O município de Mariana, na região Central de Minas Gerais, avançou nos trâmites para reduzir a dependência econômica da mineração. Em outubro deste ano, o Executivo Municipal autorizou o início das obras de um novo distrito industrial, que deve atrair empresas de outros setores para a cidade. A iniciativa ocorre uma década após o rompimento da barragem de Fundão, da mineradora Samarco.
Em entrevista ao BHAZ, o prefeito Juliano Duarte (PSB) afirma que a ação faz parte de um pacote voltado a garantir a estabilidade da receita municipal. Atualmente, a mineração é responsável por cerca de 80% dos ganhos da cidade. De acordo com ele, serão investidos cerca de R$ 15 milhões na construção do parque.
“A intenção é atrair empresas que não estejam diretamente ligadas à mineração, para que possamos promover outras formas de desenvolvimento econômico”, afirma.
Juliano ressalta que o objetivo é reduzir a dependência do setor mineral, responsável por grande parte da movimentação financeira do município. “A mineração pode um dia ir embora, então é importante que a prefeitura tenha outras fontes de receita, com empresas que paguem impostos e garantam sustentabilidade econômica”, diz.
O novo distrito industrial, que deve ser entregue em fevereiro de 2026, contará com 14 lotes variando entre 3 mil e 5 mil metros quadrados destinados à instalação das empresas. A prefeitura está elaborando um edital para seleção dos interessados, e, segundo o prefeito, já existem negociações em andamento, embora os nomes das empresas ainda não possam ser divulgados.
‘Justiça ainda não foi alcançada’
Em conversa com o BHAZ, o prefeito, que comanda o primeiro mandato na gestão municipal, alega que “o município ainda não recebeu sua justa reparação”. Mariana é uma das 23 cidades mineiras que rejeitaram o acordo de reparação pelos danos do desastre de Fundão. Os municípios alegam que 4% dos R$ 170 bilhões pagos pela Samarco serão repassados às cidades afetadas, enquanto a maior parte do valor ficará com os governos federal e estadual.
“Mariana não assinou porque infelizmente a repactuação que aconteceu no Brasil não ouviu as prefeituras. Os prefeitos não foram ouvidos. Mariana é o município mais atingido, que teve 19 pessoas que perderam as vidas e vida não tem preço. Tivemos duas comunidades que sumiram do mapa sua história, sua cultura, sua tradição, sua memória”, pontua.
O prazo para adesão do termo, homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), terminou em março deste ano. Segundo a Samarco, 26 dos 49 municípios aptos a aceitar o acordo de reparação assinaram a proposta.
De acordo com o chefe do executivo, o acordo ofereceria cerca de R$ 1,2 milhão para a cidade, o que não chega a 1% do valor total estipulado. O montante é considerado desproporcional aos impactos econômicos sofridos após a tragédia, que levou a uma queda de 70% na arrecadação do município.
“Muitas empresas fecharam as portas, muitos comerciantes quebraram, muitas pessoas perderam o emprego. Mariana chegou a um índice de desemprego de de quase que 30% que nunca aconteceu no na sua história”, diz.
Outro problema é o tempo definido para o pagamento: “Demorou nove anos para que o acordo fosse assinado e, depois que o acordo é assinado, os prefeitos vão receber em 20 anos. Então, nós estamos falando de 29 anos para que os prefeitos possam receber de forma integral os valores no Brasil”.
Tragédia de Mariana
O rompimento da barragem de Fundão, controlada pela mineradora Samarco, ocorreu em 5 de novembro de 2015, no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, na região Central de Minas Gerais. O colapso liberou cerca de 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro, que destruíram comunidades inteiras, causaram a morte de 19 pessoas e deixaram um rastro de devastação ambiental ao longo do Rio Doce.
O desastre é considerado o maior da história da mineração no Brasil e um dos maiores do mundo. A lama percorreu mais de 600 quilômetros até atingir o Espírito Santo, comprometendo o abastecimento de água, a fauna e a flora da região. Dez anos depois, a reconstrução das comunidades atingidas e a reparação integral dos danos ainda são desafios em andamento.