Explosão ou reação? O alcance crescente da China testa o equilíbrio do Brasil

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Investimentos bilionários marcam avanço da China no Brasil, embora isso também gere polêmicas políticas e empresariais.

O volume de investimentos chineses confirmados no Brasil mais que dobrou no ano passado, já que as relações políticas e econômicas entre os gigantes permanecem em foco em meio às tensões geopolíticas globais.

Os investimentos chineses no Brasil totalizaram US$ 4,18 bilhões em 2024, um aumento de 113% em relação a 2023, segundo estudo do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC).

O número de projetos com investimentos chineses no país atingiu o recorde de 39 empreendimentos em 2024, representando um crescimento de 34% em relação ao ano anterior. Segundo o CEBC, o Brasil foi um dos principais destinos mundiais de investimentos chineses no ano passado, atrás apenas do Reino Unido (US$ 4,64 bilhões) e da Hungria (US$ 4,59 bilhões).

O setor de energia elétrica liderou a recepção de capital chinês, respondendo por 34% das operações, com ingressos de US$ 1,43 bilhão, 115% acima de 2023 e o maior crescimento relativo do setor desde 2019.

O setor petrolífero capturou 25% dos investimentos (cerca de US$ 1 bilhão), seguido pelo setor de automóveis (14%), mineração (13%), infraestrutura de transporte terrestre (12%) e fabricação de aparelhos elétricos (2%).

“Está cada vez mais evidente que as empresas chinesas têm diversificado seus projetos, investindo em um número crescente de setores e em mais estados brasileiros, o que gera novas conexões com atores econômicos locais,” disse Luiz Augusto de Castro Neves, presidente do CEBC e ex-embaixador do Brasil na China, durante a apresentação do estudo acompanhado pela BNamericas.

Desde o final da década de 2010, a China se tornou o maior parceiro comercial do Brasil, ultrapassando os Estados Unidos. Nos últimos anos, a China também se tornou uma das principais fontes de investimento direto do país.

“Olhando para o futuro, vemos um amadurecimento da relação Brasil-China do ponto de vista econômico. Essa relação começou com o comércio, está avançando para investimentos e se expandindo setorial e regionalmente. Quando pensamos na dinâmica atual da economia chinesa, vemos tecnologia, industrialização de ponta, consumo mais forte e aprendizado com outros mercados como áreas-chave de interesse”, disse Fabiana D’Atri, superintendente de economia da Bradesco Asset, braço de gestão de ativos do banco brasileiro Bradesco, que patrocinou o estudo.

Entre 2007 e 2024, empresas chinesas participaram de 303 projetos no Brasil, totalizando US$ 77,5 bilhões em investimentos.

Mineração

A mineração foi responsável por 13% do total de investimentos em 2024, totalizando US$ 556 milhões, sinalizando um renovado interesse chinês no setor.

Entre os destaques, está a aquisição da mineradora Taboca, no Amazonas, pelo China Nonferrous Metal Mining Group. A Taboca explora estanho, um insumo estratégico para tecnologias de transição energética, e também produz ferroligas com nióbio e tântalo, utilizadas em aços especiais para as indústrias naval, automotiva, química e eletrônica, além de aplicações em energias renováveis.

O interesse chinês na mineração brasileira continua em 2025.

Em fevereiro desse ano, a Anglo American chegou a um acordo definitivo para vender seus ativos de níquel no Brasil para a MMG Singapore Resources, uma unidade da estatal chinesa MMG, por US$ 500 milhões.

Infraestrutura

Em infraestrutura, o segmento de transporte terrestre representou 12% dos investimentos no ano passado, impulsionado pelo consórcio formado pela chinesa CRRC e pela brasileira Comporte, que venceu o leilão para construir e operar um trem de passageiros ligando São Paulo a Campinas.

Embora a CRRC já tenha fornecido trens para sistemas como a Supervia no Rio de Janeiro, este foi seu primeiro investimento direto em um projeto ferroviário de passageiros brasileiro, um marco significativo na cooperação bilateral, destacou o CEBC.

Em 5 de setembro, a portuguesa Mota-Engil venceu o leilão da PPP para construir o primeiro túnel submerso do Brasil, um projeto de R$ 6,8 bilhões (US$ 1,3 bilhão) no litoral do estado de São Paulo. A Mota-Engil conta com a chinesa CCCC como acionista-chave e participará da PPP patrocinada pelos governos federal e do estado de São Paulo.

“O papel da CCCC neste projeto vai muito além de ser uma acionista relevante da Mota-Engil. A CCCC será subcontratada e uma parceira qualificada, pois possui certificações relacionadas a projetos de imersão como este túnel,” disse Rafael Benini, secretário de Parcerias e Investimentos do estado de São Paulo, à BNamericas.

Controvérsias

No entanto, a entrada acelerada de investimentos chineses em diversos setores tem gerado controvérsias políticas e empresariais.

O Brasil, sob o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se aproximou da China, enquanto as relações com os Estados Unidos ficaram mais tensas, à medida que o presidente norte-americano Donald Trump busca interferir no cenário político brasileiro.

Recentemente, os Estados Unidos impuseram uma tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras, ressaltando que a decisão teve um caráter político. Trump alega que o ex-presidente de direita Jair Bolsonaro, que está sendo julgado por uma suposta tentativa de golpe após sua derrota eleitoral para Lula em 2022, está sendo perseguido politicamente.

Trump também reclamou repetidamente que os países dos BRICS, formados por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, estão trabalhando contra o dólar norte-americano ao tentar liquidar transações comerciais usando suas próprias moedas.

Enquanto isso, algumas empresas expressaram preocupações recentes sobre a crescente presença da China.

O Cade, órgão antitruste do país, iniciou recentemente uma investigação sobre a venda de ativos de níquel da Anglo American para a MMG, após uma denúncia. O Cade afirmou que avaliará o potencial impacto do negócio na concorrência na cadeia de suprimentos de níquel.

A medida ocorreu após a Corex Holding, ligada ao Grupo Yildirim da Turquia, se opor ao acordo. A empresa alega ter oferecido US$ 900 milhões, valor superior à oferta da MMG, mas foi rejeitada, segundo uma fonte familiarizada com o assunto, que conversou com a BNamericas.

O grupo turco está contestando o acordo tanto no Brasil quanto na UE, alegando riscos de concentração de mercado e ameaças à segurança do fornecimento para países ocidentais, dado o papel do níquel em baterias, veículos elétricos e aço inoxidável.

Apesar da pressão, é improvável que o Cade bloqueie o acordo, já que a MMG atualmente não tem operações no Brasil, o que torna difícil argumentar que ele cria concentração no mercado local, de acordo com um advogado antitruste e ex-membro do Cade consultado pela BNamericas.

Globalmente, o crescente papel da China no setor de níquel tem gerado reclamações. Muitas empresas acusam a China de inundar o mercado, principalmente por meio de investimentos indonésios, para deprimir os preços do níquel no curto e médio prazo, enfraquecer os concorrentes e garantir o controle a longo prazo.

Em infraestrutura, executivos também protestaram contra o fato de empresas chinesas ganharem contratos para fornecer materiais e equipamentos para projetos brasileiros sem ter uma presença local significativa ou criação de empregos.

“Juntamente com os governos locais, defendemos que as empresas chinesas fabriquem no Brasil os equipamentos necessários para os projetos brasileiros, para que enfrentem as mesmas condições tributárias e de custos que a indústria local. Não estamos pedindo vantagens, apenas igualdade de condições para competir com as empresas chinesas”, disse Vicente Abate, presidente da Abifer, Associação Brasileira da Indústria Ferroviária, à BNamericas.

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