Mineradora e Glencore podem se unir em cobre

A Vale deu mais um passo para dobrar a produção de cobre, metal importante na transição energética, até 2030. A mineradora anunciou ontem que a subsidiária Vale Base Metals (VBM), com sede no Canadá, assinou acordo com a suíça Glencore para avaliar o potencial de desenvolvimento conjunto de uma área de cobre já explorada na região canadense da Bacia de Sudbury, em Ontário.

A intenção é que, caso a parceria evolua, VBM e Glencore formem joint venture para explorar a região. Em comunicado ontem, a Vale destacou que, ao longo de 21 anos, poderão ser extraídas 880 mil toneladas de cobre, com custo de US$ 1,6 bilhão a US$ 2 bilhões. A decisão final de investimento é esperada para o primeiro semestre de 2027.

As primeiras conversas entre as duas companhias começaram há 20 anos. Ontem, no comunicado, a Vale afirmou: “O acordo estabelece uma estrutura para explorar as significativas sinergias da mineração dos depósitos subterrâneos de ambas as empresas.” A Glencore tem na região infraestrutura da mina “Nickel Rim South”.

No Vale Day, encontro da Vale com investidores realizado este ano em Londres, o presidente da VBM, Shaun Usmar, disse que, sem a Vale, a única alternativa da Glencore seria fechar essa mina. Para a Vale, por sua vez, não seria economicamente atrativo investir em infraestrutura no local.

“Temos trabalho a fazer até a primeira metade de 2027 para juntar nossos equipamentos, nosso time, fazer acordos, trabalhar com nossos ‘stakeholders’ [partes interessadas] e colaboradores, porque existem diferentes sindicatos e várias outras coisas que precisamos [avançar]”, disse Usmar. “A oportunidade agora é como podemos melhorar os retornos, encontrar maneiras de reduzir a intensidade de capital, e, se pudermos, trazer [o projeto] mais cedo”, afirmou. O potencial de produção pode ser maior a depender de descobertas.

As 880 mil toneladas em 21 anos significam 21 mil toneladas de cobre em média por ano e o total de 42 mil toneladas anuais se considerados minérios associados, caso de níquel e cobalto, disse Usmar. Os analistas Leonardo Correa e Marcelo Arazi, do BTG Pactual, disseram, em relatório, que o acordo com a Glencore é uma forma de a Vale aumentar a exposição ao cobre sem comprometer volume significativo de capital.

A possibilidade de acordo com a Glencore acontece em um momento considerado estratégico. A empresa anunciou que deve terminar 2025 com produção de cerca de 370 mil toneladas de cobre, cumprindo a meta fixada em 2024. Para 2026, a expectativa é de produção ente 350 mil e 380 mil toneladas, chegando a um volume entre 420 mil e 500 mil toneladas em 2030. Em 2035, o volume chegaria a 700 mil toneladas anuais.

No minério de ferro, carro-chefe da Vale, a empresa prevê fechar 2025 com produção de 335 milhões de toneladas, o topo da meta do Vale Day de 2024. Para o ano que vem, pequena redução: no evento de 2024, a Vale previa produzir entre 340 milhões e 360 milhões de toneladas em 2026, volume reduzido agora para um intervalo ente 335 milhões e 345 milhões de toneladas. Para 2030, a empresa estima extrair 360 milhões de toneladas do produto.

Outra commodity relevante para a eletrificação e a transição energética, o níquel deverá fechar 2025 com produção de 175 mil toneladas, o topo do “guidance”. Para 2026, a mineradora espera extrair entre 175 mil e 200 mil toneladas, com volume entre 210 mil e 250 mil toneladas em 2030.

No evento de ontem, o presidente da Vale, Gustavo Pimenta, reconheceu que o mercado ainda tem desconfiança sobre a entrega das metas pela empresa porque, no passado, o prometido nem sempre foi entregue. Ele disse que muitos dos projetos que hoje entram em operação ou que seguem como planejados estão no portfólio há mais de uma década. A previsão de investimentos da Vale para 2026 fica entre US$ 5,4 bilhões e US$ 5,7 bilhões, em linha com os cerca de US$ 5,5 bilhões de 2025.

Uma palavra repetida por Pimenta e por executivos da companhia ontem foi “endowment”, conceito usado para definir os ativos de uma empresa. “O potencial da Vale está em trazer os ativos para a produção”, disse Pimenta, em entrevista coletiva ao ser perguntado sobre a possibilidade de abrir o capital da VBM. O IPO, disse, pode ser uma opção futura, mas hoje essa discussão não é o foco. Uma eventual abertura de capital da VBM entrou no radar desde que a Vale fechou, em julho de 2023, a venda de 13% da VBM para a saudita Manara Minerals e para o Engine No.1, fundo de investimento da Califórnia, por US$ 3,4 bilhões.

No minério de ferro, a Vale já disse que quer voltar a ser a principal produtora mundial. Mas a empresa também quer escalar o ranking de valor de mercado, no qual desceu degraus depois das tragédias com as barragens da Samarco, em Mariana (MG), e da própria Vale, em Brumadinho (MG). Em Londres, a empresa reforçou a mensagem não só de que vai cumprir as entregas de produção, mas também se comprometeu com a estabilidade operacional, com o aumento da segurança e com a consistência na remuneração aos acionistas.

“A Vale tirou vários problemas do caminho”, diz o analista do Itaú BBA, Daniel Sasson, que conversou com a reportagem antes do Vale Day. Nos últimos anos, a empresa resolveu a sucessão do presidente e fechou o acordo definitivo de Mariana. “Com esses pontos ‘extra-campo’ sendo resolvidos, o pessoal tem ficado mais preocupado com a parte operacional, que tem ido super bem”, disse Sasson, para quem o minério de ferro acima de US$ 100 por tonelada ajuda na geração de caixa da companhia. Ontem, os contratos para janeiro na bolsa de Dalian fecharam a US$ 113, 19 por tonelada.

Fonte ouvida pelo Valor diz que a ação da Vale está “barata” frente aos concorrentes não pelo negócio em si, mas porque a percepção de risco ainda é acentuada na comparação com outras mineradoras. Para a fonte, a empresa ainda é vista como dependente do minério de ferro e da demanda chinesa, em momento em que o crescimento chinês é mais fraco. “Isso sozinho já puxa o múltiplo para baixo”, diz. Ontem, a Vale fechou com valor de mercado de US$ 58,1 bilhões, acima de Fortescue (US$ 44,2 bilhões) e Anglo (US$ 40,2 bilhões), mas atrás de Rio Tinto (US$ 116,2 bilhões) e da BHP (US$ 142 bilhões), segundo o Valor Data.

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