
O Senado do México aprovou nessa quarta-feira (10) o aumento das tarifas de importação sobre Brasil, China e outros nove países com os quais os mexicanos não têm acordo comercial.
A proposta inicial incluía taxas de até 50%, mas a maioria foi reduzida para cerca de 20% ou 35%, e apenas em alguns casos a taxa original foi mantida.
No caso brasileiro, foram afetados itens como automóveis e autopeças, têxteis e vestuário, calçados, eletrodomésticos, produtos siderúrgicos, plásticos e móveis. Em 2024 o Brasil exportou US$ 7,8 bilhões para o México.
Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a decisão do México de aumentar as tarifas de importação pode afetar US$ 1,7 bilhão em exportações da indústria brasileira.
A proposta aprovada prevê aumento das tarifas de importação sobre 983 produtos de 19 setores industriais, afirma a entidade. O Brasil seria o quinto país mais afetado, com as tarifas incidindo sobre 232 produtos da indústria de transformação brasileira, que somaram US$ 1,7 bilhão e representaram cerca de 14,7% das exportações para o México em 2024.
“A proposta mexicana de elevação tarifária pode aumentar os custos de produção e impactar negativamente os fluxos de comércio e investimentos entre os dois países”, afirma estudo da CNI.
Os acordos comerciais vigentes entre Brasil e México não neutralizam os impactos da proposta de elevação tarifária, diz confederação. Brasil e México celebraram, em agosto deste ano, um plano de trabalho para atualizar os acordos comerciais bilaterais, mas as discussões ainda estão em andamento.
A confederação defende que os governos brasileiro e mexicano intensifiquem o diálogo bilateral para evitar impactos negativos da medida. Também pede que a negociação de um novo acordo comercial seja acelerada.
Procurado, o governo brasileiro não retornou os pedidos para comentar a decisão.
O projeto de lei mexicano foi votado em meio à pressão comercial dos EUA. Na terça-feira (9), a Câmara dos Deputados já havia votado a proposta da presidente Claudia Sheinbaum, que agora precisa publicá-la para que as novas tarifas entrem em vigor em 1º de janeiro de 2026.
Além de China e Brasil, os países afetados incluem África do Sul, Coreia do Sul, Emirados Árabes Unidos, Índia, Indonésia, Nicarágua, Tailândia, Taiwan e Vietnã.
As tarifas afetarão 1.463 classificações tarifárias em 17 setores como automotivo, têxtil, vestuário, siderúrgico, plásticos, eletrodomésticos, móveis e calçados, entre outros, principalmente produtos chineses. Dessa relação, 316 classificações não têm cobrança de impostos atualmente.
O Ministério do Comércio da China afirmou que a medida traz “prejuízos substanciais” e lamentou a decisão unilateral mexicana.
Em apoio à reforma, os legisladores do partido do governo enfatizaram que ela busca fortalecer o setor industrial do México, promover a criação de empregos e expandir as cadeias de suprimentos.
A proposta “tem como único objetivo fortalecer a economia nacional”, afirmou o senador Juan Carlos Loera, do partido governista Morena, durante o debate.
Segundo a emissora de televisão N+, os produtos impactados representam US$ 52 bilhões das importações do México, o que representa 8,6% do total. A expectativa do governo é que 320 mil empregos sejam preservados no país com a medida.
Sheinbaum apresentou a proposta em setembro, em meio à crescente pressão comercial de Trump e acusações de que o México é a porta de entrada para produtos chineses nos EUA.
O México, juntamente com o Canadá, prepara-se para negociar a renovação do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (T-MEC) com os Estados Unidos, enfrentando novas exigências da Casa Branca.
Trump também alertou repetidamente que gostaria de usar a força militar contra os cartéis de drogas no México, o que Sheinbaum considerou inaceitável. Recentemente, ele suavizou sua posição, à medida que o México aumentou a cooperação em segurança, imigração e comércio.
“Essas tarifas coincidem com uma onda de restrições comerciais nos Estados Unidos, o que levanta uma questão central: o México está definindo sua própria política comercial ou está reagindo a Washington, ou pior, obedecendo a Washington?”, questionou Mario Humberto Vázquez, do partido da oposição PAN.
Sheinbaum rejeitou as críticas, argumentando que essa medida faz parte do Plano México, projeto lançado por ela para fortalecer o mercado interno, reduzir a dependência de importações de terceiros países e gerar uma maior proporção de conteúdo nacional. (Com Jéssica Sant’Ana, de Brasília)