Indústria naval em retomada aquece demanda por aço e reativa cadeia produtiva nacional

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Após anos de retração, a indústria naval brasileira vive um novo ciclo de otimismo. O anúncio de investimentos da Petrobras, aliado ao fomento público e ao reaquecimento de estaleiros, marca o início de uma fase de reconstrução de capacidades produtivas e de reposicionamento do país no cenário marítimo. A retomada do setor, ainda em estágio inicial, já começa a movimentar a cadeia de suprimentos e promete aquecer a demanda por aço — insumo central para a construção de embarcações e plataformas.

Nos últimos dias, a Petrobras confirmou a aplicação de R$ 2,6 bilhões na Bahia, destinados à reativação do Estaleiro Enseada, na região de Maragogipe, e à contratação de seis embarcações de apoio marítimo offshore. O movimento reforça a política de conteúdo local e o compromisso do governo federal em reconstruir a capacidade produtiva do setor naval, estratégica para a soberania energética e para o desenvolvimento industrial.

Paralelamente, o Fundo da Marinha Mercante (FMM) voltou a ter papel de destaque. Em 2024, o fundo liberou cerca de R$ 31 bilhões para 430 projetos — o maior volume em 12 anos —, abrangendo desde a construção e reparo de embarcações até a infraestrutura portuária. Essa injeção de recursos, somada à perspectiva de novos contratos para a área de apoio offshore e cabotagem, recoloca o Brasil em um mapa de produção naval que estava esvaziado desde a crise do setor na década passada.

O impacto imediato dessa movimentação é sentido na cadeia siderúrgica. A construção de embarcações demanda grandes volumes de chapas grossas de aço, usadas em cascos, convés e estruturas internas. Siderúrgicas nacionais, como a ArcelorMittal, já demonstram interesse em ampliar o fornecimento para o segmento, mirando o nicho de aços de alta resistência e certificação naval. O produto requer qualidade técnica superior, capaz de suportar corrosão, pressão e longos ciclos de uso em ambientes marítimos.

Segundo analistas do setor, a retomada dos estaleiros e a perspectiva de novas encomendas podem gerar um aumento de 20% a 30% no consumo interno de aço naval nos próximos dois anos. Além das chapas, o renascimento da indústria deve impulsionar também os mercados de tubulações, cabos elétricos, sistemas de soldagem, pintura industrial e componentes estruturais.

Apesar do otimismo, o setor enfrenta gargalos. Dos 48 estaleiros existentes no país, 15 ainda estão desativados ou sem demanda ativa, e o déficit de mão de obra qualificada é apontado como o maior desafio para sustentar o crescimento. Empresas e sindicatos pressionam por programas de formação profissional e atualização tecnológica, a fim de atender às exigências de uma indústria mais automatizada e sustentável.

Outro ponto de atenção é o equilíbrio de custos. A volatilidade do preço do aço e a dependência parcial de importações de chapas grossas podem afetar a competitividade dos estaleiros. Para contornar o problema, o governo estuda ampliar o uso do regime Drawback Embarcação, que reduz tributos na importação de insumos destinados à exportação de embarcações, fortalecendo a competitividade internacional.

A conjunção de investimentos públicos, reativação de estaleiros e demanda crescente por aço cria um ambiente favorável para a recuperação da indústria naval nacional. Se confirmadas as expectativas de novas encomendas da Petrobras e de operadores privados, o Brasil poderá retomar, até 2027, parte da capacidade produtiva que o colocou entre os maiores construtores navais do hemisfério sul.

A navegação pode ser longa, mas o setor parece, enfim, de volta ao rumo.

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