Numa reviravolta surpreendente nas Nações Unidas, o presidente Donald Trump mencionou a boa química que teve com o presidente Lula durante um breve encontro. Em seguida, os dois líderes tiveram uma conversa positiva por telefone em 6 de outubro. Dada a controvérsia sobre a acusação e condenação do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro por ameaças à democracia, observadores do Brasil poderiam ser perdoados ao perguntar por que Lula responderia positivamente à aproximação de Trump. O presidente americano impôs tarifas históricas de 50% contra o Brasil, país com que os Estados Unidos têm superávit comercial, e usou a Lei Magnitsky Global contra o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e sua mulher, por causa da condenação de Bolsonaro.
Os canais restabelecidos criam uma oportunidade para ir além das diferenças políticas e chegar a áreas em que as duas maiores democracias das Américas podem e devem começar a cooperar. Uma área óbvia para colaboração são os minerais críticos, que o Brasil tem em abundância e de que o resto do mundo precisa urgentemente. Há clara necessidade de diversificação do setor, especialmente no caso das terras-raras. A China domina a cadeia de abastecimento de elementos de que todos os países precisam para alimentar o século XXI. Produz 69% das terras-raras do mundo, processa 90% e é responsável pelo processamento de quase 99% das pesadas, controlando o fornecimento de ímãs especializados e outros bens industriais vitais. A menos que outras nações construam relações e cadeias de abastecimento alternativas que proporcionem acesso às matérias-primas e à capacidade de refiná-las, a China pode cortar o fornecimento a qualquer momento.
O controle total de materiais tão cruciais por uma única nação não é desejável nem sustentável. O Brasil está em posição única para ajudar o mundo a diversificar as cadeias de suprimento de terras-raras e outros minerais críticos. Dono de algumas das maiores reservas, poderia emergir como novo líder global no desenvolvimento do setor. E poderia fazê-lo subindo na cadeia de valor, por meio do desenvolvimento doméstico e da colaboração com investidores de todo o mundo.
A liderança brasileira na diversificação da cadeia de abastecimento de terras-raras ajudaria a estabilizar o mercado de recursos vitais à transição energética global e forneceria os insumos necessários a produtos industriais e tecnológicos em rápida evolução. O Brasil provavelmente acrescentaria o benefício de métodos de extração e produção midstream mais ecológicos que os da China. Os países da União Europeia — ansiosos por diversificar suas relações comerciais e cadeias de abastecimento por meio de acordos como o tratado comercial com o Mercosul, enviado para aprovação dos Estados-membros — poderiam ser excelentes parceiros para o desenvolvimento de terras-raras no Brasil. O mesmo poderia acontecer com empresas americanas, já que o governo Trump prioriza cadeias de suprimento diversificadas para minerais críticos.
Se o Brasil conseguir superar as barreiras internas ao rápido desenvolvimento e impulsionar o avanço do setor de minerais críticos, ele estará pronto para decolar. A tensão na política comercial do governo Trump com o Brasil pode ser superada com foco em áreas de interesse mútuo — e, certamente, os minerais críticos, como as terras-raras, se encaixam nessa categoria.
Brasil e Estados Unidos têm alternativas para promover seus interesses independentemente um do outro. Mas, neste momento de incerteza, uma parceria pragmática em torno de minerais críticos representa uma oportunidade histórica para promover a prosperidade e a competitividade nas próximas décadas em ambos os países.
*James Story, embaixador e assessor sênior da Dinamica Americas, foi cônsul-geral dos Estados Unidos no Rio de Janeiro, Ricardo Zúñiga, diplomata e cofundador da Dinamica Americas, foi cônsul-geral dos Estados Unidos em São Paulo