
Perto de completar 25 anos, o Porto de Pecém iniciou neste ano uma nova rodada de investimentos para ampliar sua capacidade e, principalmente, se preparar para diversificar de forma significativa sua área de atuação. Ao todo, nos próximos anos, todo o complexo de Pecém – que inclui uma zona industrial e uma zona de processamento de exportação (ZPE) – terá investimentos de quase R$ 2,5 bilhões em sua infraestrutura, tanto com recursos do próprio porto como de empresas que passarão a usar seus terminais. “Esse é um momento muito importante para Pecém, estamos expandindo e, o principal, estamos cada vez mais diversificando nossas operações. Temos muito espaço para crescer”, diz Maximiliano Quintino, o presidente do Porto de Pecém.
O espaço para crescer não é uma figura de linguagem usada por Max, como gosta de ser chamado o executivo, que assumiu Pecém na virada de 2024 para 2025. O complexo dispõe de uma área de 190 quilômetros quadrados para expansão tanto das operações portuárias quanto de seu complexo industrial, algo como 26 mil campos de futebol padrão Fifa colocados lado a lado. “Esse é nosso grande trunfo, essa capacidade de expansão enorme que temos. Não sei se há algum porto brasileiro com tanta capacidade de crescer”, diz ele, aí se referindo também à ampliação de movimentação em seus terminais.
No ano passado, Pecém movimentou 19,6 milhões de toneladas, com um crescimento expressivo de quase 15%, mas ainda distante dos 22 milhões de toneladas que movimentou em 2022, seu recorde histórico. Neste primeiro semestre o porto voltou a crescer, com incremento de 10% sobre a movimentação registrada no primeiro semestre de 2024. Com isso, Pecém, um dos portos mais novos do país, já figura entre os 10 maiores terminais privados de cargas e entre os 20 maiores portos do Brasil. Hoje, Pecém é administrado pelo governo do Ceará, que detém 70% de suas ações, em parceria com o Porto de Roterdã, dono dos 30% restantes.
Entre os investimentos programados estão cerca de R$ 1,2 bilhão que o porto está usando para ampliar sua capacidade de movimentação, como a construção de uma expansão de 350 metros no terminal de uso múltiplo, por onde passam os contêineres, um dos segmentos que mais crescem no porto. Só neste primeiro semestre, a movimentação de contêineres avançou 37,5%, resultado da abertura de novas rotas para a China. “Essas obras também permitirão que ampliemos nosso calado, que já é bastante bom, e possamos receber navios ainda maiores”, diz Quintino.
Dentro desse pacote de investimentos, Pecém, em parceria com a distribuidora Dislub Equador, está investindo mais de R$ 400 milhões na construção de um terminal de armazenamento e distribuição de combustíveis. O projeto prevê que o porto possa armazenar 130 milhões de litros de combustíveis em seu complexo. Ao mesmo tempo, a Supergasbras está investindo R$ 1,2 bilhão em um novo terminal de gás liquefeito de petróleo (GLP) e área de armazenagem com capacidade de 62 mil toneladas.
“A partir de 2028 nós daremos um salto na nossa movimentação de cargas com a chegada da Transnordestina, que nos informou que no primeiro ano espera movimentar algo como 6 milhões de toneladas”, diz Max. “Imaginamos que em poucos anos estaremos movimentando 20 milhões de toneladas por Pecém”, afirma Tufi Daher, presidente da Transnordestina Logística, a subsidiária da CSN que constrói a ferrovia e tem direito de operá-la até 2057.
Mas todos esses números parecem pequenos perto das promessas de investimentos das companhias que estão chegando para instalar gigantescos data centers em Pecém para atender as empresas de tecnologia que atuam com inteligência artificial. Só a Casa dos Ventos tem projetos da ordem de R$ 150 bilhões para a construção de um complexo de data centers em Pecém. “Isso promete transformar o Ceará, o investimento em data centers vai colocar o Estado na liderança desse segmento e com capacidade de atender o mercado americano por conta de sua proximidade”, diz o presidente da Federação das Indústrias do Ceará e vice-presidente da CNI, Ricardo Cavalcante. “A infraestrutura do século XXI não será mais estradas e ferrovias, serão as linhas de transmissão de energia”, acrescenta.
A Casa dos Ventos pretende investir essa fortuna em Pecém por conta da proximidade do complexo portuário com os cabos submarinos que ligam os Estados Unidos ao Brasil e entram em território nacional exatamente a poucos quilômetros dali, na praia do Futuro, em Fortaleza. No mundo virtual, a distância importa. Quanto mais distante o ponto de emissão de uma informação de seu receptor, maior o tempo para ela viajar. A Casa dos Ventos tem planejada a construção desse complexo de data centers com uma capacidade de processamento de dados que consumiria 876 MW de energia elétrica, uma capacidade próxima do necessário para abastecer uma cidade como São Paulo e seus 12 milhões de habitantes. É muito mais energia do que consome todo o Estado do Ceará. Mesmo com o Estado sendo superavitário – só em energia eólica e solar produz mais de 2,5 GW -, o Ceará não dispõe de redes de transmissão suficientes para atender o projeto da Casa dos Ventos de forma segura, sem o risco de apagões.
Por isso, o Operador Nacional do Sistema permitiu a liberação de “apenas” 300 MW, quantidade suficiente de energia para abastecer uma cidade como Fortaleza. Os planos da Casa dos Ventos são iniciar os investimentos em uma primeira fase, com a aplicação de R$ 50 bilhões, e, após a liberação de mais energia, concluir a segunda fase com investimentos de outros R$ 100 bilhões. Boa parte da capacidade de processamento desses data centers terá apenas um cliente: o aplicativo chinês TikTok.
Pecém também planejava ser um grande hub internacional para a produção de hidrogênio verde para ser exportado, prioritariamente, para a Europa. Mas as contingências no fornecimento de energia podem comprometer os projetos orçados em mais de US$ 60 bilhões que estavam previstos para o complexo portuário. Quintino diz que pretende esperar as negociações entre o Operador Nacional do Sistema e as empresas. “Talvez tenha havido um excesso de confiança, mas acreditamos que os projetos são viáveis e, em Pecém, estamos prontos para recebê-los”, diz ele.