Financiamento climático no Brasil cresce 84% e impulsiona debate da indústria, aponta estudo

O fluxo de financiamento climático no Brasil cresceu 84% entre 2020 e 2022, atingindo uma média de R$ 26,6 bilhões anuais, segundo levantamento de 2025, da Climate Policy Initiative (CPI). O resultado, que supera em quase três vezes o crescimento global de 28% no mesmo período, foi debatido nesta quinta-feira (11) no evento Finanças Sustentáveis: Impulsionando o Futuro do Setor Produtivo.

Promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), em São Paulo, o encontro reuniu Joaquim Levy, especialistas e representantes do setor produtivo para discutir caminhos de descarbonização. Na abertura, o diretor de Relações Institucionais da CNI, Roberto Muniz, destacou a importância do financiamento climático para a competitividade da indústria brasileira.

“Temos um poder enorme, congregamos 27 federações, representamos 10,5 milhões de trabalhadores, mas ficamos presos ao que chamamos de Custo Brasil, que chega a 20,7% do PIB. Se não aproximarmos o setor privado da gênese das iniciativas de descarbonização da economia não avançaremos”, afirmou Muniz.

Ele apontou que, muitas vezes, na governança das iniciativas de descarbonização da economia, falta a presença da indústria, e que a mesa em que se decide o futuro precisa incluir quem cria empregos, inovação e competitividade.

Brasil em posição de protagonismo

O crescimento do financiamento climático coloca o Brasil em destaque internacional. Segundo Joaquim Levy, presidente do Conselho do Climate Finance Hub Brasil, isso reflete a base renovável da economia nacional e o uso crescente de alternativas sustentáveis, como eletricidade limpa e biomassa.

Levy destacou que as emissões da indústria brasileira já são baixas e que a maior parte das finanças do país já é verde. Ele disse que, embora o financiamento ainda seja insuficiente, o Brasil se destaca porque sua expansão é praticamente toda baseada em alternativas sustentáveis. “Essa deve ser uma mensagem central da COP30, e avançar com o mercado de carbono é uma das principais ferramentas para alavancar o protagonismo do país.”

SB COP conecta empresas às negociações globais

O encontro também reforçou a agenda da Sustainable Business COP (SB COP), iniciativa lançada pela CNI que amplia a participação qualificada do setor empresarial nas negociações climáticas. O grupo reúne propostas, experiências e soluções do setor privado com foco na transição para uma economia de baixo carbono.

Além disso, a indústria tem buscado maior articulação com os mecanismos de financiamento global. Nesse contexto, um dos grupos de trabalho da SB COP trata especificamente de Transição Financeira e Investimentos, conectando empresas aos debates internacionais sobre como ampliar e direcionar os fluxos de capital para projetos de descarbonização.

O chair da SB COP, Ricardo Mussa, explicou que a iniciativa tem representatividade global, reunindo cerca de 40 milhões de empresas. Segundo ele, envolver CEOs engajados, capazes de dialogar diretamente com governos e investidores, “permitiu criar uma rede de especialistas que traz soluções práticas, não apenas teóricas”. “Esse legado será uma marca de sucesso da SB COP mesmo após a COP30”, afirmou.

A COP30, que será realizada em Belém, dará continuidade às negociações iniciadas na COP29, em Baku, quando foi aprovada a Nova Meta Coletiva Quantificada de Financiamento Climático (NCQG), com objetivo de alcançar US$ 300 bilhões anuais até 2035, e aspiração de chegar a US$ 1,3 trilhão por ano em financiamento climático global. Em Belém, as discussões devem avançar sobre os mecanismos e instrumentos capazes de mobilizar esses recursos.

Financiamento climático: panorama do Brasil

De acordo com o estudo da CPI, 80% do financiamento climático no Brasil foi destinado à mitigação e 20% à adaptação, concentrando-se em agropecuária, florestas, uso da terra e pesca. O setor privado focou na mitigação, enquanto o setor público na adaptação.

O levantamento mostrou ainda que, nos últimos anos, os investimentos em energia sustentável cresceram significativamente:

R$ 20 bilhões em projetos de etanol de milho em 2024, com expectativa de mais R$ 40 bilhões nos próximos anos;

R$ 9 bilhões para biodiesel e mais de R$ 1 bilhão para biometano e etanol 2G;

R$ 55 bilhões em parques solares em 2024 e R$ 35 bilhões em 2025.

A restauração florestal também ganhou relevância, com iniciativas de empresas como Re.green, TIG, Mombas, Biomas e Ambipar, que captam recursos via BNDES, Fundo Clima, mercado de capitais e créditos de carbono.

Fontes e instrumentos de financiamento

Os recursos vêm de diferentes origens:

Públicas internacionais: Green Climate Fund (GCF), Fundo de Adaptação e instituições multilaterais;

Públicas nacionais: BNDES, Banco do Nordeste e linhas como FINEM, Fundo Clima e Eco Invest Brasil;

Privadas: investidores institucionais, bancos comerciais, fundos de capital de risco e mercados de capitais.

Entre os instrumentos disponíveis estão a taxonomia sustentável, que cria critérios claros para orientar investimentos, e títulos como green bonds, sustainability-linked bonds (SLBs) e CPR Verde. O mercado de carbono também se destaca: em 2023, o comércio regulado de carbono da União Europeia arrecadou €43,6 bilhões apenas com receitas de leilões.

Debates sobre soluções financeiras

Dois painéis do evento abordaram estratégias para ampliar o acesso a recursos globais e mobilizar capital privado:

O painel “Soluções de Financiamento Climático para o Brasil” contou com Cristina Reis, subsecretária de Desenvolvimento Econômico Sustentável do Ministério da Fazenda; Natalia Dias, diretora de Mercado de Capitais e Finanças Estruturadas para a América Latina e Caribe do BID Invest; e Luciana Ribeiro, CEO da eB Climate e chair do grupo de trabalho de Finançasd da SB COP.

O painel Inovações Financeiras para Mobilização de Capital Privado, moderado pelo superintendente de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, Davi Bomtempo, reuniu Cacá Takahashi, diretor da Associação Brasileira das Entidades do Mercado Financeiro e de Capitais (Anbima); Claudia Prates, diretora de Sustentabilidade da Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg); e Fabio Kono, assessor da Diretoria de Infraestrutura, Transição Energética e Mudanças Climáticas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Iniciativas brasileiras para a COP30

O encontro da CNI também abordou as propostas que o Brasil levará para o debate internacional da COP30, entre elas:

Tropical Forests Forever Facility (TFFF): busca captar até US$ 125 bilhões para remunerar a preservação das florestas tropicais;

Desenvolvimento de um sistema global de comércio de emissões;

Eco Invest: criado como parte do programa Novo Brasil, o fundo impulsiona investimentos privados sustentáveis e atrai capital externo para projetos de longo prazo, oferecendo instrumentos de proteção contra a volatilidade cambial.

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