
Funcionário da Alelo desde 2021, Thiago Oliveira tornou-se influenciador da empresa em abril de 2025 – uma função que exerce em paralelo ao seu cargo de analista de planejamento estratégico na companhia de benefícios para trabalhadores. “Eu quis me tornar influenciador”, diz. “Uma das habilidades que tenho é a comunicação, com isso achei uma oportunidade de explorar, aprender e desenvolver ainda mais essa habilidade.”
Como influenciador da Alelo, junto com outros 20 funcionários da empresa, ele apoia a criação de conteúdos internos e externos, para as redes sociais. Diz que as pautas geralmente vêm prontas, ele só precisa entrar no “personagem”. “Sempre que posso e tenho oportunidade coloco meu lado criativo, e também sugiro alterações em pautas ou roteiros”, acrescenta.
A Alelo criou a função de funcionário-influenciador em 2020, como uma evolução do papel que alguns empregados já exerciam de comunicadores internos, desde 2014. A estratégia por trás da iniciativa, conta Carolina Ferreira, diretora de gente e ASG da Alelo, é descentralizar o processo de comunicação, para que as mensagens cheguem a todos de forma mais rápida. “A mensagem é compartilhada com esse grupo e, assim, um de cada área desdobra para seu próprio grupo”, explica.
Outra função dessa estratégia é formalizar um canal de escuta. “Com encontros periódicos com o grupo, é possível conhecer temas críticos, mapear ruídos e tratar as questões necessárias sem que elas tomem uma proporção que prejudique o engajamento geral”, diz.
Desde 2021, há indicadores para medir o desempenho dos funcionários-influenciadores. Entre eles, a presença nas reuniões; a confirmação de envio das mensagens; e uma pesquisa de satisfação feita com a metodologia NPS. Com isso, há um reconhecimento com premiação interna para os que mais se destacam. “Nossos ‘influlovers’ ampliam o alcance da comunicação e fortalecem o engajamento”, afirma Ferreira.
Para isso, ela diz ser essencial capacitá-los, para que realmente atuem como facilitadores do diálogo, porta-vozes da cultura e promotores de boas experiências. A cada dois anos a Alelo reavalia os participantes. Há gestores no grupo, mas predominam pessoas com cargo de analista.
“Esse tipo de programa traz uma ampliação da voz corporativa e denota certa transparência”
— Carolina Terra
Autora do livro “De funcionários a influenciadores” (Summus Editorial), Carolina Terra vê o surgimento dos funcionários-influenciadores como uma oportunidade de a organização se humanizar e como uma medida de autenticidade. “São os funcionários produzindo os conteúdos à sua maneira, com as suas vozes, suas peculiaridades”, detalha. “Esse tipo de programa traz uma ampliação da voz corporativa, trabalha na construção da marca empregadora e traz favorabilidade para a organização, pois denota certa transparência também.”
Com essa estratégia, ela diz que os principais porta-vozes, normalmente executivos da alta liderança, deixam de ser os únicos representantes da empresa. “Além disso, eu vejo vantagem também internamente: pode ser uma medida que melhora a comunicação interna, gerando identificação, reconhecimento e engajamento.”
Pesquisa da Aberje e Ação Integrada feita em 2025 apontou os programas de influenciadores como uma das principais tendências em comunicação interna.
A Vivo, do setor de telecomunicações, estruturou o “Vivo Creators” em 2020. Uma forma de reconhecer pessoas que naturalmente são influenciadoras na visão dos colegas da companhia e que amplia vozes diversas da empresa, explica Leandro de Freitas, diretor de comunicação corporativa da Vivo. “Cada ‘creator’ traz o seu olhar para o tema proposto ao contá-lo do seu jeito, com o seu sotaque”, diz o executivo. “Com uma abordagem mais leve e humana, os conteúdos produzidos por eles são facilmente compartilhados e viralizados de forma orgânica, impactando todo nosso público – administrativo, call center, campo e lojas.”
Freitas explica que o programa é estruturado em um formato gameficado – os creators participam de “missões” e precisam atingir uma pontuação e um percentual mínimo de participação para permanecer no programa. “Eles recebem a atividade, com as mensagens a serem trabalhadas e informações complementares que podem auxiliá-los. A partir daí, têm autonomia para construir conteúdos com seu próprio estilo”. Como contrapartida, recebem vouchers para compra de livros e cursos.
A escolha dos funcionários-influenciadores da Vivo acontece por meio de processo seletivo interno, que avalia critérios como comunicação, curiosidade e criatividade. Em 2024, foram 307 inscritos e 16 selecionados. O programa conta com representantes em 12 estados. Hoje, há 40 Vivo Creators. Desses, 30 criam conteúdo para rede social corporativa da Vivo e 10 propagam mensagens da empresa em suas redes sociais próprias (Instagram e LinkedIn), sob a ótica de quem trabalha na Vivo. “O papel dos colaboradores que são influenciadores vem ganhando cada vez mais relevância pela eficácia, de modo genuíno, na propagação de mensagens que fortalecem a cultura e a reputação de uma empresa”, acredita Freitas.
Especialista em gestão de pessoas na Vivo, Bianca Paiva de Oliveira é Vivo Creator desde 2021. Ela começou como “creator interna” e em 2024 passou a ser “externa”. “Conheci o programa por meio dos nossos canais internos de comunicação. Como já era entusiasta do tema, me inscrevi no processo seletivo”, conta. “Lembro até hoje da emoção quando recebi a notícia da aprovação, acompanhada de um kit de boas-vindas.”
Ela diz que sua primeira missão foi uma campanha sobre a desigualdade de gênero no esporte. “Me marcou por evidenciar quantas pautas relevantes para a sociedade poderíamos trazer ao cotidiano”, lembra. Ela conta que dedica cerca de uma hora por semana à produção de conteúdos.
Na PepsiCo, o programa de funcionários-influenciadores começou em 2019, com estagiários e trainees compartilhando suas experiências na empresa. “O sucesso foi tão natural que essa rede de influenciadores internos se expandiu para a América Latina e, depois, para o mundo, tornando-se parte do programa global”, diz Maria Teresa Orlandi, gerente sênior de comunicação na PepsiCo Brasil.
Segundo Orlandi, foi por reconhecer o poder das histórias reais que a companhia decidiu apoiar seus funcionários para que se tornassem influenciadores. “Como vozes autênticas que traduzem o que é viver e construir a PepsiCo por dentro”, afirma. “Com isso, fortalecemos não só marca empregadora, mas a cultura de pertencimento, inclusão e transparência.”
Para o funcionário-influenciador, a empresa oferece trilha de aprendizado, ferramentas práticas e um calendário com temas e iniciativas que podem inspirar conteúdos. Não há remuneração específica para a função – os influenciadores recebem brindes, experiências e produtos. O programa é aberto a todos os interessados, mas a empresa também convida pessoas que já são referências internas. “Aquelas que naturalmente influenciam, inspiram e mobilizam suas equipes”, diz Orlandi.
“Com abordagem mais leve e humana, os conteúdos produzidos por eles são facilmente compartilhados”
— Leandro de Freitas
Mais de 40 funcionários já passaram pelo programa. Atualmente, são 17 ativos. Orlandi traz alguns números: “com menos de 100 publicações geradas pelos embaixadores, já ultrapassamos 140 mil visualizações nas redes sociais apenas em 2025”. O conteúdo compartilhado inclui histórias de carreira, bastidores do dia a dia, curiosidades sobre os produtos, ações de voluntariado, conquistas pessoais e coletivas, em plataformas como LinkedIn e Instagram, corporativo ou pessoal.
Analista de marketing, Ana Sandoval é influenciadora da PepsiCo desde 2024. Ela conta, no entanto, que já compartilhava sua rotina de estagiária nas redes sociais antes mesmo de entrar oficialmente para o programa de funcionários-influenciadores da companhia. “Eu gostava de mostrar os bastidores porque muita gente nem imagina o mundo que está por trás de cada uma das marcas da PepsiCo”, diz. “Estar em uma multinacional, tendo me formado em engenharia de alimentos, sempre foi uma realização pessoal, então mostrar esse dia a dia era quase natural para mim.”
Sandoval conta que conheceu a PepsiCo na graduação, em palestra com um dos influenciadores. “Lembro quão inspirada me senti”, relata. “Naquele dia, tive certeza de que queria fazer parte da empresa e, um dia, causar o mesmo impacto em outras pessoas.”
Hoje, Sandoval compartilha nas redes um pouco da sua rotina, bastidores do escritório, fábrica, inovação de produtos e iniciativas da PepsiCo. “As pautas surgem naturalmente”. Ela publica no LinkedIn e Instagram, e diz dedicar entre duas e três horas por semana para pensar nas ideias, gravar e editar conteúdos. “Algo que encaixo facilmente entre as entregas do trabalho.”
Trainee de marketing, Aline Victória Campos Garcia também é funcionária-influenciadora, desde 2021, mas na Nestlé. Assim como Sandoval, da PepsiCo, ela já compartilhava sua rotina de estágio na Nestlé nas redes antes de entrar no programa, principalmente via stories do Instagram. “Gostava muito de interagir com meus amigos e seguidores contando mais sobre o meu dia”, diz. “Eu era estagiária na área de employer branding, e querendo buscar por uma maior visibilidade da nossa marca empregadora, comecei a compartilhar mais da minha rotina nas redes.”
Ela conta que, no início, se limitava a compartilhar sobre sua rotina no escritório, “desde o momento da chegada, almoço, reuniões e cafezinho”. Depois de um tempo, com o reconhecimento interno das marcas e outras áreas, passou a gravar conteúdos sobre lançamentos de produtos, campanhas e iniciativas da empresa. “O legal é que isso me desafia a trabalhar em uma gravação mais profissional, caprichar na edição e fazer com que o meu conteúdo faça jus com a qualidade do produto”, comenta. “Também sou convidada para marcar presença em eventos onde as marcas Nestlé são patrocinadoras, às vezes até com presença VIP”, diz, citando que já foi para eventos de games e festivais de música como Rock in Rio e The Town.
Campos publica no Instagram e no TikTok. “Aproveito o meu retorno para casa no transporte público pra editar os vídeos do dia e interagir com os novos seguidores, que normalmente querem tirar dúvidas sobre oportunidades de vagas, carreira e produtos Nestlé.”
Anahi Guedes, diretora de comunicação corporativa na Nestlé, comenta que a ideia do programa é justamente fortalecer a marca empregadora. “A iniciativa nasceu dentro da área de comunicação interna e ganhou corpo, tornando-se uma estratégia transversal que une cultura, marketing e marcas”, detalha. Ela diz que a companhia acredita que os funcionários são seus melhores porta-vozes, pois vivenciam de perto os valores, produtos e iniciativas da empresa. “O programa nasceu para potencializar essa voz, unindo autenticidade, credibilidade e pertencimento.”
A participação é aberta a todos os funcionários da Nestlé no Brasil. Hoje, mais de 1.500 empregados participam do programa, incluindo profissionais de fábricas, escritórios, campo, centros de distribuição e promotores de vendas. Segundo Guedes, há desde aprendizes e trainees até diretores. “Nos últimos três anos, o programa já gerou quase 60 milhões de visualizações orgânicas, mais de 4 mil conteúdos publicados e 2,5 milhões de engajamentos”, conta a executiva. “Além de fortalecer a reputação e a marca empregadora, o programa contribui diretamente para o clima organizacional, pois os colaboradores se sentem valorizados e reconhecidos como parte ativa da construção das marcas.”
Na Porto, seguradora, a escolha foi transformar os corretores em influenciadores – são 46 mil no total. Por meio de uma plataforma disponibilizada em julho, os selecionados tiveram acesso à capacitação em letramento digital, inteligência artificial generativa e estratégia de conteúdo. “A proposta é aprimorar as habilidades dos corretores para atuarem com protagonismo no ambiente digital, consolidando sua autoridade no setor e gerando leads qualificados”, explica Patrícia Coimbra, diretora de gente e cultura da Porto.
Para apoiar essa prática, a empresa inaugurou os Estúdios Porto, em sua matriz em São Paulo, e criou espaços de gravação em sucursais pelo país. A seleção dos influenciadores leva em conta o engajamento com iniciativas da companhia, como a participação em treinamentos. A primeira turma recebeu 3 mil inscrições.