Montadoras recorrem a megaliquidações para conter desaceleração nas vendas de veículos

Imagem da notícia

A desaceleração nas vendas de carros novos no varejo brasileiro tem levado montadoras e concessionárias a promover uma onda de campanhas agressivas em todo o país. De Fiat e Volkswagen a Peugeot, Caoa Chery, BYD e Toyota, as fabricantes recorrem a uma ampla variedade de incentivos — descontos elevados, juros zero, bônus por troca de seminovos e até carregadores elétricos gratuitos — numa tentativa de reaquecer o mercado no último trimestre do ano.

Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as vendas no varejo recuaram 8,1% nos nove primeiros meses de 2025, caindo de 775 mil para 750 mil unidades em relação ao mesmo período do ano anterior. No sentido oposto, as vendas diretas — destinadas a frotistas, empresas e locadoras — cresceram 11,1%, saltando de 595 mil para 662 mil veículos. O desequilíbrio reforça a necessidade de ações mais agressivas no varejo tradicional, o que se reflete na enxurrada de campanhas promocionais nas concessionárias.

Entre as mais destacadas está a ação “Dia D” da Fiat, realizada entre 16 e 19 de outubro, com descontos de até R$ 24 mil e bônus de R$ 11 mil na troca de usados. Voltada especialmente a produtores rurais e autônomos com CNPJ, a marca oferece, por exemplo, o Cronos 1.3 MT a R$ 93.930 — redução de R$ 18 mil sobre o preço original. A picape Strada, líder de vendas no país, também entra na lista com condições especiais de financiamento de 12 a 14 meses.

No Espírito Santo, as concessionárias ampliaram ainda mais as ofertas. A Toyota apresentou o maior desconto do mercado: a Hilux 4x4D STD Power Pack Automática caiu de R$ 288.990 para R$ 236.971,80, uma redução de R$ 52 mil para produtores rurais e pessoas jurídicas. Na mesma linha, Jeep, Peugeot, Citroën, Hyundai, Mitsubishi e Kia anunciaram bônus e condições diferenciadas de pagamento, com prazos estendidos e entrada facilitada.

A Caoa Chery, que mantém mais de 200 pontos de venda no país, realiza neste fim de semana o “Caoa Day”, com condições especiais em toda a linha. O destaque é o Tiggo 7 híbrido, oferecido por R$ 159.990 — preço inferior ao da versão a combustão. A montadora ainda oferece a primeira parcela apenas após o Carnaval, estratégia semelhante à adotada por concorrentes como Mitsubishi e Hyundai, que estenderam prazos de pagamento e mantêm supervalorização de seminovos.

No segmento de veículos eletrificados, a chinesa BYD segue apostando em incentivos robustos. Com fábrica recém-inaugurada em Camaçari (BA), a empresa lançou a campanha “48 horas mais eletrizantes do Brasil”, oferecendo juro zero, carregador grátis e bônus na troca de usados. Modelos como Dolphin Mini, Song Pro e Song Plus Premium podem ser adquiridos com taxas de 0% e parcelas a partir de R$ 999, além de recompra garantida com valor mínimo de 80% da Tabela Fipe. Apesar da produção local, os preços dos modelos ainda não apresentaram reduções significativas.

A explicação, segundo especialistas do setor, está na elevada carga tributária que incide sobre a indústria automotiva brasileira. Mesmo com fabricação nacional, o custo final do veículo continua pressionado por tributos como IPI, ICMS, PIS e Cofins, que podem representar até 44% do valor total de um carro. Esse cenário, conhecido como “Custo Brasil”, soma-se a despesas logísticas e cambiais, limitando a margem de manobra das montadoras para cortes expressivos de preço.

De acordo com fontes do setor, flutuações cambiais ainda exercem influência decisiva sobre o valor dos componentes importados, tornando o mercado instável e dificultando a redução dos preços ao consumidor. A situação afeta inclusive marcas que ampliaram a produção local, como a própria BYD, que enfrenta o desafio de equilibrar custos de fabricação e competitividade diante das taxas elevadas.

Enquanto isso, outras fabricantes buscam alternativas para atrair o público. A Peugeot mantém descontos de até R$ 21 mil e bônus de R$ 9 mil na troca de usados em modelos como o 2008 Allure T200 AT, além de oferecer a primeira revisão gratuita em pacotes de manutenção. Já a Volkswagen promove o “Volks Festival” em várias capitais, combinando exposição de modelos e test-drives com condições diferenciadas de financiamento.

Concessionárias independentes também entraram na onda promocional. No Espírito Santo, lojas como Prime Hyundai, Omoda/Jaecoo Prime e Prime Mitsubishi anunciaram bônus que variam entre R$ 15 mil e R$ 25 mil, taxa zero de juros e prazos de pagamento estendidos até 2026. A Kia Plena adicionou incentivos extras como primeira revisão e emplacamento gratuitos. Até empresas de serviços automotivos, como a Contauto Autocenter, aderiram ao movimento, oferecendo pacotes de manutenção e troca de óleo com descontos de até 30% até o fim de outubro.

A intensificação das campanhas reflete um cenário em que o consumidor está mais cauteloso e seletivo, diante da inflação persistente e do crédito ainda caro. Com o poder de compra reduzido, os brasileiros têm adiado a troca de veículos, obrigando as montadoras a recorrerem a estratégias de curto prazo para movimentar os estoques.

Apesar do esforço promocional, analistas alertam que o setor dificilmente verá uma queda estrutural nos preços sem uma reforma tributária abrangente e medidas que reduzam o chamado “Custo Brasil”. Até lá, a expectativa é de que as montadoras continuem apostando em feirões, bônus e condições diferenciadas para sustentar o interesse do consumidor e evitar maior retração nas vendas.

Compartilhe esse artigo

Açogiga Indústrias Mecânicas

A AÇOGIGA é referência no setor metalmecânico, reconhecida por sua estrutura robusta e pela versatilidade de suas operações.
Últimas Notícias