Os planos da Toyota com o Yaris Cross no mercado brasileiro

Às vésperas do lançamento do Yaris Cross a Toyota enfrentou uma tragédia: um evento climático extremo, destes que, infelizmente, devemos começar a nos acostumar a ver no Brasil, quase colocou abaixo a fábrica de motores de Porto Feliz, SP. A unidade está inoperante e a montadora ainda contabiliza os prejuízos materiais e financeiros – felizmente em questão de vidas foi zero, com todos os trabalhadores sobrevivendo e com pouco mais de uma dezena apenas com ferimentos leves.

Em paralelo os executivos trabalharam para manter a operação brasileira nos trilhos. O resultado foi um acordo para importação de motores e a retomada do lançamento do Yaris Cross. A poucos dias da abertura do Salão do Automóvel de São Paulo o SUV foi apresentado oficialmente, teve preço de pré-venda divulgado e confirmado para chegar às concessionárias em fevereiro, em uma operação que contou com suporte da matriz para tornar viável a produção do motor, que é exclusivo para o modelo brasileiro.

No evento de lançamento, em São Paulo, o editor de AutoData Pedro Kutney e o editor do Guia do Carro, Sergio Quintanilha, conversaram com José Ricardo Gomes, diretor comercial da Toyota no Brasil. Ele falou sobre essa operação, as expectativas com o novo modelo e o planejamento de eletrificação no Brasil.

Confira os principais momentos no Agência AD Entrevista:

Como foi essa operação de guerra para lançar o novo Yaris Cross com um motor que não tinha como ser produzido no Brasil por causa do evento climático em Porto Feliz?

Eu estive no Japão e pude presenciar o quão a cultura japonesa está preparada para esse tipo de fatalidade, como eles encaram do ponto de vista de sustentabilidade, de sociedade. Foi fundamental o apoio deles à nossa operação. E tem a Toyota: ela é muito grande globalmente, com a cadeia de suprimentos espalhada, o que nos ajudou a começar a produzir, desde 3 de novembro, motores e outros componentes em outros países para exportar para cá. Nesta primeira fase estamos trazendo os motores flex do Corolla e do Corolla Cross do Japão e os que equipam os carros para exportação da Indonésia. É uma solução de curto prazo e estamos tomando decisões, discutindo a reconstrução da fábrica de Porto Feliz inteira ou se conseguiremos recuperar a estrutura atual.

E os motores do Yaris Cross, especificamente?

Eles serão feitos aqui, porque têm configuração específica para o Brasil. Mas, para lançar o carro, precisamos importá-lo do Japão com produção exclusiva para cá.

Vocês têm projeção de vender 50 mil Yaris Cross no mercado brasileiro e exportar mais 20%, algo em torno de 10 mil unidades. Mas o carro começa com preço de R$ 160 mil na pré-venda e pode subir quando começar a venda, em fevereiro. A previsão não é muito otimista, considerando alguns concorrentes com preços competitivos e, principalmente, a invasão de veículos chineses com tecnologia por vezes 100% elétrica a valores inferiores?

Falando dos chineses a Toyota encara a competição como positiva no Brasil e no mundo. Ela é a maior montadora do mundo e tem provado que os carros híbridos são o que o consumidor quer comprar, é onde de fato existe a demanda. E no Brasil somos pioneiros em produzir o híbrido com etanol e acreditamos ser a tecnologia mais apropriada para o consumidor brasileiro. Posicionamos o preço com base no que julgamos ser os concorrentes diretos e acreditamos estar bem competitivo e adequado ao mercado brasileiro. Com relação à exportação temos volume bem interessante do Corolla Cross na América Latina, exportação para mais de vinte países, e acredito que o Yaris Cross terá demanda muito parecida.

Quando foi lançado o Corolla, primeiro híbrido flex no Brasil, em 2019, estimavam que ele representaria 30% do mix. Na época, com a procura elástica, chegou a 40%, mas hoje está em 15% no sedã e 30% no SUV. Quanto o senhor acredita que será no caso do Yaris Cross?

Pergunta interessante e me lembra de quando participei do lançamento do primeiro Corolla no Brasil. Na época projetamos que o automático responderia por 10% a 15% das vendas e o restante seria manual. Hoje em dia nem temos mais manual. Acredito que com o híbrido será a mesma tendência. Nossos próximos lançamentos de veículos de passageiros terão todos uma opção híbrida, acreditamos que podemos ajudar a democratizar mais a tecnologia.

Mas o que significa isto na prática? Um mix de início de produção com mais híbrido do que a combustão?

No começo podemos ter mais híbridos, um mix acima de 50%. E aí vamos fazer o que sempre fizemos: ser humildes e ajustar nossas projeções com base na demanda do mercado.

Muitas pessoas acreditam que a Toyota está certa em andar devagar e sempre. Outras acreditam que está lenta demais, principalmente em um mercado com a chegada de muitas marcas chinesas com eletrificação mais completa e acessível. Por que a Toyota ignora a questão do carro elétrico no Brasil?

A Toyota não ignora. Na verdade temos uma plataforma com múltiplas opções. Somos a maior montadora do mundo, vendemos mais de 11 milhões de carros por ano e entendemos a necessidade do consumidor local. Esta, talvez, seja a nossa primeira direção. A segunda é que, no Brasil, acreditamos na produção local e essas chinesas estão chegando primeiro para testar o mercado, na minha leitura. Entenderemos melhor essa dinâmica quando elas começarem a chegar ao momento da produção. A Toyota está focada em um projeto de médio a longo prazo no Brasil, sustentável, gerando empregos diretos. E quando olhamos para a eletrificação entendemos que a melhor alternativa para o momento é o carro híbrido, etanol, flex, que estamos colocando no Yaris Cross e já está disponível no Corolla e Corolla Cross. Então não é uma questão de ignorar a eletrificação, mas de priorizar o que julgamos ser a plataforma de consumo do País.

O senhor mencionou que o plano da Toyota é oferecer versões híbridas para todo o portfólio de carros de passageiros. E as picapes?: não está prevista a hibridização para elas?

Picapes são veículos comerciais. Não temos essa reserva ainda, estamos estudando. No caso de veículos de passageiros o plano é ter uma opção híbrida para cada um deles.

Para finalizar: qual indústria é melhor hoje em termos de tecnologia, confiabilidade e inovação: a japonesa ou a chinesa?

Esta pergunta está sendo feita para um apaixonado pelo Japão. Fui várias vezes para lá e para a China somente uma, então não posso falar de lá. Serei leviano se falar sobre isto, o que sei são dos produtos que chegam aqui e um pouco do que vejo no mundo. Mas falando de Toyota e Japão não tenho dúvida da capacidade tecnológica, produtiva e da força de trabalho no mundo inteiro. E em como ela colabora com os países, com o Japão, os Estados Unidos. Os números dela provam isto.

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