O diretor da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços do Brasil (Cisbra), Arno Gleisner, está otimista de que a retomada das negociações entre os governos brasileiro e americano vai levar à superação, pelo menos em grande parte, das dificuldades enfrentadas por exportadores do Brasil desde que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impôs sobre taxas de importação sobre produtos brasileiros. Ele prevê que até o fim deste ano já haverá avanços significativos para a retomada do comércio bilateral. “A expectativa é boa,”.
Gleisner avalia que o recuo demonstrado pelo presidente americano, ao telefonar para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e abrir um canal de negociações mostra que os interesses econômicos devem prevalecer sobre os políticos. Ele lembrou que as restrições impostas às exportações brasileiras causaram problemas também ao mercado interno americano, que depende de importações do Brasil, citando produtos como carnes e café e componente usados pela indústria dos Estados Unidos.
“Interesses ligados à política não combinam com comércio”, disse em entrevista à Portos e Navios. Gleisner argumentou que o aumento das tarifas, sobretudo sobre produtos de consumo imediato, como carne e café, levou ao aumento de preços para o consumidor americano e poderia, a médio prazo, ter impacto na inflação, o que, acredita, influenciou a decisão de Trump de negociar. “Inflação não é boa para nenhum governo”.
O diretor da Cisbra afirmou ainda que a normalização das relações comerciais é do interesse dos dois países e que isso ficou claro na mobilização tanto de empresários dos Estados Unidos como de brasileiros para pressionar Trump a negociar. Nesse sentido, elogiou a iniciativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) de liderar a comitiva de representantes de vários segmentos do setor produtivo do Brasil que foi aos Estados Unidos negociar com líderes da economia e parlamentares daquele país. “O grupo liderado pela CNI foi o mais importante”, argumentou, destacando o respaldo do governo brasileiro através do vice-presidente Geraldo Alckmin.
Segundo Gleisner, apesar de trazer dificuldade para alguns setores da economia, a redução das vendas para o mercado não seria capaz de causar grande impacto para o Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB). Ele estimou que as exportações totais do Brasil representam em torno de 15% do PIB e que o recuo dos embarques para o mercado americano representaria no geral um recuo em torno de 0,3% ao ano.
A ressalva, segundo o diretor da Cibra, é que esse percentual não reflete a realidade dos setores mais dependentes das vendas para os americanos e explicou que há casos, como os de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, em que o impacto chega a 55% e 51% das exportações totais. Em relação ao primeiro, as maiores perdas foram nos setores produtores de motores e de móveis. No do segundo, principalmente na indústria do fumo.
Por isso, ele considerou que os empresários e o governo brasileiros agiram corretamente ao insistir em buscar negociações, mesmo com a intransigência demonstrada inicialmente pelo presidente americano com argumentos políticos e que não estavam ao alcance do Executivo, como no caso das reclamações contra o Supremo Tribunal Federal. Gleisner considerou positiva também a postura do Brasil de não adotar medidas de retaliação, que poderiam dificultar a retomada das negociações, e de ressaltar que não existem argumentos econômicos, já que os Estados Unidos há anos têm superávit na balança comercial bilateral.
Apesar do otimismo, o diretor da Cisbra não crê em facilidade nas negociações e avalia que os dois lados têm que ceder. Ele acredita, no entanto, que como há interesses dos dois lados em superar o impasse, o resultado das negociações será positivo. Além disso, citou a habilidade demonstrada pelo Itamaraty, por Geraldo Alckmim e pelos empresários brasileiros que buscaram negociar desde o anúncio das sobretaxas como fator para esperar desfecho rápido e normalização das relações. ”Espero que até o fim do ano esse imbróglio esteja resolvido”, comentou.