
O mercado automotivo brasileiro registrou um movimento de alta em setembro, mas o comportamento dos subsegmentos mostra contrastes: enquanto os emplacamentos de carros e leves empacam e tiveram projeção revista para baixo, as motocicletas seguem aquecidas, com revisão de expectativa para cima. No agregado, as vendas totalizaram cerca de 243,3 mil unidades em setembro, avanço anual próximo a 2,9% segundo os últimos balanços divulgados pela Fenabrave.
Alta mensal e sinais de seletividade
Os números de setembro apontam recuperação pontual — a comparação com agosto mostra elevação na série mensal que indica retomada de demanda em alguns nichos (vendas diretas, frotistas, eletrificados). No entanto, o desempenho por tipo de veículo é desigual: concessionárias vêm reduzindo as projeções de venda para automóveis e comerciais leves em 2025, citando fatores como custo do crédito e incertezas na demanda de varejo.
Para o ano, a Fenabrave revisou sua previsão agregada de crescimento do mercado: a projeção global de emplacamentos foi recuada (da casa dos 4% para algo em torno de 2,6% no último ajuste), em grande parte puxada pela piora nas estimativas de caminhões e pela desaceleração no varejo de leves — ainda que algumas categorias, como motos e ônibus, mantenham ou ampliem expectativas positivas.
Por que os carros perderam tração — e por que há espaço para otimismo?
Fatores que pressionam vendas de automóveis e leves:
Crédito mais caro e custo financeiro elevado (impacto direto sobre financiamentos a prazo).
Venda direta e frotas têm pesado na média; o varejo para pessoa física segue mais frágil.
Expectativa de renda e juros influencia decisão de troca por modelos novos.
Por outro lado, há motivos para cauteloso otimismo: a oferta de modelos eletrificados e híbridos vem ganhando força, atraindo consumidores urbanos; e programas de lançamento e renovação nas montadoras tendem a aquecer o interesse. Além disso, a melhora gradual no mercado de trabalho e sinais de estabilidade em alguns indicadores macro podem elevar a propensão a compra no próximo ano.
Motos: crescimento sustentado e revisão para cima
Ao contrário dos carros, o segmento de motocicletas tem apresentado desempenho robusto em 2025. Fenabrave e análises do setor indicam revisão para cima das projeções das duas rodas — um reflexo da demanda por entregas urbanas, do uso como alternativa de mobilidade e do perfil de menor custo de aquisição e manutenção diante do crédito caro. Fabricantes e concessionárias vêm registrando volumes que sustentam expectativas otimistas para o segmento ainda neste ano.
Como ficam as previsões para 2026
As projeções convergem para um quadro de pouso suave: 2025 deve encerrar com crescimento modesto no total de emplacamentos, porém com realinhamentos por categoria (leves recuando um pouco em relação a projeções anteriores; motos e ônibus em alta). Se houver amenização das taxas de juros e linhas de crédito mais acessíveis, o mercado de carros pode recuperar ritmo em 2026 — cenário que colocaria novamente as vendas de leves numa trajetória de crescimento mais consistente.
Riscos e alavancas
Principais riscos que podem manter a atividade contida: manutenção prolongada da Selic em patamar alto, deterioração de renda real e cortes em incentivos ou subsídios setoriais. Já as alavancas para a retomada são: oferta maior de financiamento competitivo (leasing, consórcios adaptados), expansão dos eletrificados (atraindo consumidores urbanos) e recuperação do varejo automotivo se a confiança do consumidor voltar.