Encerrada neste domingo (7), a 48ª Expointer foi marcada por contrastes: público recorde e bons resultados na agricultura familiar, mas forte retração nos negócios gerais, especialmente no setor de máquinas agrícolas. Ao longo dos nove dias da mostra, realizada no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio (RS), foram movimentados R$ 4,41 bilhões, o que representa uma queda de 45,5% em relação aos R$ 8,1 bilhões de 2024.
O principal impacto veio da comercialização de máquinas e implementos agrícolas, que caiu 51%, de R$ 7,39 bilhões no ano passado para R$ 3,77 bilhões em 2025. O segmento, que tradicionalmente é o motor do faturamento da Expointer, teve baixo movimento nos estandes, em um cenário de produtores descapitalizados e com dificuldades de acesso ao crédito.
Por outro lado, o evento registrou a maior visitação de sua história: 960.144 pessoas passaram pelo parque, superando em 16,8% o recorde anterior de 822 mil visitantes, de 2023. Também o Pavilhão da Agricultura Familiar alcançou resultado histórico, com R$ 13,6 milhões em vendas, alta de 25% sobre 2024.
Crise no campo e reflexos no setor
De acordo com o secretário estadual da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação, Edivilson Brum, a queda reflete o endividamento agrícola acumulado após sucessivos episódios climáticos adversos. “Sabemos que os números de comercialização em geral registraram queda. Isso se deve à significativa redução dos preços, que descapitalizou os produtores gaúchos e agravou o endividamento agrícola. Esse é o retrato da situação que temos debatido constantemente”, avaliou.
A diretora do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do RS (Simers), Ana Paula Werlang, destacou que 59% das vendas do setor foram feitas para produtores de fora do Estado, reforçando que não há crise estrutural nem demissões na indústria, mas um desaquecimento causado por juros altos e incertezas no setor rural.
Segundo ela, alguns nichos tiveram desempenho positivo, como máquinas para a construção civil — usadas na reconstrução de estradas e pontes — e equipamentos voltados à pecuária, setor que segue em expansão e com novos mercados externos sendo abertos.
Pecuária e demais setores
Na área de pecuária, 6.696 animais participaram das exposições e julgamentos. As vendas, no entanto, recuaram de R$ 18,9 milhões em 2024 para R$ 15,4 milhões neste ano. Já no setor de comércio e artesanato, os negócios somaram pouco mais de R$ 17 milhões.
O futuro presidente da Farsul, Domingos Velho Lopes, alertou que os reflexos da crise no agronegócio vão além do campo. “Os impactos econômicos irão se refletir também no meio urbano, na indústria e no comércio do RS”, afirmou.
Representantes de diferentes entidades ressaltaram o caráter da Expointer como espaço de debates e busca de soluções conjuntas. Para Marcos Tang, presidente da Federação da Associação Brasileira de Criadores de Animais de Raça (Febrac), mesmo os setores que tiveram bons resultados “estão no mesmo barco” e enfrentam incertezas.
Financiamentos e crédito
Os pedidos de financiamentos durante a feira totalizaram bilhões de reais, com destaque para o Banco do Brasil (R$ 1,4 bilhão) e Badesul (R$ 979 milhões). Entretanto, lideranças do setor avaliam que as linhas de crédito anunciadas pelo governo federal — cerca de R$ 12 bilhões para apoio a produtores — são insuficientes diante da gravidade do cenário.
O vice-presidente da Fetag-RS, Eugenio Zanetti, resumiu a preocupação: “Não há nada pior do que não saber como vai fazer o plantio em uma safra, às vésperas do início da semeadura, como estamos agora”.
Balanço final da Expointer 2025
Total de negócios: R$ 4,41 bilhões (queda de 45,5% em relação a 2024)
Máquinas e implementos agrícolas: R$ 3,77 bilhões (queda de 51%)
Agroindústria Familiar: R$ 13,6 milhões (alta de 25%)
Pecuária: R$ 15,4 milhões (queda em relação a 2024)
Artesanato e comércio: R$ 17,8 milhões
Público: 960.144 visitantes (recorde histórico)
A próxima edição da Expointer já está confirmada para o período de 29 de agosto a 6 de setembro de 2026, novamente em Esteio.