Criada em 2020 pelo empresário canadense Louis Gignac Sr. e seu filho Louis-Pierre Gignac, a G Mining Ventures Corporation (GMIN), listada na Bolsa de Toronto e originada de uma companhia especializada na construção de minas, colocou em operação no Brasil, há pouco mais de um ano, uma das maiores minas de ouro bertas no país nos últimos tempos. Tocantinzinho, em Itaituba, no Sul do Pará, foi montada para produzir anualmente 175 mil onças (uma onça de ouro equivale a cerca de 31,1035 gramas) do metal, o equivalente a 5,5 toneladas.
O investimento, decidido em 2022, quando o ouro era cotado na casa dos US$ 2 mil a onça, beirou meio bilhão de dólares — exatamente US$ 481 milhões. A produção comercial teve início em setembro de 2024, gerando no ano 40.147 onças. A vida útil da mina é de pouco mais de 10 anos com as atuais reservas.
Tocantinzinho está localizada a 104 km da cidade de Morais Almeida, a uma certa distância da BR-153 e do rio Jamanxin. A reserva aurífera está situada na região do rio Tapajós, local da maior corrida de ouro do País na década de 1970 até o final de 1990. Entre 622 e 933 toneladas de ouro tipo aluvião foram extraídas dali pela atividade garimpeira, estimou o antigo Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM), desde 2017 repaginado como Agência Nacional de Mineração (ANM).
Em entrevista ao Estadão, por e-mail, o CEO da companhia, Louis-Pierre Gignac, e Eduardo Leão, vice-presidente de Sustentabilidade, disseram que o foco da GMIN, neste momento, está na operação de Tocantinzinho, na construção do projeto Oko West, na Guiana, e em avançar nas pesquisas e prospecções da reserva aurífera Gurupi, no Maranhão, adquirida um ano atrás da anglo-australiana BHP.
Veja abaixo detalhes da entrevista:
O atual cenário dos preços do ouro estimula as empresas do setor a investir mais, por exemplo, em exploração para novas descobertas, ou a acelerar projetos que estão em fase de tomada de decisão?
Os preços mais altos do ouro ajudam o setor como um todo, mas nossas decisões de investimento não oscilam com o ciclo de preços. Para nós, o ambiente atual simplesmente reforça uma estratégia já em vigor: avançar com projetos que tenham sido tecnicamente desprovidos de riscos e continuar investindo em exploração que possa prolongar a vida útil da mina ou construir o próximo projeto.
A filosofia de alocação de capital da G Mining equilibra o investimento em crescimento com os gastos em exploração e a disciplina financeira. A empresa está gastando aproximadamente US$ 20 milhões em exploração em 2025 em suas três propriedades e provavelmente continuará e aumentará com o tempo, à medida que o fluxo de caixa crescer.
Quando a empresa tomou a decisão de avançar com o projeto Tocantinzinho em 2022, no valor de quase meio bilhão de dólares, qual era o corte do custo caixa da mina? Qual era o piso para o projeto, considerando a reserva e a geração de ouro por tonelada de minério?
O modelo econômico base no estudo de viabilidade de Tocantinzinho em 2022 utilizava um preço de ouro de longo prazo de US$ 1,6 mil a onça. O VPL (Valor Presente Líquido, que mede a viabilidade de um projeto) após impostos era de US$ 622 milhões, com uma TIR (Taxa Interna de Retorno), após impostos, de 24,2%.
O custo médio total sustentável durante a vida útil da mina para o projeto foi estimado em US$ 681 a onça e a estimativa inicial de capex foi de US$ 458 milhões, ou US$ 225 a onça. Portanto, o projeto exigia um preço do ouro a longo prazo de aproximadamente US$ 1.100 a onça para gerar uma TIR de dois dígitos.
A mina deve fechar este ano com produção de 175 mil onças ou poderá atingir 200 mil onças?
Nossa produção para 2025 será um pouco superior a 175 mil onças.
A empresa tem um projeto na vizinha Guiana que é duas vezes maior que Tocantinzinho. A decisão de investimento já foi tomada? Esse seria um projeto para daqui a três anos?
O conselho de administração da G Mining aprovou formalmente a construção completa do projeto Oko West no mês passado. Esse projeto, na Guiana, será a próxima etapa de crescimento da empresa. É um ativo de grande porte, longa duração, baixo AISC (All-In Sustaining Cost, que descreve o custo total de sustentação das operações), totalmente licenciado e financiado, sem ônus.
Oko é o maior projeto de ouro atualmente em construção no mundo: produção média de 350 mil onças ao ano, levando a produção total da GMIN a bem mais de 500 mil onças anuais em 2028. A construção está avançando rapidamente — a primeira produção de ouro está prevista para o segundo semestre de 2027 —, dentro do prazo e do orçamento.
O projeto Gurupi, no Brasil, em que estágio se encontra? Qual é a vida útil esperada, considerando a reserva medida atual? Poderia ser chamado de “Novo Tocantinzinho”?
Gurupi avançou de forma importante este ano, depois que uma decisão do Tribunal Federal de Justiça, em julho, removeu as barreiras de licenciamento herdadas do projeto. Essa decisão nos permitiu reiniciar todo o processo de licenciamento ambiental. Desde então, reiniciamos o trabalho de diagnóstico ambientais e social para o EIA-RIMA. Em novembro, também iniciamos o programa inaugural de perfuração, que testará extensões próximas à mina e alvos regionais importantes.
O recurso atual — 1,8 milhão de onças na categoria indicada, juntamente com onças inferidas adicionais — fornece uma base para uma operação de longa duração. A escala final dependerá dos resultados dessa nova perfuração, da sequência de licenciamento e dos estudos de engenharia que se seguirão. Se Gurupi se tornará “um segundo TZ” será determinado pelas próximas fases do trabalho, mas a geologia e a posição do terreno lhe dão o potencial para se tornar um projeto desse calibre.
Na fase de exploração mineral (incluindo todo o processo até a validação da reserva), quanto a empresa está investindo este ano no Brasil e quanto prevê para 2026?
Nossos gastos com pesquisa no Brasil este ano são de aproximadamente US$ 8 milhões, direcionados principalmente para perfuração próxima à mina e alvos regionais ao redor de Tocantinzinho e Gurupi. Os cinturões minerais do Brasil continuam amplamente inexplorados e vemos um forte potencial para descobertas adicionais dentro de nossos pacotes de terras. O orçamento para 2026 será finalizado em breve, mas esperamos que seja um pouco maior do que o de 2025.
Quais são os maiores desafios da mineração de ouro no Brasil?
O Brasil tem um potencial geológico excepcional, mas grande parte do país ainda é pouco mapeada, especialmente nas faixas de fronteira, onde ocorrem a maioria das novas descobertas. Isso coloca mais responsabilidade nas empresas para financiar e executar os trabalhos iniciais (geologia, geofísica, perfuração) antes que um projeto seja bem definido. A infraestrutura também pode variar muito de Estado para Estado, e o processo de licenciamento envolve etapas municipais, estaduais e federais, o que pode adicionar tempo, dependendo da jurisdição.
Apesar desses desafios, o Brasil oferece vantagens significativas: um código de mineração estabelecido há muito tempo, amplo acesso à energia renovável e um grande pool de talentos técnicos locais. Para empresas que se envolvem de forma precoce e consistente com as comunidades, o Brasil também oferece a oportunidade de construir relacionamentos fortes e duradouros que apoiam a entrega do projeto.
Para empresas com experiência no desenvolvimento de projetos de grande escala em regiões remotas, essas condições criam oportunidades reais. É aí que a G Mining Ventures se destaca. Nossa equipe tem um longo histórico de construção de minas em ambientes complexos, e essa capacidade nos permite avançar em projetos como Tocantinzinho e Gurupi de forma eficiente e responsável.
Na sua avaliação, com o preço atual do ouro — e se ele chegar perto de US$ 5 mil em um ano — isso deve acelerar uma onda de aquisições e fusões? A G Mining vem crescendo por meio de aquisições. Essa é a estratégia?
A GMIN não depende de aquisições para atingir seus objetivos. No entanto, a equipe continua avaliando oportunidades, especialmente na América do Sul, onde temos experiência operacional e vantagens competitivas. Os critérios de fusões e aquisições da empresa se concentram na escala e no estágio de desenvolvimento. Essa abordagem está alinhada com a competência principal da empresa: pegar projetos avançados com recursos estabelecidos e levá-los rapidamente à produção.
A família Gignac, que controla a G Mining Ventures, tem planos de abrir o capital da empresa na bolsa americana Nasdaq? Hoje, me parece que ela está apenas na TSX, com um valor de mercado de mais de US$ 4 bilhões.
Revisamos nossa estrutura de mercado de capitais à medida que a empresa cresce, mas não temos planos, neste estágio, de buscar uma listagem na Nasdaq. A TSX fornece a plataforma de que precisamos e não estamos buscando levantar capital no mercado dos EUA. Uma listagem nos EUA também traz custos adicionais, requisitos regulatórios e complexidade, e esses fatores teriam que agregar valor significativo para nossos acionistas. Não é o caso para nós no momento. Nosso foco, neste momento, está em operar Tocantinzinho, construir Oko West e avançar com Gurupi.