Preocupado com a queda nos lucros e os cortes de empregos em toda a indústria automobilística, o chanceler da Alemanha defende que a União Europeia dê às montadoras — e não aos reguladores em Bruxelas — a liberdade de decidir como alcançar a meta do bloco de reduzir de forma significativa as emissões de carbono.
Após se reunir com os chefes das montadoras alemãs e outros representantes do setor automotivo, o chanceler Friedrich Merz prometeu na quinta-feira, 9, pressionar a União Europeia para que recue na política que proíbe a venda de novos veículos que emitam carbono a partir de 2035. A regulamentação tem sido amplamente interpretada como uma proibição dos motores a combustão.
“Vou pressionar para que sejam tomadas decisões na União Europeia que possibilitem um avanço tecnológico abrangente e a neutralidade climática”, disse Merz. “Não com uma data no calendário que não podemos cumprir, que é irrealista, mas com uma perspectiva clara que também abra as oportunidades de futuro necessárias para as empresas na Alemanha.”
Atingidas pela queda na demanda de clientes na China, o maior mercado automotivo do mundo, as montadoras alemãs têm visto as vendas de seus carros diminuírem de forma constante nos últimos anos. As tarifas impostas pelo presidente Trump só pioraram a situação.
A Porsche juntou-se nesta quinta-feira à BMW e à Mercedes-Benz ao registrar vendas mais fracas na China, onde os consumidores têm preferido marcas locais mais baratas, como BYD e Xiaomi. Na quarta-feira, 8, as ações da BMW despencaram 7% após a empresa reduzir sua previsão de lucro e fluxo de caixa, citando as tarifas dos EUA.
A dor é sentida em comunidades por toda a Alemanha, onde a indústria automobilística eliminou cerca de 51,5 mil empregos entre junho de 2024 e 2025, segundo um estudo da EY. Grupos do setor começaram a alertar que novas perdas podem aprofundar a divisão política no país.
Como parte dos esforços da Alemanha para fortalecer a indústria e tornar os veículos elétricos mais atraentes, Merz anunciou um incentivo de € 3 bilhões (cerca de US$ 3,5 bilhões), destinado a ajudar famílias de baixa renda a comprar carros elétricos. O programa começará no próximo ano e terá duração de três anos.
Merz e os líderes do setor reforçaram repetidas vezes seu apoio à meta da União Europeia de avançar rumo à mobilidade totalmente elétrica. Mas as montadoras alemãs argumentam que os consumidores ainda não estão convencidos da tecnologia e que a infraestrutura de recarga nos 27 países do bloco ainda é insuficiente para eliminar o medo de ficar sem energia na estrada.
As fabricantes alemãs defendem que a regra seja flexibilizada para permitir veículos híbridos — que têm motor a combustão e elétrico — e também motores a combustão que funcionem com combustíveis ambientalmente sustentáveis.
Hildegard Müller, presidente da Associação Alemã da Indústria Automotiva, destacou que 70% dos empregos na indústria automobilística alemã estão ligados às exportações. Ao mesmo tempo, ela observou que diferentes países estão apostando em tecnologias diferentes.
“Se quisermos manter nossos números de vendas e, portanto, também nossos níveis de emprego aqui, precisamos estar em posição de oferecer diversos tipos de tecnologias climaticamente neutras, só por essa razão”, afirmou Müller.
A Alemanha terá de convencer outros países da União Europeia a apoiarem sua posição e espera que nações com grandes indústrias automobilísticas, como República Tcheca, França, Hungria, Itália e Espanha, se unam a ela.
Mas, no mês passado, mais de 150 empresas do setor de veículos elétricos — incluindo Samsung, Uber e as montadoras Volvo e Polestar — assinaram uma carta aberta pedindo à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que mantenha o compromisso com a meta de 2035.
“Nossas empresas e setores comprometeram centenas de bilhões de euros em novos investimentos, já criando mais de 150 mil novos empregos, desde gigafábricas de baterias na França e na Alemanha até fábricas de automóveis novas ou reformadas na Eslováquia e na Bélgica”, dizia a carta.
“Adiar a meta de 2035 ou ampliar o foco após essa data para tecnologias de transição menos eficientes travaria esses avanços coletivos, minaria a confiança dos investidores e entregaria permanentemente a vantagem aos concorrentes globais”, acrescentaram as empresas.