Indústria de caminhões vive queda prolongada e pressiona governo por medidas emergenciais

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A indústria brasileira de caminhões atravessa um período crítico. Mesmo com sinais positivos da economia — como projeções de crescimento do PIB e uma safra robusta no agronegócio para 2025 — o setor segue patinando, acumulando quedas sucessivas tanto na produção quanto nas vendas. O clima de alerta foi reforçado pelo presidente da Anfavea, Igor Calvet, na apresentação do balanço do setor automotivo, na segunda-feira, 8, quando voltou a cobrar do governo federal ações imediatas para destravar o mercado.

As fábricas de caminhões registraram em novembro o quarto mês consecutivo de recuo. Foram produzidas 9,6 mil unidades, 5,5% abaixo de outubro e 21,7% a menos que no mesmo mês de 2024. No acumulado do ano, a queda chega a 9,3% — 118,4 mil veículos fabricados — ritmo que acompanha a retração da demanda interna. Para Calvet, os altos juros e a dificuldade de acesso ao crédito formam a barreira mais evidente à retomada.

“Esperamos que as conversas com as autoridades avancem para que alguma medida de curto prazo seja tomada. Caso contrário, teremos um 2026 muito complicado de produção e vendas, ainda mais pelas instabilidades típicas de anos eleitorais”, afirmou o dirigente, que desta vez evitou repetir o termo “colapso”, usado no mês anterior.

O diagnóstico do setor aponta para dois caminhos possíveis. O primeiro é o programa de renovação de frota, debatido há décadas no Brasil, mas nunca implementado de fato. O segundo envolve a criação de linhas de crédito mais competitivas. Hoje, segundo Calvet, o Finame opera com juros similares aos de um CDC convencional, porém com mais burocracia — um cenário que desestimula o comprador. A Selic, hoje em 15%, tem previsão de início de queda no fim do primeiro trimestre de 2026, mas seus efeitos no financiamento ao consumidor só devem aparecer entre seis e nove meses depois, o que prolonga o estrangulamento da demanda.

As vendas de caminhões confirmam o desaquecimento. Em novembro, foram 8,9 mil unidades emplacadas, queda de 12,3% em relação ao mesmo mês do ano passado e de 16,3% frente a outubro. No acumulado de 2025, o recuo é de 8,7%, totalizando 103,7 mil unidades vendidas. A maior preocupação está nos pesados, que respondem por 45% do mercado e acumulam queda de 20% no ano. Embora o segmento semileve registre retração ainda maior, cerca de 25%, sua representatividade é pequena — apenas 5% dos emplacamentos.

Para a Anfavea, o cenário é paradoxal: mesmo com atividade econômica em expansão e demanda potencial do agronegócio, a combinação de juros altos e incertezas eleitorais trava os investimentos. “É preciso, de maneira urgente, mecanismos para destravar o mercado de caminhões a fim de impulsionar a produção”, reiterou Calvet, mencionando também a necessidade de rever itens como o IOF nas operações de financiamento.

O desempenho externo é um dos raros pontos positivos. As exportações somaram 2,1 mil unidades em novembro, alta de 8,8% frente a igual mês de 2024, embora 9,1% menores que em outubro. No acumulado do ano, os embarques crescem 65%, com 26,1 mil caminhões enviados a outros países — um alívio limitado, já que o mercado brasileiro absorve a maior parte da produção e define o humor das montadoras instaladas no país.

Com a proximidade de 2026 e a perspectiva de um ambiente político mais turbulento, a Anfavea intensifica suas pressões por medidas emergenciais. Para a entidade, sem estímulos no curto prazo, o próximo ano poderá consolidar uma fase ainda mais dura para o setor — que já opera com capacidade ociosa crescente e enfrenta, mês a mês, o distanciamento entre a recuperação macroeconômica e a realidade dura do mercado de caminhões.

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