
O governo brasileiro espera realizar leilões de concessões ferroviárias de carga em 2026, após anos de dificuldades para avançar nessa agenda.
“Nós vamos lançar editais no mercado, estamos discutindo o Ferroanel e o Anel Ferroviário do Sudeste, que é também uma obra muito importante,” disse Renan Filho, ministro dos Transportes, durante evento com participantes do mercado de infraestrutura.
Segundo o ministro, os leilões podem ocorrer ao longo de 2026. O anúncio sobre os leilões sendo realizados somente no próximo ano reflete os desafios que o país vem enfrentando para avançar no setor ferroviário de carga.
Desde o início da administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2023, o governo federal tem buscado expandir as concessões e parcerias público-privadas (PPP) em diferentes áreas da infraestrutura.
Embora tenha obtido sucesso em segmentos como saneamento e rodovias, o setor ferroviário de carga enfrenta maiores obstáculos.
De acordo com representantes do mercado, um dos principais entraves é que, nesse setor, os projetos só passam a gerar caixa após a conclusão das obras, condição que reduz o interesse do investidor privado e exige aportes significativos do governo federal nos primeiros anos de contrato.
“A participação do governo federal é importante porque em nenhum lugar do mundo projetos de ferrovias de carga avançam sem apoio estatal. Estamos muitos anos atrasados. Há muita coisa por acontecer,” disse à BNamericas Dennis Ramos, presidente da CBFA, empresa brasileira especializada na fabricação e manutenção de componentes ferroviários.
Contudo, diante das restrições fiscais, o governo tem buscado avançar com acordos de renovação antecipada de concessões ferroviárias já vigentes, para destinar recursos extras a novos contratos. Essas negociações, no entanto, têm enfrentado obstáculos legais, atrasando os acordos.
No fim de 2024, a mineradora Vale anunciou que negociava com o governo federal o pagamento de 17 bilhões (bn) de reais (US$3.2 bn) pela renovação antecipada das concessões ferroviárias Carajás e Vitória a Minas. Em agosto desse ano, porém, a empresa informou que as negociações não avançaram.
O Ferroanel, citado pelo ministro, está ligado ao processo de licitação da Malha Oeste, ferrovia que conecta São Paulo ao Mato Grosso do Sul.
Com 1.973km de extensão, a linha foi concedida à empresa de logística Rumo, mas encontra-se praticamente abandonada há anos. O contrato original vence em 2026.
O Ferroanel, com cerca de 53km, ligará Perus a Itaquaquecetuba, em São Paulo, com investimento estimado em R$6bn.
Já o Anel Ferroviário do Sudeste, também mencionado pelo ministério, é conhecido como EF-118. O projeto prevê a construção de uma ferrovia de carga entre Nova Iguaçu, no estado do Rio de Janeiro, e Cariacica, no Espírito Santo.