
No atual contexto de volatilidade e de variadas incertezas econômicas e políticas, as empresas líderes de seus setores no Valor 1000 se preparam para o aumento da competição e estão recorrendo à diversificação para minimizar riscos.
O recrudescimento da competição é uma possibilidade antevista por Dourivan Cruvinel, presidente executivo da Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (Comigo). Até o momento, a empresa não foi afetada pelo tarifaço de Donald Trump porque seus principais clientes estão na Ásia e na Europa. Mas Cruvinel enxerga riscos caso venha a ser confirmado qualquer acordo fixando volumes maiores de compras pela China da soja produzida nos Estados Unidos. “Poderíamos ser impactados indiretamente, pois, nesse cenário, haveria um excedente de produto no mercado interno, afetando a nossa atuação, em linhas gerais.” Para se prevenir, a cooperativa intensificou a diversificação dos mercados, reforçou a gestão financeira e ampliou investimentos em inovação tecnológica para aumentar a competitividade.
Na Whirlpool, que trabalha com mais de 90% de produtos de desenvolvimento local, os impactos da guerra tarifária devem ser indiretos, considera Gustavo Ambar, diretor-geral: “A oferta chinesa que ia para os Estados Unidos virá para cá, insuflando a competição.” Esse fator, aliado aos juros elevados, deixa a empresa menos otimista sobre o desempenho do ano que vem – que deve ser de leve crescimento nas vendas. Por outro lado, Ambar pondera que a confiança do consumidor se mantém firme.
A White Martins também se prepara para um possível aumento da competição. Clientes da empresa, de vários setores, foram afetados pelo tarifaço. O CEO, Gilney Bastos, considera natural que essas empresas busquem mercados alternativos para escoar a produção inicialmente destinada aos Estados Unidos, mas teme um risco maior a longo prazo caso elas não sejam bem-sucedidas e retraiam suas atividades. “Outro ponto que pode contribuir negativamente é um possível aumento da oferta de produtos importados no mercado brasileiro”, diz.
Para quem atua no setor siderúrgico, essa já é uma realidade: o mercado local vem sofrendo com a crescente importação de aço, principalmente o chinês. “Hoje quem mais vende aço no Brasil não é nenhuma empresa brasileira, são os chineses”, diz Gustavo Werneck, CEO da Gerdau. A isso, agora soma-se a sobretaxa de 50% aplicável ao aço brasileiro (e com o agravante que os Estados Unidos compram 42,6% do volume exportado por nós). Embora a Gerdau pouco exporte para os Estados Unidos, onde atua com produção local, vem sendo afetada pelas importações no Brasil. A saída tem sido a redução da atividade e dos investimentos. Desde 2024, já paralisou a produção em três usinas.
Nesse cenário de aumento da competição e das tarifas, as empresas vêm apostando mais na diversificação geográfica, de clientes e de produtos. Assim, como a Gerdau, a WEG também se internacionalizou há algum tempo – com atuação em cinco continentes por meio de 18 fábricas, a empresa ainda não sentiu os efeitos do cenário conturbado. A WEG atende o mercado dos Estados Unidos pela produção no próprio país, no México e um terço no Brasil. O presidente da empresa, Alberto Kuba diz que a parte afetada deve responder por cerca de 5% da receita da WEG.
Daniel Berneck, presidente da Berneck, referência em painéis e madeira serrada, afirma que, embora o impacto direto do tarifaço sobre seus negócios seja limitado, os efeitos indiretos preocupam, já que podem afetar o setor moveleiro e, consequentemente, a demanda por insumos. Berneck segue diversificando mercados, de modo a reduzir riscos e manter estabilidade diante das turbulências externas.
Outras empresas que vêm apostando na diversificação para reduzir as oscilações são a farmacêutica EMS, a B3, a TIM e a Évora. Marcus Sanchez, vice-presidente da EMS, considera que o portfólio diversificado, a inovação, as aquisições estratégicas e a expansão internacional diminuem a exposição da companhia às oscilações do mercado e desafios regulatórios. “A inauguração da fábrica de peptídeos em 2024 e a recente parceria com a Fiocruz ampliou a capacidade produtiva em medicamentos de alta complexidade e abriu caminho para lançamentos estratégicos, reforçando a busca pela autonomia produtiva.”
Na Évora, do setor de plásticos e borrachas, a principal estratégia para mitigar a volatilidade tem sido a diversificação geográfica e de portfólio. A atuação em 11 países e 4 continentes reduz a exposição a riscos localizados. “A gestão financeira é conservadora, com controle de custos e alongamento e redução do endividamento nos próximos anos. A cultura organizacional, baseada em confiança e agilidade, permite respostas rápidas a cenários adversos”, diz o CEO, Silveiro Baranzano.
Já a B3 vem apostando na diversificação de produtos para continuar entregando resultados consistentes como os do primeiro semestre deste ano. O CEO, Gilson Finkelsztain, encara as turbulências como uma oportunidade para a empresa e para o Brasil – o enfraquecimento do dólar e a busca por diversificação dos investidores globais podem atraí-los para o país.
A resposta da TIM para o cenário mais instável soma diversificação de receitas, ofertas de maior valor para o cliente, uso de tecnologias para alocar melhor os recursos e gestão de estrutura de capital de acordo com o período para alcançar maior resiliência, conta Alberto Griselli, CEO da TIM Brasil. Ele vê a imprevisibilidade atual como parte de um mundo mais dinâmico. “Temos vantagem de operar um serviço essencial na vida dos consumidores e ter papel de destaque na jornada de digitalização de várias indústrias.” Essa centralidade, acredita, tende a proteger o setor.
A Inpasa vem apostando na gestão de riscos e crescimento eficiente e mais diversificado, segundo o vice-presidente de trading Gustavo Mariano. “Ampliamos a capacidade produtiva, a logística e a expansão geográfica. Também adotamos a compra antecipada de milho, fortalecemos a venda de coprodutos – que compensam até 40% do custo da matéria-prima – e monetizamos créditos de descarbonização (CBIOs), garantindo competitividade e resiliência.” A empresa acompanhou com interesse a assinatura, em maio, de um protocolo entre Brasil e China que viabiliza a abertura de mercado para o comércio de coprodutos do etanol de milho, como o DDGS (“grãos secos de destilaria com solúveis”, voltados à alimentação animal).
O Valor 1000 tem patrocínio ouro da ArcelorMittal, da CNI – Sistema Indústria e da Caixa Seguridade; patrocínio prata da Sicredi, PagCorp, Vibra, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), da Fundação Getulio Vargas – Educação Executiva, AON Brasil, Cemig, Stefanini Group e Marfrig BRF e patrocínio bronze da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), da FSB Comunicação e da CBMM; carro oficial BYD, companhia aérea oficial Azul; assistência médica oficial Amil; além da parceria da Serasa Experian e da Fundação Getulio Vargas (FGV) e apoio da Eletromidia.