Uma nova política de crédito habitacional lançada pelo governo federal promete dar novo fôlego à construção civil e reaproximar o sonho da casa própria para muitos brasileiros da classe média. As medidas, anunciadas em 10 de outubro de 2025, aumentam o valor máximo de imóvel para financiamento, estendem facilidades de crédito e abrem espaço para uso de instrumentos como FGTS, em um contexto de juros elevados e demanda reprimida por moradia.
O que muda no crédito habitacional
Entre as principais inovações está o aumento do teto do valor financiável pelo Sistema Financeiro da Habitação (SFH): o limite passa de R$ 1,5 milhão para R$ 2,25 milhões. Também volta a vigorar a regra de que a Caixa Econômica Federal financie até 80% do valor do imóvel, elevando sua participação em comparação ao limite anterior.
Outra mudança relevante é a permissão para o uso de recursos do FGTS como parte da entrada ou amortização em imóveis com valores mais elevados, especialmente pela classe média, cuja renda ultrapassa os níveis normalmente contemplados pelos programas sociais.
Juros, prazos e fontes de financiamento
A nova linha estabelece juros máximos de 12% ao ano para os financiamentos sob o SFH — uma taxa abaixo da Selic vigente, que está em 15%, o que torna o crédito mais acessível, embora ainda demandante em termos de custo para famílias.
Para garantir volume de recurso, o governo alterou a regra de uso da poupança no crédito imobiliário: atualmente, 65% dos depósitos em poupança são obrigatoriamente direcionados para operações de crédito habitacional. Com a mudança, esse percentual deverá subir gradualmente até atingir 100%. A ideia é que, à medida que mais recursos forem captados na poupança, mais crédito seja liberado para financiamento de imóveis.
Impactos esperados e desafios
Do lado positivo, as medidas devem gerar movimentação econômica significativa. Estima-se que a nova linha de crédito possa injetar cerca de R$ 37 bilhões ainda em 2025, com reflexos diretos na construção, na produção de materiais, no mercado imobiliário e no emprego, especialmente em grandes centros urbanos. O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) avalia que a medida corrija uma lacuna habitacional que afeta famílias de classe média, que têm dificuldade para acessar financiamento compatível com seus rendimentos.
Entretanto, os desafios não são poucos. A economia ainda enfrenta juros altos, inflação em patamares elevados e risco de inadimplência, sobretudo em financiamentos de longo prazo. Há também preocupação com o custo fiscal da medida, já que subsídios e compromissos assumidos pelo governo demandam recursos públicos. A solidez do mercado de trabalho será determinante para que os novos mutuários consigam arcar com as parcelas do financiamento.
Transição até 2027
A implementação da nova política será gradual, com expectativas de pleno vigor a partir de janeiro de 2027. Até lá, deverão ocorrer ajustes operacionais e adaptação institucional, especialmente nas instituições financeiras e na Caixa Econômica. A transição visa garantir que os novos parâmetros de financiamento, aplicação da poupança e uso do FGTS sejam adotados sem rupturas abruptas.