Lucas Rocha Lima: Transnordestina, o trem que o Brasil esperava

Ainda neste mês, o Brasil verá partir o primeiro trem da Ferrovia Transnordestina, uma obra aguardada por quase duas décadas. Não é apenas um evento logístico: é um marco para o Nordeste e para a matriz de transportes de cargas do país.

Cada composição ferroviária tem o potencial de remover centenas de caminhões nas estradas, descongestionando rodovias, reduzindo custos logísticos, acidentes e emissões de poluentes. Além disso, poderá gerar diversos empregos, diretos e indiretos, estimulando e desenvolvendo a economia, tanto regional quanto nacional.

Para o produtor nordestino, significa maior competitividade para os seus produtos. Para o Brasil, representa uma matriz de transporte de cargas mais equilibrada e sustentável, em um momento em que a questão ambiental é essencial para a viabilidade dos negócios.

A ferrovia permitirá ao interior do Nordeste escoar seus produtos agrícolas e minerais por rotas ferroviárias até portos aptos a receberem navios de grande porte, com custos menores e maior confiabilidade logística. Tudo isso estimula o desenvolvimento econômico local, reduz desigualdades regionais e abre espaço para novos investimentos.

Nesse processo, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) tem exercido um papel decisivo. Como indutora do desenvolvimento econômico e sustentável do país, coube à agência reguladora autorizar o início da operação do tráfego de trens, nos primeiros 680 km de linha férrea construída pela concessionária Transnordestina Logística S/A (TLSA), do total de 1.206 km da ferrovia, contemplando, entre outros, os municípios de Paes Landim, Simplício Mendes e Paulista, no Piauí; Trindade e Salgueiro, ambos em Pernambuco; e Missão Velha e Iguatu, estes situados em solo cearense.

As operações comerciais nesse trecho se darão com a origem tendo o carregamento em Bela Vista do Piauí (PI) e destino com descarregamento em Iguatu (CE), através das quais serão transportadas mercadorias como grão, algodão, minérios, gesso/gipsita e contêineres.

Cabe ressaltar que, para autorizar a abertura ao tráfego de trens para o início das operações ferroviárias, a ANTT estabeleceu as condições mínimas de segurança jurídica, técnica e regulatória, de forma a assegurar os padrões de qualidade e confiabilidade, como toda ferrovia deve observar.

A permissão para o início da circulação dos trens, em regime de comissionamento (regime de testes), está diretamente vinculada à deliberação da Diretoria Colegiada da ANTT, cuja reunião se deu na última quarta-feira (8), que autorizou oficialmente o começo das operações. Esse ato regulatório é o passo concreto que transforma o projeto em realidade.

Nesse ato da agência constam as ressalvas e restrições necessárias para assegurar uma operação comercial alinhada com as melhores práticas de segurança ferroviária, que em resumo consistem em: 1 – reduzir o risco intrínseco às operações de ferrovias em trechos recém-construídos (limitando as velocidades e realizando as operações assistidas); 2 – ampliar a capacidade de resposta (com maquinistas treinados e supervisão de manutenção); 3 – implementar medidas de monitoramento rigoroso (baseado em inspeções e relatórios técnicos); e 4 – informar a comunidade sobre o tráfego de trens para mitigar riscos de acidentes.

A Transnordestina é uma ferrovia regional que se projeta como causa nacional. Para o Brasil, representa a retomada da ferrovia como vetor estratégico de transporte de carga. Aproxima o Nordeste dos mercados nacionais e fortalece a malha ferroviária integrada.

É verdade que ainda há desafios, mas o início da operação já é uma vitória: a prova de que o Brasil pode transformar promessas em trilhos reais.

A Transnordestina é mais do que um empreendimento de infraestrutura. É um caminho de desenvolvimento regional e integração nacional. O Nordeste agradece. E o Brasil também.

*LUCAS ASFOR ROCHA LIMA

Diretor da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT)

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