
O Nordeste do Brasil está prestes a viver uma das maiores transformações econômicas de sua história recente. Grandes empresas chinesas, lideradas pela montadora BYD, estão apostando bilhões de dólares em infraestrutura, energia e indústria na região, com destaque para a Bahia e Sergipe.
Os investimentos, que incluem a construção da Ponte Salvador-Itaparica, a retomada do Estaleiro Enseada em Maragojipe e o desenvolvimento do Porto Sul em Ilhéus, têm potencial para reposicionar o Nordeste como o novo eixo industrial do país. A cooperação entre Brasil e China ganhou força durante o Fórum de Cooperação Financeira Brasil-China, realizado em Salvador, e já começa a mostrar efeitos concretos.
Bahia e Sergipe na linha de frente da industrialização
A Bahia desponta como epicentro dessa nova fase, abrigando o maior conjunto de projetos com capital chinês no Brasil. A fábrica da BYD em Camaçari, instalada onde antes funcionava a Ford, marca o início de uma nova era industrial.
Com capacidade inicial para produzir 150 mil veículos elétricos por ano, a empresa prevê dobrar o volume em poucos anos, alcançando até 300 mil unidades anuais. O projeto inclui um centro de desenvolvimento tecnológico, no qual engenheiros brasileiros e chineses trabalham no desenvolvimento de um motor híbrido movido a etanol e eletricidade, adaptado à realidade nacional.
Além da montadora, a Bahia também será palco de um megainvestimento em infraestrutura naval com a retomada do Estaleiro Enseada, em Maragojipe. O projeto prevê a construção de seis navios híbridos, com tecnologia para operar futuramente com biocombustíveis, e investimentos superiores a US$ 3 bilhões.
Reindustrialização e fertilizantes: o renascimento da produção nacional
A reindustrialização nordestina não se limita à indústria automotiva e naval. O governo federal anunciou também a retomada da produção de ureia e fertilizantes nitrogenados em Sergipe e Bahia — uma medida estratégica para reduzir a dependência de importações e garantir autonomia ao agronegócio nacional.
Essas unidades, paralisadas há anos, voltam a operar com foco na segurança alimentar e soberania produtiva, reduzindo o impacto da crise global de fertilizantes provocada pela guerra entre Rússia e Ucrânia.
Porto Sul e Ferrovia Oeste-Leste: a espinha dorsal logística
Outro projeto crucial é o Porto Sul, em Ilhéus, integrado à Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL). A obra permitirá o escoamento de minérios, grãos e produtos industriais por um corredor logístico que conecta o interior da Bahia ao litoral e, futuramente, ao oceano Pacífico via Peru.
Com uma ponte de acesso de 3,5 km sobre o mar e pátios de atração para grandes navios, o Porto Sul deve se tornar um dos mais modernos e estratégicos da América Latina. O empreendimento reforça o papel do Nordeste como ponto logístico de ligação entre o Brasil e o mercado asiático, ampliando exportações e fomentando empregos.
A nova geografia econômica do Brasil
Dados recentes mostram que o Nordeste cresce acima da média nacional desde 2023. A chegada dos investimentos chineses tende a consolidar essa tendência, impulsionando o PIB da região e gerando uma nova onda de desenvolvimento industrial.
Segundo economistas, o crescimento nordestino deve superar o do Sudeste e Sul nos próximos anos, com destaque para os setores de energia renovável, logística, automotivo e fertilizantes. Essa transformação indica que o centro de gravidade da economia brasileira pode estar se deslocando para o Nordeste.
Desafios e oportunidades
Apesar do otimismo, especialistas alertam para a necessidade de planejamento estratégico e políticas industriais sólidas. O Brasil precisa garantir transferência de tecnologia, capacitação de fornecedores locais e fortalecimento da engenharia nacional, evitando repetir o modelo de dependência de multinacionais.
Se bem conduzido, o movimento de cooperação sino-brasileira poderá inaugurar uma nova fase de industrialização, consolidando o Nordeste como o motor do crescimento do Brasil nas próximas décadas.