O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) aprovou a Carta-Patente nº BR 102019019978-4, referente à invenção intitulada “Argamassa com resíduo do beneficiamento de scheelita, manipueira e aglomerante”, desenvolvida em parceria entre o IFPB e a UFRN. A tecnologia representa um importante avanço em inovação e sustentabilidade na área da construção civil, ao propor o reaproveitamento de resíduos industriais e agrícolas em substituição parcial de matérias-primas convencionais, como a areia e a água potável.
A pesquisa foi conduzida pelo professor Rayanderson Saraiva de Souza, atualmente docente do IFCE Campus Quixadá, durante o mestrado no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da UFRN, sob orientação do professor Wilson Acchar (UFRN) e coorientação do professor Vamberto Monteiro da Silva (IFPB). Segundo Rayanderson, a aplicação desses resíduos no setor da construção é viável e apresenta facilidades importantes, pois reduz o consumo de recursos naturais finitos, como areia e água potável, ao mesmo tempo em que agrega valor a resíduos antes considerados problemáticos do ponto de vista ambiental.
Também participaram a servidora e pesquisadora Janaina Anne Mota Melo e o professor Marcos Alyssandro Soares dos Anjos (IFPB), que atualmente orienta novos estudos na mesma linha. Para Janaina, a importância dessas novas opções de recursos se dá devido a necessidade de inovar o mercado da construção civil, bem como a patente “representa o coroamento de todo processo de pesquisa desenvolvido por várias pessoas ao longo de anos”.
A argamassa patenteada foi desenvolvida a partir da substituição do agregado miúdo pelo resíduo de scheelita, proveniente do beneficiamento do minério de tungstênio, e da substituição da água de hidratação pela manipueira, líquido resultante do processamento da mandioca. Essa combinação permite o aproveitamento de passivos ambientais abundantes na região do Seridó (RN e PB), promovendo uma alternativa tecnicamente viável, economicamente acessível e ambientalmente responsável.
A importância da invenção ultrapassa os laboratórios. Além de reduzir impactos ambientais e custos com insumos naturais, o dispositivo fortalece a transição para práticas de economia circular, destinando adequadamente resíduos que, de outra forma, poderiam contaminar o solo e as águas. Durante o processo de pesquisa, foi construído um protótipo em escala reduzida, uma pequena estrutura de alvenaria, com a argamassa ecológica, que demonstrou excelente desempenho prático e resistência ao intemperismo.
Atualmente, o grupo de pesquisa segue desenvolvendo novas soluções sustentáveis. Uma das linhas em andamento investiga o uso de areia reciclada proveniente de resíduos de construção e demolição, também associada à manipueira, mantendo o foco na substituição de insumos convencionais e na redução de impactos ambientais.
Para o professor Vamberto Monteiro da Sillva, é preciso uma força tarefa para convencer a sociedade da qualidade do material produzido com resíduos, quebrando os estereótipos sobre essas formas alternativas de produção. “É preciso tirar da cabeça das pessoas que só porque você está numa construção feita de resíduos, a qualidade é inferior”. Ele ressalta também a importância de valorizar esse material local, a exemplo da manipueira que é recolhida na cidade do Conde.
A patente da argamassa com resíduo de scheelita e manipueira consolida o compromisso do IFPB e da UFRN com a pesquisa aplicada, a inovação tecnológica e o desenvolvimento sustentável, reforçando o papel das instituições públicas na criação de soluções científicas com impacto real na sociedade.