Empresas revisam investimentos com piora das incertezas

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Empresas de diferentes áreas da atividade econômica estão revendo planos de investimento, reduzindo custos e buscando formas de serem mais eficientes na execução de projetos. As medidas incluem produtores de commodities, caso de aço, minério, petróleo e derivados, além de companhias ligadas ao varejo e à logística.

Os ajustes são necessárias diante da conjuntura doméstica e internacional, marcada por incertezas, as quais foram ampliadas depois do tarifaço de Donald Trump, em julho. Só em agosto, o aumento das tarifas de importação pelos EUA reduziu as exportações brasileiras para aquele mercado em 18,5% e aprofundou a volatilidade nas commodities, segmento no qual o Brasil é competitivo.

Petrobras, Vale, Usiminas, Gerdau, Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Raízen, GPA e Assaí estão entre as empresas que adotaram ou estudam medidas de maior racionalização de gastos e desembolsos diante de um cenário mais desafiador em 2025 e 2026.

A Vale anunciou, em 10 de setembro, a redução da meta de investimentos de US$ 5,9 bilhões para o intervalo de US$ 5,4 bilhões a US$ 5,7 bilhões neste ano, um corte de até 8,47% com base no piso da nova estimativa. A empresa justificou a decisão indicando que pode fazer melhor, de forma mais eficiente, com menos recursos. “A redução se deve à busca de eficiência na alocação de capital, em projetos mais eficientes e com intensidade de capital mais baixa”, disse na ocasião o presidente da Vale, Gustavo Pimenta.

A redução dos investimentos da Vale em 2025 se relaciona com produtos ligados à transição energética, com menor demanda no momento. “Existe menos demanda em função dos prêmios [sobrepreços], que não estão sendo realizados. Mas a trajetória está dada. Clientes do Japão e da China estão comprometidos com a descarbonização. A questão é como fazer essa transição de forma econômica, tendo alocação de capital com um retorno adequado”, disse.

Desafio semelhante tem a Petrobras. O novo plano de negócios para o período 2026-2030, previsto para ser divulgado no fim de novembro, deve incluir a meta de reduzir custos na ordem de US$ 8 bilhões (R$ 43 bilhões) em cinco anos. Procurada, a companhia não confirmou o valor da economia e reiterou que os esforços de redução de custos serão apresentados no novo plano de negócios, e que tem implementado “esforço contínuo de redução de custos e otimização de processos”, especialmente diante do cenário atual de preços do petróleo, de queda.

O corte de custos faz parte da estratégia da Petrobras, mas também das grandes petroleiras no mundo, para enfrentar cenários mais adversos de preços do petróleo. Preços mais baixos reduzem receitas e se refletem nos planos de investimento, diante da necessidade de ter prudência para não aumentar o endividamento.

Fontes próximas à Petrobras estimam que o novo plano de negócios deve trazer investimentos “em linha” ou um pouco abaixo do plano atual, de US$ 111 bilhões de 2025 a 2029. O montante deve permanecer acima dos US$ 100 bilhões, preveem os interlocutores.

Conforme uma fonte do setor, a redução dos investimentos é tendência mundial para enfrentar a queda nas cotações do óleo. Na visão desse especialista, no caso da Petrobras, pode haver uma redução maior dos investimentos entre 2026 e 2027, período para o qual os preços podem variar significativamente entre US$ 50 e US$ 60.

Uma alternativa seria prorrogar a execução de determinados projetos para um momento mais à frente, mas essa opção esbarra, dizem fontes, no fato de que o governo vai querer que a Petrobras mostre resultados de investimentos no último ano do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um ano eleitoral. A questão é como garantir níveis de investimento que sejam compatíveis com o fluxo de caixa em um cenário de menores preços do petróleo, sem aumentar a dívida. Um caminho pode ser focar nos projetos mais rentáveis.

No setor siderúrgico, a Usiminas reduziu a previsão de “capex” para um intervalo entre R$ 1,2 bilhão e R$ 1,4 bilhão. Antes, a projeção ia de R$ 1,4 bilhão a R$ 1,6 bilhão ao longo do ano. O motivo é que as importações de aço continuam elevadas, mesmo com o regime de cotas e tarifas de 25%.

A decisão da Gerdau é semelhante à da Usiminas, mas teve um tom mais político. O CEO Gustavo Werneck acusou a “ineficiência das autoridades” em garantir defesa comercial contra importações e anunciou corte de investimentos no Brasil. A companhia tem promovido desembolsos entre R$ 5 bilhões e R$ 6 bilhões nos últimos anos.

Os detalhes sobre o tamanho da redução serão divulgados durante o próximo dia do investidor da empresa, em outubro. A companhia já fez 1.500 demissões no país neste ano e deixou um recado claro de que, sem um ambiente competitivo justo, o Brasil perde espaço em seu mapa de capital. “Assim que o governo federal colocar medidas de defesa comercial, imediatamente a gente pode voltar com essas usinas”, disse o CEO.

A expansão das importações de aço, que respondem por quase 25% do abastecimento do mercado nacional, está levando quase toda a indústria siderúrgica nacional a rever para baixo os investimentos. Em maio de 2024, lideranças do setor, em reunião com o presidente Lula, previam investimentos de R$ 100 bilhões até 2029.

Este cenário mudou. Com ociosidade na casa de 35% na média, o Instituto Aço Brasil confirmou que vai rever a estimativa. “Ainda não temos os dados fechados, mas posso antecipar que o volume de investimentos será inferior ao previsto no ciclo anterior”, diz Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do instituto.

O movimento não se limita a energia e siderurgia. Raízen, Simpar e Assaí também adotaram uma postura de maior racionalização.

A Raízen priorizou ajustes de portfólio e disciplina financeira, diante de um cenário de juros altos e menor liquidez para projetos de longo prazo. A empresa já vem em processo de redução de investimentos e simplificação de negócios como meio para reduzir sua alavancagem. A companhia encerrou o primeiro trimestre do ano-safra 2025/2026 com endividamento líquido de R$ 49,2 bilhões, alta de 55,8% em um ano.

No ano-safra 2025/2026, o destaque é para a redução no “capex” sobre 2024/2025, de R$ 2,2 bilhões para R$ 1,7 bilhão. Entre os motivos estão a conclusão de grandes projetos, redução de despesas e no endividamento.

Um dos setores que mais empregam no país, o comércio varejista voltou a segurar investimentos neste ano, pressionado por aumento no custo do capital e endividamento. Desde 2020, o segmento vive de altos e baixos em seus planos de investimento, por conta da instabilidade no nível de demanda doméstica após a pandemia.

O comando do GPA, dono da rede Pão de Açúcar, disse em agosto que há foco maior na desalavancagem financeira por meio da geração de caixa, mas haverá também redução de investimentos, segundo afirmou a analistas, Rafael Sirotsky Russowsky, diretor vice-presidente de finanças.

O grupo falou em “redução significativa dos investimentos” e, também em agosto, anunciou que abriu mão de projeções anteriormente divulgadas referentes à abertura de 300 novas lojas de 2022 a 2026. Cerca de 70% da meta foi concluída até a metade do ano, mas a decisão de proteger caixa levou o grupo a puxar o freio de mão.

Na mesma linha, o Assaí reviu a expansão do número de lojas, por conta do foco em rentabilidade. A varejista informou, em maio, um corte pela metade da projeção de abertura de novas lojas no ano que vem, de 20 para 10 unidades, num esforço para diminuir desembolsos e reduzir a pressão da dívida.

Num eventual cenário de melhora do ambiente de taxa de juros e demanda, a empresa pode rever números para cima. Sobre o tema, GPA e Assaí confirmam as informações públicas já divulgadas.

Para alguns analistas, o espaço que se abre com o investimento mais baixo pode aumentar a possibilidade de pagar dividendos extraordinários. É o caso da Simpar, dona de empresas como JSL, Movida e Vamos, que informou recentemente o fim do ciclo de grandes aportes voltados à estruturação de seus negócios para, agora, buscar maior retorno aos acionistas.

Procuradas, Assaí, Gerdau, GPA, Vale, Usiminas, Raízen e Simpar não quiseram se manifestar.

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