Josh Enlow compra e vende tratores usados todos os dias, lotando um enorme estacionamento em Tulsa, Oklahoma, com centenas de máquinas agrícolas e de construção. Sua base de clientes mudou recentemente, pois produtores que compravam apenas máquinas novas agora estão vindo ao seu Leilão de Tratores em Enlow interessados em seus equipamentos usados.
“Os aumentos nos preços de veículos novos definitivamente levaram as pessoas de volta ao mercado de usados”, disse Enlow.
O preço de tabela de tratores novos aumentou pelo menos 60% nos últimos oito anos, de acordo com a Extensão da Universidade de Illinois, com alguns modelos mais que dobrando de preço, custando pelo menos US$ 250 mil a mais do que antes.
Isso é uma má notícia para empresas como a John Deere, principal fornecedora de máquinas agrícolas nos Estados Unidos. A empresa registrou lucro recorde há dois anos, mas as tarifas e as políticas comerciais do presidente americano, Donald Trump, estão tornando o mercado mais desafiador e imprevisível para a empresa e seus clientes.
Uma das maiores fabricantes do país está pior agora do que há seis meses. No mês passado, a John Deere informou que o lucro líquido do seu último trimestre caiu 29% em relação ao ano anterior. Tarifas mais altas, principalmente sobre o aço, mas também sobre o alumínio, custaram à empresa US$ 300 milhões até o momento, com quase outros US$ 300 milhões previstos até o final do ano. Neste verão (no hemisfério norte), a empresa demitiu 238 trabalhadores em fábricas em Illinois e Iowa.
No entanto, a John Deere é exatamente o tipo de potência industrial que Trump diz querer mais nos Estados Unidos. A empresa, com sede em Moline, Illinois, fabrica equipamentos agrícolas desde 1837. Seus tratores, colheitadeiras e pulverizadores verdes e amarelos ajudam os agricultores a alimentar o país e a produzir bilhões de dólares em safras para exportação.
A empresa emprega 30 mil trabalhadores em 60 instalações em todo o país e afirmou que mais de 75% de suas máquinas foram montadas nos Estados Unidos. Apenas 25% dos componentes usados em seus produtos vêm de países estrangeiros, afirmou a John Deere.
A demanda por novos equipamentos agrícolas é determinada principalmente pelos preços das safras. Quando os preços das safras estão altos, os agricultores com muito dinheiro compram novos equipamentos. Quando os preços das safras caem, eles se apegam a um trator antigo ou consideram com mais atenção o mercado de usados.
Os preços estão baixos no momento, com o milho sendo vendido por 50% das máximas registradas em meados de 2022. Os preços da soja caíram 40% no mesmo período.
A John Deere disse que espera que as vendas de grandes máquinas agrícolas — a fonte da maior parte de sua receita — caiam de 15 a 20 por cento em 2025 e que o mal-estar continuaria em 2026.
A John Deere não quis comentar.
Na mais recente teleconferência de resultados da empresa, Josh Beal, diretor de relações com investidores, disse que os clientes estavam “operando em mercados cada vez mais dinâmicos” devido a tarifas, altas taxas de juros e um ambiente de comércio global em mudança que “gera cautela ao considerar compras de capital”.
A produtividade das safras de milho e soja deve atingir níveis quase recordes neste outono, de acordo com projeções do Departamento de Agricultura dos EUA. Embora isso seja uma boa notícia se houver muitos compradores — agricultores americanos exportaram US$ 13 bilhões em soja para a China em 2024 —, novas políticas tarifárias enfraqueceram a demanda chinesa.
Após o anúncio de tarifas pesadas sobre produtos chineses por Trump neste ano, a China impôs tarifas retaliatórias à soja americana em março. As exportações de soja para a China caíram 51% este ano, e o país não fez nenhuma compra antecipada de soja para a próxima safra.
Espera-se que os produtores americanos recebam US$ 3,4 bilhões a menos por sua safra de soja do que no ano passado, de acordo com o Departamento de Agricultura.
Para muitos produtores, os preços são tão baixos que eles perdem dinheiro em cada acre plantado.
“Como empresas e agricultores podem planejar a longo prazo quando não se sabe qual será o custo dos insumos ou como estará o mercado nas próximas semanas?”, questionou Tad DeHaven, pesquisador de políticas do Cato Institute, um think tank que defende o livre mercado. “Essas empresas, seja a John Deere, uma cervejaria artesanal ou qualquer outra, estão tentando navegar por essa situação. Elas estão se esforçando ao máximo para cortar custos e se manterem no mercado.”
Tratores novos representam um dos maiores custos para os agricultores, então, para economizar dinheiro, eles estão optando por consertar suas máquinas ou talvez comprar outras mais baratas ou menos potentes.
No entanto, alguns dos problemas da John Deere começaram antes mesmo da mudança nas políticas tarifárias. Houve um excesso de máquinas da empresa paradas nas concessionárias no início do ano passado. Em resposta, a empresa operou em suas fábricas com produção bem abaixo da capacidade, demitindo mais de 2 mil profissionais.
Também ofereceu taxas de financiamento mais atrativas aos compradores para a liquidação do estoque. Era para ser uma despesa de curto prazo para impulsionar uma recuperação de longo prazo em 2025 e 2026, afirmou a empresa na época.
“Acreditamos fundamentalmente que essas ações levarão a uma dinâmica de ciclo mais favorável do que em crises anteriores”, disse John May, presidente-executivo da empresa, em uma teleconferência de resultados em agosto de 2024.
Em vez disso, espera-se que as vendas permaneçam fracas no futuro próximo.
Kristen Owen, diretora-gerente da Oppenheimer & Company, ainda acredita que 2026 será um ano melhor para a John Deere. As mudanças na depreciação de bônus na lei de impostos e gastos recentemente aprovada podem ajudar a aumentar as vendas da empresa. A regra permite que os agricultores recebam imediatamente um grande desconto fiscal na compra de equipamentos.
E como os concorrentes da John Deere, como Kubota, Fendt e Mahindra, fabricam mais máquinas no exterior, espera-se que sejam duramente afetados pelas tarifas sobre máquinas estrangeiras.
As mudanças na depreciação de bônus impulsionarão as vendas, disse Owen. A John Deere está indo bem em alguns mercados estrangeiros, acrescentou ela, e seus negócios com equipamentos de construção podem ganhar força no próximo ano.
“A expectativa é de que, mesmo que a demanda seja fraca, ainda haja crescimento nos lucros em 2026”, disse ela.
Mas enquanto a incerteza generalizada persistir, os agricultores hesitarão em fazer compras caras. Eles não sabem quando, ou se, as exportações em larga escala para a China serão retomadas, ou se uma nova lei agrícola aumentará os subsídios ou os programas de apoio à renda. Eles não sabem se o Federal Reserve, o Banco Central norte-americano, cortará as taxas de juros ou se os preços do aço permanecerão altos.
Todos no setor agrícola estão acostumados a riscos difíceis de controlar, já que calor, chuva, pragas e doenças desempenham um papel fundamental na lucratividade, disse Owen. O que está se mostrando ainda mais difícil de controlar é o que ela chamou de “risco da caneta”, o risco de que, com a caneta de um político, tudo mude novamente.