O tarifaço de Donald Trump a produtos brasileiros completou na semana passada três meses de vigência. O Brasil ainda negocia com os Estados Unidos a retirada das tarifas de 50%. Enquanto isso, setores afetados pelas tarifas encontram alternativas para direcionar a produção e não sair no prejuízo.
O que aconteceu?
Setor moveleiro conseguiu reverter baque inicial ao revisar rotas comerciais e estratégias de preços, diz entidade. Países da América Latina, como Uruguai e Argentina passaram a comprar mais esses produtos do Brasil. Em agosto, as exportações de móveis e colchões diminuíram 14,5% na comparação com julho. Porém, em setembro, houve aumento de 9,3%, segundo a Abimóvel (Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário) com base em informações do Ministério da Fazenda.
Ao privilegiar destinos com acordos comerciais mais favoráveis e menos barreiras, também conseguimos trabalhar com margens de preços mais equilibradas.Abimóvel (Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário)
Valor exportado subiu. De US$ 60,8 milhões registrado em agosto, o total exportado passou para US$ 66,5 milhões, em setembro. Porém, a soma neste período foi menor do que no ano passado. Em agosto de 2024, foram US$ 62,7 milhões, enquanto em setembro de 2024 foram US$ 67,6 milhões.
Estados Unidos é o principal importador de móveis e colchões brasileiros. A participação do país é 26,1%. Na sequência vem Uruguai (11,1%), Chile (7,4%), Argentina e Paraguai (ambos com 5,3%). Os percentuais são do acumulado de janeiro a setembro de 2025.
Porém, participação dos EUA na importação de móveis e colchões brasileiros vem diminuindo. Entre janeiro a setembro de 2023, o índice ficou em 32,2%. Já no mesmo período de 2024 ficou em 30,3%, enquanto em 2025 ficou em 26,1%. Conforme a Abimóvel, isso é reflexo não apenas do tarifaço, mas de uma iniciativa dos fabricantes de diversificar mercados e evitar dependências.
Ao atingir os negócios no principal destino dos móveis brasileiros, a medida tem levado o setor a revisar rotas comerciais e estratégias de precificação, entre outros fatores que contribuíram para uma reação positiva no mês seguinte.Abimóvel
Setor de máquinas e equipamentos aumentou vendas na América do Sul para compensar perdas. Em setembro, a Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) observou que houve uma expansão das vendas para a América do Sul de 18,5%, o que compensou as perdas no mercado norte-americano. Um dos países que passaram a comprar mais máquinas e equipamentos foi a Argentina, com aumento de 47,2% em outubro na comparação com setembro.
Valor exportado em máquinas e equipamentos oscilou. As exportações de máquinas e equipamentos brasileiros atingiram US$ 1,262 bilhão em agosto, mostrando uma queda de 0,5% em relação ao mês anterior (julho), segundo a agência Estadão. Já em setembro somou US$ 1,325 bilhão, com crescimento de 5,1% frente a agosto, enquanto em outubro, as exportações totalizaram US$ 1,26 bilhão, total considerado “estável” na comparação com setembro.
Porém, valor exportado neste ano é maior em relação ao ano passado. As exportações em agosto deste ano registraram aumento de 33,6% na comparação com o mesmo mês de 2024. Já em setembro de 2025 houve crescimento de 1,8% e, em outubro deste ano, de 33,6% em relação aos mesmos meses do ano passado.
Aquisições de máquinas e equipamentos brasileiros pelos EUA recuaram 31,6% em outubro deste ano em comparação ao mês anterior. Em setembro, a queda foi de 10%. “Os sinais de enfraquecimento já eram claros: em setembro, praticamente todos os segmentos, com exceção de máquinas para logística e construção civil, apresentavam quedas superiores a 20%. Em outubro, o cenário se deteriorou ainda mais. A contração atingiu praticamente todos os principais grupos exportadores, levando o setor a uma queda de 31,6% frente a setembro e de 42,5% em relação a outubro de 2024. Até mesmo o segmento de máquinas para logística e construção civil, que vinha sustentando as vendas, sofreu forte reversão, com retração de 54,3% sobre o mês anterior e de 48,3% em relação ao mesmo mês do ano passado”, observa o presidente executivo da Abimaq, José Velloso.
Estados Unidos respondiam até agosto de 2025 por mais de 25% das exportações brasileiras de máquinas e equipamentos. Porém, percentual baixou para 13%. “O resultado evidencia uma perda acelerada de mercado e um quadro cada vez mais desfavorável para o setor exportador brasileiro”, observa Velloso.
Setor calçadista tem dado descontos para clientes dos EUA, o que refletiu nas exportações. De janeiro a outubro de 2025, foram exportados 87,3 milhões de pares de calçados pelo Brasil, o que representou aumento de 7,5% em relação ao mesmo período do ano passado. Por outro lado, a venda de calçados para outros países geraram US$ 819,4 milhões — queda de 1% no valor na comparação com o mesmo período do ano passado. Os dados são da Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados).
As empresas, para não perderem os seus clientes ou para não terem cancelamento de pedidos, estão concedendo descontos, o que se reflete em um preço médio mais baixo e em perda de rentabilidade.Haroldo Ferreira, presidente-executivo da Abicalçados