Mato Grosso do Sul está prestes a viver uma transformação profunda em sua matriz econômica. Até 2027, a produção de etanol de milho deve alcançar o mesmo patamar da cana-de-açúcar, setor que tradicionalmente lidera a geração de bioenergia no Estado.
O anúncio foi feito pelo governador Eduardo Riedel em entrevista ao Correio do Estado, ao confirmar a implantação de duas grandes plantas de etanol de milho, uma em Costa Rica e outra em Nova Alvorada do Sul.
Conforme já informou o Correio do Estado, cada uma das duas fábricas de etanol de milho da Atvos receberá mais de R$ 1 bilhão de investimentos. Cada nova planta será capaz de produzir em torno de 250 milhões de litros de etanol por ano, além de grãos secos de destilaria com solúveis (DDG) e até energia elétrica.
Em Nova Alvorada do Sul e Costa Rica, as novas usinas de etanol de milho funcionarão com as usinas de etanol de cana-de-açúcar já existentes da Atvos.
Mato Grosso do Sul passará a ter cinco fábricas do produto. Atualmente, estão em funcionamento duas unidades da Inpasa, em Dourados e Sidrolândia, capazes de produzir 800 milhões de litros de etanol de milho por ano, e a Neomille, em Maracaju, cuja capacidade anual de produção é de 260 milhões de litros de etanol.
As duas unidades da Atvos terão capacidade de produção similar à da Neomille. Mas, no caso desses dois novos investimentos em Nova Alvorada do Sul e em Costa Rica, há uma outra novidade, a possibilidade de expansão. “Temos a etapa 1 e a etapa 2. Eles terminarão a etapa 1 e já começarão a 2, que é a duplicação de cada planta”, revela Eduardo Riedel.
“São 534 mil toneladas de processamento de milho em cada unidade e, no fim de 2027, com estas unidades operando, serão mais 534 mil toneladas. Este empreendimento, em três anos, estará consumindo 2 milhões de toneladas de milho”, acrescenta.
Para o governador, o aumento da produção de etanol fará com que quase toda a produção de milho de Mato Grosso do Sul seja consumida e industrializada dentro do Estado.
O salto na industrialização só é possível porque Mato Grosso do Sul se consolidou como um dos maiores produtores de milho do País. Neste ano, o Estado colheu 14,22 milhões de toneladas de milho, consolidando sua autossuficiência e abrindo espaço para que parte expressiva do grão seja destinada às usinas de etanol e de biometano.
Essa mudança altera a lógica que vigorava até poucos anos atrás. Antes, a maior parte do milho era exportada ou vendida in natura para outros estados.
Dados da Associação dos Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul (Biosul) apontam que na safra 2024/2025 Mato Grosso do Sul registrou produção histórica de 4,2 bilhões de litros de etanol, mantendo o Estado como quarto maior produtor do País.
Apesar de uma redução de 5,1% na quantidade de cana processada, que totalizou 48,5 milhões de toneladas, a produção de etanol registrou aumento de 10% em relação à safra anterior. O avanço foi impulsionado pelo etanol de milho, que atingiu participação expressiva de 37% no total produzido.
Para a safra 2025/2026, as projeções indicam recuperação de 3,5% na moagem de cana, com expectativa de processamento de 50,5 milhões de toneladas. A produção de etanol deve se aproximar de 4,7 bilhões de litros, volume 11% maior que o do ciclo passado.
MUDANÇA
O governador destacou que a industrialização está mudando até mesmo o papel de Mato Grosso do Sul no comércio exterior. “A estratégia toda é essa. Exporta menos e produz mais aqui”, resumiu o governador.
A avaliação reflete uma guinada estratégica, o Estado prefere transformar o produto em etanol, biogás e derivados como o DDG, usado na alimentação animal. Isso gera mais empregos, impostos e oportunidades locais, reduzindo a dependência das flutuações do mercado externo.
As duas novas plantas industriais devem somar mais de R$ 2 bilhões em investimentos diretos, com capacidade inicial de 534 mil toneladas de milho processado por ano em cada unidade, podendo dobrar após a segunda etapa de expansão. Quando concluídas, vão superar, juntas, a capacidade da Neomille, hoje a maior usina de etanol de milho do Estado.
Paralelamente, avança a implantação de uma planta de biometano em Nova Alvorada do Sul, com previsão de conclusão em 2026 e investimentos de R$ 360 milhões. A unidade deve produzir 28 milhões de metros cúbicos de biogás por safra, aproveitando subprodutos como a vinhaça e a torta de filtro.
Para Riedel, a expansão do etanol de milho e do biometano faz parte de uma estratégia de longo prazo que combina segurança alimentar, transição energética e sustentabilidade.
“Todo o centro da nossa estratégia de desenvolvimento está primeiro no eixo segurança alimentar e outra transição energética. Esse aqui é um modelo que pega integral isso. E sustentabilidade, porque todos esses modelos das indústrias modernas têm uma capacidade de fazer o seu processo praticamente net zero. E isso tem um valor agregado”, destaca.
Na prática, as novas usinas também estão incorporando o mercado de créditos de carbono e de combustível sustentável para aviação (SAF), setores que devem ganhar força nos próximos anos com a pressão internacional por descarbonização.
O governador lembrou ainda que a conversão do milho em energia ajuda o Estado a compensar perdas fiscais decorrentes da queda na importação de gás natural da Bolívia, que provocou uma frustração da arrecadação entre 2023 e este ano. Parte desse vazio deve ser preenchido com a expansão da diversificação de receitas vinculadas ao agronegócio.
Combinando produção agrícola robusta, investimentos bilionários e aposta em energia limpa, Mato Grosso do Sul se prepara para alterar sua base econômica.
O milho, antes visto como commodity de exportação, passa a ser motor da industrialização, equiparando-se à cana-de-açúcar e abrindo novas frentes de negócios.