Indústria no Nordeste aposta em renovável

Imagem da notícia

Com 86,8% da potência já instalada proveniente de fontes renováveis e receptora 63% dos projetos de energia solar e 89% de energia eólica em implementação no Brasil nos próximos anos, a região Nordeste é o protagonista natural dos investimentos que buscam o chamado powershoring – ou a realocação de cadeias que miram a descarbonização e a segurança energética. A região também conta com 18 polos onde já existem indústrias intensivas em energia e que poderiam ser reconvertidas para uso de fontes limpas.

É o que mostra um estudo produzido pela consultoria Ceplan que será apresentado esta quinta-feira (23) em um seminário sobre como acelerar investimentos do powershoring na região, organizado pelo Consório Nordeste, Banco do Nordeste e Instituto Clima e Sociedade (ICS).

Das 18 áreas, duas se localizam no Maranhão (Açailândia e São Luís), três no Ceará (Caucaia, Eusébio e Maracanaú), quatro em Pernambuco (Cabo de Santo Agostinho, Igarassu, Ipojuca e Paulista), quatro em Alagoas (Coruripe, Marechal Deodoro, Rio Largo e São Luís do Quitunde) e cinco na Bahia (Camaçari, Candeias, Feira de Santana, Simões Filho e Vitória da Conquista).

São cidades cuja economia se especializou em indústrias que demandam grande quantidade de energia, como metalurgia e siderurgia, produtos químicos, alimentos, produtos de minerais não metálicos e produtos de borracha e de material plástico, mas também fabricação de produtos têxteis e veículos automotores.

“São indústrias que alimentam o mercado doméstico ou produzem para exportação e podem fazer a transição para a energia renovável como forma de atrair grupos estrangeiros que têm necessidade de demonstrar a acionistas que suas plantas são descarbonizadas”, diz o economista Paulo Ferraz Guimarães, um dos responsáveis pelo estudo.

Ele explica que mudar a fonte de energia que alimenta uma indústria não é algo simples. “Muitas vezes é preciso ter adaptação em termos de procedimentos, de maquinário, talvez do processos produtivos”, diz. Trilhar esse caminho, por outro lado, oferece oportunidade de trazer para essas indústrias processos mais eficientes e sustentáveis e elevar sua inserção nas cadeias globais de valor.

A reconversão de plantas existentes é apenas um dos caminhos pelos quais o powershoring pode crescer no país.

O Nordeste, que já têm 45,1 gigawatts (GW) de capacidade instalada e previsão de outros 104,6 GW a serem implementados nos próximos anos, além de estrutura portuária importante e proximidade de mercados consumidores como Europa e EUA, é um destino natural de empreendimentos que miram o processo de descarbonização da economia, diz o economista da Universidade de Brasília e colunista do Valor, Jorge Arbache, que criou o termo “powershoring”. A questão é entender por que essa agenda não tem avançado na velocidade imaginada.

“Acredito que as respostas são duas. Primeiro, o comércio de produtos verdes enfrenta vários obstáculos que vêm dos países desenvolvidos, na forma de barreiras tarifárias e não tarifárias que se tornaram grande obstáculo para seu desenvolvimento. Essa agenda causa grande tensão sobre setores de países que não gozam das mesmas condições para produzir, por exemplo, aço verde, cerâmica verde ou hidrogênio verde. Uma competição direta seria flagrantemente prejudicial para algumas empresas”, diz, citando como exemplo o CBAM, sigla para Mecanismo de Ajuste de Fronteira de Carbono, imposto que a UE cobrará, a partir de 2026, pelas emissões de carbono de produtos que importa.

A questão é que, sem comércio, não há investimento, resume Arbache. “Muitos países ainda não entenderem que o powershoring é fundamental para combater a ‘inflação verde’ [aumento de preços causado pela necessidade de investimento em processos e insumos mais sustentáveis] em suas próprias economias” lamenta.

O segundo entrave está na própria compromisso da União e dos Estados em vender a agenda, com coordenação e políticas necessárias. “A Nova Indústria Brasil (NIB), por exemplo, trata apenas indiretamente do tema. As empresas precisam sentir um compromisso mais firme, como a criação de fundos específicos, instrumentos de garantias de operação [de-risking]. Os Estados precisam se coordenar melhor, não pode cada um ir para um lado”, critica.

Outro exemplo da falta de coordenação é na questão do financiamento, diz Guimarães. Ao mesmo tempo em que o país sofre com sobreoferta de energia em determinados horários do dia, situação que tem obrigado o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) a determinar que usinas renováveis diminuam ou interrompam a geração de energia – o curtailment -, grande parte dos recursos existentes para a área ainda está focado na questão da oferta.

Diante desses entraves, uma das poucas áreas que têm avançado com mais rapidez neste tema é a questão dos combustíveis, afirma Arbache, que foi vice-presidente de Setor Privado do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF).

“É uma das poucas em que o compliance fala por si. Foram estabelecidas regras de descarbonização e as empresa precisam cumprir, não é nenhuma gentileza. Mas existem outros setores altamente emissores, como aço alumínio, petroquímico – só eles respondem por algo como 30% das emissões globais -, que precisam passar por descarbonização, não tem solução. E isso implica encontrar soluções que parem em pé financeiramente. E elas não existem em muitos lugares de Europa, EUA ou Japão. Muitos destes países, aliás, reduziram seus investimentos na transição energética, o que significa ainda mais oportunidade para o Brasil e o Nordeste.”

Compartilhe esse artigo

Açogiga Indústrias Mecânicas

A AÇOGIGA é referência no setor metalmecânico, reconhecida por sua estrutura robusta e pela versatilidade de suas operações.
Últimas Notícias