baterias avançadas.

“Essas substâncias estão no centro da discussão mundial sobre soberania e inovação. O Brasil é uma anomalia geológica: temos quase todos os minerais críticos e estratégicos”, afirmou Jungmann. Minas deve receber US$ 16,5 bilhões em investimentos até 2029, sendo US$ 3,2 bilhões destinados a minerais estratégicos.

No Pará, a mineração continua sendo o coração econômico. O estado respondeu por 35% do faturamento nacional, reforçando sua posição como um dos grandes motores do setor, com destaque para novos projetos de terras raras e minerais estratégicos. O potencial de expansão no Norte é considerado decisivo para consolidar o Brasil como protagonista na cadeia global de minerais de transição energética.

Bahia: diversidade e crescimento acelerado

Embora com menor participação no total nacional, a Bahia se destaca pela diversidade de sua produção mineral e pelo crescimento de mais de 300% em uma década. O estado é o único produtor brasileiro de substâncias como magnesita, sodalita, vanádio, urânio, diamante em kimberlito e molibdenita, além de registrar R$ 10,1 bilhões em faturamento em 2024.

A mineração baiana emprega mais de 38 mil pessoas e tem papel essencial no semiárido, onde a atividade representa vetor de desenvolvimento regional e geração de renda. Cidades como Jacobina, Brumado, Andorinha e Maracás concentram a maior parte da produção e dos empregos, com destaque para a extração de ouro e ferroligas.

Para cada emprego direto gerado na mineração, outros 11 são criados indiretamente, segundo o Ibram. Isso torna o setor um dos mais importantes instrumentos de inclusão econômica em áreas de baixo dinamismo industrial.

Investimentos, soberania e geopolítica dos minerais

A nova corrida por minerais críticos no Brasil não é apenas econômica, mas também geopolítica. Países como Estados Unidos, China e Austrália têm buscado aproximação com o governo brasileiro e com o próprio Ibram para discutir parcerias estratégicas.

A criação recente do Conselho Nacional de Política Mineral, que pretende formular políticas públicas e mecanismos de financiamento, marca um passo importante nesse processo. O governo federal também estuda garantias financeiras e incentivos fiscais para atrair investidores e fomentar a industrialização da cadeia mineral.

“O desafio é ir além da extração. Precisamos transformar e agregar valor aqui dentro, com uma indústria mineral e tecnológica nacional”, afirmou Jungmann, ao destacar a importância das garantias de crédito para novos empreendimentos.

Crise na ANM e o alerta do setor

Apesar do cenário otimista, há preocupações institucionais. A Agência Nacional de Mineração (ANM) enfrenta uma grave crise orçamentária que ameaça paralisar suas atividades de fiscalização e regulação. Em setembro, a autarquia informou ter R$ 5,9 milhões bloqueados e um déficit adicional de R$ 3,2 milhões para o fechamento do exercício.

O Ibram fez um apelo público ao governo federal para que libere os recursos necessários. “Isso está nos tirando o sono”, declarou Jungmann. “Como ficam as áreas de segurança de barragens e de direitos minerários se a agência não tem verba nem para estar presente na Exposibram?”, questionou.

O dirigente também reafirmou que o instituto não possui associados envolvidos em escândalos de corrupção, após a deflagração da Operação Rejeito, que investiga esquemas ilícitos de mineração em Minas Gerais. “Acreditamos que o melhor antídoto contra a corrupção é o fim da impunidade”, pontuou.

O futuro mineral do Brasil

Os números e as projeções indicam que o Brasil caminha para uma nova era mineral, baseada não apenas no minério de ferro, mas em um conjunto de substâncias estratégicas para o século XXI. Terras raras, lítio, nióbio, níquel, cobalto, cobre, grafita e potássio são o alicerce da transição energética e tecnológica global — e o país possui reservas expressivas de todos eles.

O desafio, no entanto, vai além da extração. Passa pela sustentabilidade ambiental, governança institucional e pela capacidade de transformar recursos naturais em inovação industrial e tecnológica.

Com o mundo de olho em suas jazidas e com uma nova agenda mineral sendo desenhada, o Brasil tenta equilibrar a balança entre potência exportadora e protagonista tecnológico. O caminho está aberto — e o subsolo, mais do que nunca, é estratégico para o futuro do país.

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