
A quantidade de empresas brasileiras que importam produtos chineses cresceu nos últimos anos em ritmo muito mais acelerado do que o das importadoras de outros países ou regiões importantes. O número atual de empresas brasileiras que importam do país asiático é maior que a soma de todas as que compram produtos da União Europeia, dos EUA e do Mercosul.
Os 3,7 mil importadores de produtos made in China em 2000 se multiplicaram e em 2024 alcançaram 40 mil empresas. Mais que o dobro das 18,1 mil empresas que em 2024 importaram de toda a União Europeia, bloco que reúne 27 países. Da origem Estados Unidos, foram 12,4 mil de importadores brasileiros. Do Mercosul, 4 mil.
A quantidade de empresas brasileiras que exportam ao gigante asiático também cresceu, mas em ritmo menor. Foram 700 exportadores em 2000 e 2,99 mil em 2024. Em contraste com o que acontece nas importações e a despeito de a China ser o maior destino dos embarques do Brasil, o número de exportadores brasileiros para a China é pequeno na comparação com os que operam para outros destinos importantes. Para os Estados Unidos, foram 9,55 mil empresas em 2024, mais que o triplo da quantidade de exportadores para a China. Para o Mercosul, foram 11,7 mil no ano passado. Para a União Europeia, 8,59 mil.
Os dados integram levantamento do Centro Empresarial Brasil-China (CEBC), em parceria com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic). A disparidade nos dados de empresas exportadoras e importadoras reflete a natureza do comércio sino-brasileiro, diz Tulio Cariello, diretor de conteúdo e pesquisa do CEBC e um dos autores do estudo. Também participaram do levantamento Camila Amigo e Mariana Quintanilha.
Cariello destaca que soja, minério de ferro e petróleo predominam nos embarques aos chineses. Segundo dados do Mdic, os três itens alcançaram 75,7% de tudo o que os chineses compraram do Brasil em 2024. “E quais são as empresas que estão por trás desse comércio? São grandes empresas, geralmente.” Já do lado das importações, compara, o número muito maior de empresas reflete a pauta diversificada. São basicamente produtos da indústria de transformação, diz, que incluem desde máquinas, até insumos para vários setores. “Incluem também pequenos lojistas, como os da 25 de Março, de São Paulo, e da Uruguaiana, no Rio de Janeiro”, diz, citando ruas famosas pelo grande volume de comércio nas duas capitais.
Número de microempresas que exportam para a China cresceu 277% de 2000 para cá
Ele pondera que houve diversificação maior na exportação de produtos brasileiros à China no decorrer dos anos. Cariello explica que o estudo verificou a quantidade de produtos que o Brasil exportou de 1997 a 2024. O levantamento considerou a classificação por oito dígitos da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM). No período, diz, o número de itens exportados cresceu de 673 para 2,59 mil.
Para Cariello, a diversificação na exportação, ao lado da busca por novos parceiros, é o caminho a ser seguido, principalmente no cenário da política tarifária do governo americano e seus possíveis efeitos no comércio global. Ele lembra que há grande dependência hoje de alguns setores industriais em relação aos Estados Unidos e de forma parecida, há também atualmente uma grande exposição ao mercado chinês, principalmente do setor agrícola.
Mesmo com a predominância das empresas médias e grandes na exportação chinesa, o estudo também mostra que entre 2008 e 2024 houve aumento de 277% e de 85,5%, nessa ordem, das micro e pequenas empresas que exportam para a China. No lado da importação, a microempresas aumentaram em seis vezes, para 10,97 mil. As pequenas empresas importadoras tiveram salto de 3,5 vezes, para 9.692 firmas.
A diversificação das importações chinesas vem acompanhada de maior penetração dos produtos chineses entre as regiões do país. O estudo mostra que desde 2008 a China lidera o ranking de número de empresas importadoras em todas as regiões. No Sudeste, em 2024, mais de 25 mil empresas compraram da China. O Sul e Centro-Oeste, aponta o estudo, reforçaram a dependência da China como fornecedora de insumos industriais e agrícolas. No Centro-Oeste, o número de importadoras cresceu 33 vezes desde 2000.
“A crescente dependência brasileira de insumos chineses impõe desafios estratégicos. A diversificação de fornecedores e o fortalecimento das cadeias produtivas nacionais tornam-se cruciais para mitigar riscos externos e ampliar a autonomia produtiva do país”, diz o levantamento. Do lado das exportações, o gigante asiático também está na liderança em todo o país. O estudo mostra que a China foi o principal destino das exportações de 14 Estados brasileiros e o segundo maior de outros quatro.
O levantamento também destaca que o grande volume de importação de origem China tem propiciado criação de postos de trabalho no Brasil. Em 2022, aponta o estudo, cerca de 5,2 milhões de postos de trabalho foram identificados em empresas cuja atividade incluiu importações originárias da China, mais que o dobro do número de empregos associados a empresas exportadoras, estimados em 2,2 milhões.
O estudo também investigou, diz Cariello, a participação feminina no total de empregados do comércio exterior brasileiro com a China. Segundo o estudo, ainda é limitada, nesse universo, a proporção de empresas que possuem mais da metade de seus quadros composto por mulheres. Em 2022, apenas 16,5% das exportadoras e 27,3% das importadoras tinham maioria feminina. A baixa representatividade, porém, se repete entre todos os parceiros brasileiros, aponta o estudo.
Num olhar sobre a diversidade racial, o levantamento também mostra que houve aumento da participação e na remuneração de negros no comércio sino-brasileiro. Mesmo assim, a desigualdade salarial entre brancos e negros persiste. Em 2022, diz o estudo, os profissionais negros nesse universo recebiam, em média, 40% a menos que os colegas brancos. Essa disparidade, porém, diz Cariello, não é exclusiva das relações com a China. “O dado reflete a sociedade brasileira como um todo.”