
O Nordeste cresceu 4% em 2024, acima da média do Brasil (3,8%). Em 2025, pode ter alta de 2,3% no PIB, também acima da média nacional (2,2%), segundo projeção da Tendências Consultoria. “O número positivo de 2024 veio com um forte desempenho da indústria. Ceará, Rio Grande do Norte e Bahia cresceram muito na produção industrial. A dinâmica dos serviços, que têm um peso relevante na região, também favoreceu”, diz Isadora Osterno, pesquisadora do Centro de Estudos para o Desenvolvimento do Nordeste do FGV Ibre.
A região tem se beneficiado do bom momento do mercado de trabalho. Isso é traduzido, por exemplo, no impulso ao consumo. O Nordeste voltou a ser o segundo maior mercado consumidor do país, com 18,6% de participação. Um resultado que se deve especialmente ao aumento do fluxo de turistas e à melhoria no padrão de emprego com carteira assinada, segundo Marcos Pazzini, coordenador do IPC Maps 2025, estudo sobre o potencial de consumo de Estados e municípios com dados do IBGE.
Em termos nominais, a expansão do consumo regional foi de 14,8%. Salvador (BA) é a capital que mais se destaca no ranking nacional de municípios, ocupando a 6ª posição, com um volume de gastos estimado em R$ 101,41 bilhões por ano. Fortaleza (CE) é a segundo capital do Nordeste e a 7º no Brasil. Recife está no terceiro lugar regional, seguida por São Luís, Maceió, João Pessoa, Natal, Teresina e Aracaju.
Mas é o no interior que a região está mostra sua força. Entre os 1.793 municípios nordestinos, 194 agora movimentam mais de R$ 1 bilhão por ano, um salto de 26 cidades em relação ao levantamento anterior do IPC Maps. O consumo está sendo puxado pelos domicílios nas classes B e C, sem a prevalência tradicional das classes alta e baixa. “Esse cenário vem mudando com o tempo. Os anos de 2024 e 2025 mostram a força da classe média nesse contexto de crescimento da economia”, diz Marcos Pazzini. Os dados mostram uma região mais dinâmica e em transformação.
O crescimento da renda domiciliar per capita entre 2022 e 2024 no país também foi liderado pelo Nordeste, com alta de 20,2%, segundo a Pnad Contínua, do IBGE. Foi a região que apresentou a maior queda no número de pessoas em situação de pobreza: 6,5 milhões, mais de um terço (ou 37,4%) da parcela da população que estava nessa condição.
“O número positivo de 2024 veio com um forte desempenho da indústria”
— Isadora Osterno
O mercado de trabalho acompanha essa transformação. A criação de vagas formais também foi superior à média do país, tendo crescido 4,37% nos 12 meses terminados em julho, segundo o Caged, enquanto o país registrou uma variação de 3,45%. “Foram criados 341 mil postos nos últimos 12 meses, o que equivale ao estoque total de empregos apenas no Estado de Sergipe”, ressalta Alisson David, gerente do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene), do Banco do Nordeste. Cinco Estados estão com as menores taxas históricas de desocupação: Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas, Sergipe e Bahia.
Os investimentos podem ser importantes para manter essa trajetória, e os recursos do Novo PAC são expressivos na região: R$ 604,5 bilhões até 2026, segundo a Casa Civil. Entre os destaques está a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL) e a Transnordestina. Em portos, Suape (PE) e Pecém (CE) se sobressaem. O esforço do governo federal também se dá dentro do seu programa de reindustrialização, o Nova Indústria do Brasil. O BNDES recebeu 246 propostas na chamada pública para projetos estruturantes ligados à transição energética, que somam R$ 127,8 bilhões, quase 13 vezes acima da estimativa inicial.
Para os próximos anos, a Tendências destaca a importância da retomada das obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Também salienta a exploração de gás natural e petróleo, a concessão de aeroportos regionais e os investimentos de companhias de saneamento e distribuidoras de energia elétrica.
A região, além disso, tem aproveitado seu diferencial competitivo. Em energia eólica, 90,1% da produção nacional veio do Nordeste em 2024, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Também já é a principal região de produção de energia solar, concentrando 53% da geração elétrica dessa fonte em 2024. A região do Matopiba (Maranhão, Piauí e Bahia, além de Tocantins, da região Norte), virou uma das novas fronteiras agrícolas nacionais, especialmente de soja e milho.
Por tudo isso, o Banco do Nordeste calcula que os investimentos totais (públicos e privados) sairão do patamar anual de R$ 300,9 bilhões, em 2025, para até R$ 388,8 bilhões em 2029. A instituição aponta os bons números de concessão de crédito. Nesse quesito, o Nordeste também está crescendo mais do que no resto do país. A expansão foi de 13,6% nos 12 meses encerrados em julho, contra a média nacional de 10,7%.
“2024 e 2025 mostram a força da classe média no crescimento da economia”
— Marcos Pazzini
Tudo isso leva a projeções otimistas. No médio prazo (de 2027 a 2034), a Tendências prevê que a região será líder no crescimento do país, com incremento anual no PIB de 3,2%, enquanto a média nacional será de 2,3%. No momento, porém, é preciso enfrentar os desafios imediatos. O tarifaço do governo Donald Trump teve impacto significativo. A pauta de exportações do Nordeste ficou menos isenta na revisão das tarifas que a média nacional. A média nacional foi de 44,6% e no Nordeste, 38,5%, aponta João Mário de França, pesquisador do FGV Ibre. O peso dos Estados Unidos nas exportações regionais é de 13,4%, atrás apenas do Sudeste (17%), segundo levantamento da Tendências Consultoria.
Estudo do FGV Ibre apontou que os três Estados mais vulneráveis às tarifas são Ceará, Alagoas e Paraíba. “No caso do Ceará, onde 52% das exportações vão para o mercado americano, o produto básico é de aço semiacabado, que os EUA terão dificuldade em substituir. Deve haver um impacto negativo, mas por enquanto não estamos vendo um efeito relevante”, diz Camila Saito, pesquisadora da Tendências.
Segundo os especialistas, o tarifaço pode comprometer a competitividade e gerar efeitos distributivos importantes, particularmente em áreas de baixa renda e alta informalidade, numa região com exportação baseada em produtos agroindustriais e recursos naturais.
Assim como no resto do país, o Nordeste também sente os efeitos dos juros altos. “No semestre, a gente já percebe uma desaceleração da economia nordestina, mais acentuada do que a economia nacional”, diz Osterno. Há ainda problemas históricos. As maiores taxas nacionais de desemprego no segundo trimestre foram registradas em Pernambuco (10,4%) e Bahia (9,1%), mostra a Pnad Contínua. E o Maranhão e a Bahia têm a primeira e a terceira maiores taxas de informalidade, respectivamente, de 56,2% e 52,3% (no país é de 37,8%).