Emerson Souza, Rob Davies: A indústria de base do Brasil é o motor da mobilidade sustentável global

A corrida global pela sustentabilidade segue em ritmo acelerado. Para indústrias como a automobilística e a siderúrgica, que são a base de economias modernas, o desafio é entregar uma mudança real e mensurável, indo além de promessas.

O Brasil tem a chance real de liderar essa transição. A questão é se o país irá aproveitá-la.

Quando se fala em descarbonizar o transporte, a primeira imagem que vem à mente é, frequentemente, a do veículo elétrico. A eletrificação é mesmo essencial, isso não se questiona. Mas, para alcançarmos a sustentabilidade embarcada em carros, ônibus e caminhões, a transformação precisa estar presente desde o começo da cadeia, a partir do aço que compõe a maior parte do próprio veículo.

De acordo com o Conselho Internacional de Transporte Limpo (ICCT), o aço e o ferro respondem por até 66% do peso de um carro. A produção siderúrgica, hoje, é responsável por cerca de 8% das emissões globais de CO2. Em poucas palavras, os veículos elétricos só serão totalmente “verdes” a partir do momento em que o aço com o qual são construídos também for produzido por meios não poluentes.

É aqui que uma analogia poderosa se torna clara. Assim como os veículos elétricos substituem os motores a combustão, os fornos a arco elétrico (EAFs) movidos à energia renovável substituem os altos-fornos a carvão. A eletrificação não está apenas transformando as frotas nas ruas e estradas, mas também as usinas siderúrgicas que as fornecem. A eletrificação da frota e também dos fornos que produzem aço tem um impacto muito maior.

Os veículos elétricos reduzem as emissões uma vez que estão em uso, enquanto o aço de baixo carbono reduz as emissões incorporadas antes mesmo de saírem da fábrica. A solução é o ferro verde, tecnicamente conhecido como HBI (ferro briquetado a quente).

Produzido a partir de minério de ferro de alta qualidade usando energia renovável, o HBI é a matéria-prima ideal para alimentar fornos elétricos. Combinados, os dois podem cortar as emissões da produção de aço em até 95%.

Para a indústria automotiva, isso significa que as emissões da produção de veículos podem cair em até 27%. E o custo? De acordo com o ICCT, o preço final de um carro construído com aço verde aumentaria em menos de 1%. Um custo marginal para um ganho transformador.

A política global está reforçando essa mudança. A partir de janeiro de 2026, o Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira (CBAM) da Europa irá impor tarifas sobre importações intensivas em carbono, nivelando o campo de jogo para o aço de baixo carbono. O Japão já introduziu subsídios de US$ 380 por tonelada para acelerar a transição do alto-forno para o aço verde. A direção da viagem é clara.

O Brasil está em uma posição ideal para liderar. A Vale, por exemplo, tem buscado parceiros para viabilizar a construção de Mega Hubs no Brasil, que servirão de insumo para a fabricação de HBI.

Já no Estado da Bahia, há um megaprojeto em fase de licenciamento ambiental, com início de produção previsto para 2030. Mesmo antes de iniciar suas operações, este já garantiu acordos de fornecimento de 10 anos com parceiros de primeira linha, com potencial para gerar cerca de US$ 30 bilhões em receita.

Diferentemente da Austrália, onde grandes projetos permanecem parados, o Brasil desfruta de uma vantagem competitiva única. O Brasil combina abundante energia renovável com o raro minério de itabirito soft de alta qualidade, encontrado em apenas 3% das reservas globais. Essa combinação única, minério de classe mundial e energia limpa ilimitada, torna a produção de ferro verde em larga escala viável e globalmente competitiva.

O legado que nosso país pode construir é claro. Não apenas como um exportador em massa de commodities brutas, mas como um centro global para insumos industriais de valor agregado e baixo carbono que sustentam a descarbonização do transporte e do aço. O mundo está se eletrificando, na estrada e no forno. O Brasil deve aproveitar esta oportunidade para liderar essa transformação.

*EMERSON SOUZA, vice-presidente de Relações Institucionais da Brazil Iron; e ROB DAVIES, CTO da Brasil Ironprofissão

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