A coluna Sustentáculos de hoje (13) não poderia abordar outro tema que não fosse a COP30, em Belém. O professor José Eli da Veiga admite que ainda é cedo para se fazer algum balanço do evento, mas deixa aqui um alerta: “É que não fica claro que a maioria das pessoas esteja percebendo o que é essa tal de transição energética, tão falada, tão repetida.
O que a gente tem assistido é um aumento muito positivo, até em certo sentido surpreendente, de energias renováveis, basicamente, voltadas à eletricidade. Quer dizer, a energia eólica, a energia solar e os carros elétricos são os três fatores que vão num sentido muito positivo, nem sempre quando se realça isso se associa a um problema que é absolutamente ligado”.
Na sequência, ele esclarece melhor seu ponto de vista: “Tanto a solar como a eólica, como os veículos elétricos, estão aumentando muito a demanda por bens que são produzidos com energias fósseis, ou seja, aumentando a demanda de energias fósseis.
A rigor não é bem uma transição, mas vamos supor, como é impossível dizer que não é transição, então vamos admitir o seguinte, que é uma transição simbiótica, quer dizer, quanto mais eu produzo de energias renováveis, essas três ligadas à eletricidade, mas eu aumento a demanda, por exemplo, da indústria metalúrgica, porque para fabricar um painel solar ou um uma torre eólica, por exemplo, evidentemente eu preciso de muita atividade de uma indústria que ainda não descobriu, por mais que muitos industriais dessa área se esforcem, é uma barreira tecnológica.
Dá a impressão, assim, de que não só se subestima isso, mas o efeito dessa subestimação é não levar em conta que muito mais do que acertos em COPs, o que pode realmente vir a mudar o panorama do aquecimento global é o surgimento de inovações, no mínimo inovações como essa que eu apontei, quer dizer, em todos os ramos industriais e dos transportes etc., até agora não afetados por nenhum tipo de renovação na direção às renováveis, mas talvez até bem mais longe, a própria fusão nuclear controlada”.
*José Eli da Veiga, Professor sênior do Instituto de Estudos Avançados – USP