
Para as fabricantes de veículos leves o Programa Mover, Mobilidade Verde e Inovação, tem cumprido com seu papel de estimular a descarbonização por meio da melhora da eficiência energética, da eletrificação e do uso de biocombustíveis, mas é importante que o governo já comece a pensar em continuidade e aprimoramento da iniciativa que vise a industrialização completa dos modelos no País.
Foi o que afirmaram durante debate no Seminário Brasil Eletrificação e Descarbonização, realizado por AutoData na terça-feira, 21, João Irineu Medeiros, vice-presidente de assuntos regulatórios da Stellantis para a América do Sul, Roberto Braun, diretor de comunicação e porta-voz da área de ESG da Toyota e Fábio Rua, vice-presidente de relações governamentais da General Motors.
“O Brasil tem a oportunidade, por meio de suas riquezas, de prover a verticalização de muitas das tecnologias de eletrificação introduzidas a partir do Mover, o que trouxe melhorias nas plataformas veiculares”, avaliou Medeiros.
O executivo citou que, somados, os programa InovarAuto, Rota 2030 e Mover promoveram, em dez anos, a redução de CO2 em 35%, o que se traduz em eficiência energética melhorada: “É preciso agora pensar à frente para fazermos mais um salto. Quando falamos de eletrificação todas as plataformas demandam baterias de lítio, motores elétricos, inversores, centrais eletrônicas, e abre oportunidade para verticalizarmos a cadeia na região.”
Braun complementou reforçando a necessidade de trazer ao Brasil a industrialização plena para que o setor não fique restrito a operações de valor agregado baixo “como montagem SKD e CKD que não agregam valor no País, não promovem o adensamento da cadeia produtiva, não geram emprego e renda à nossa sociedade, o que é fundamental para o futuro.”
Rua defendeu que se o Brasil deseja ser um competidor relevante na indústria automotiva é preciso olhar a cadeia de suprimentos, a necessidade de comprovar o compromisso para atrair cada vez mais investimentos: “A previsibilidade é fundamental, mas o Mover tem um horizonte temporal curto. Das doze portarias, somente seis foram publicadas, ou seja, em quase dois anos não temos todas as regras definidas. Isto está fluindo, não afeta a execução dos investimentos, mas poderia acelerar decisões já tomadas que precisam ser implantadas. Até 2030 todos os carros da GM terão algum tipo de eletrificação.”
A polêmica do CKD e SKD
Sobre a montagem em CKD e SKD ele traçou paralelo com política que está sendo implementada no México, que ao mesmo tempo em que incentiva a produção local abre importação proporcional à fabricação, para que essas empresas possam complementar o portfólio. “Esta cota de 10% a cada 100 mil veículos produzidos poderia ser pensada numa continuidade do Mover.”
O executivo da GM lembrou que recentemente foi anunciada a montagem em SKD e, posteriormente, CKD, do primeiro veículo 100% elétrico da GM na América do Sul, o Spark, na antiga fábrica da Troller em Horizonte, CE. “Até para testar o mercado e a possibilidade de contar com fornecedores que já fazem parte do nosso rol com estruturas de montagem diferenciadas para que este veículo esteja consolidado no nosso processo produtivo.”
Medeiros ponderou que este tipo de montagem tem seu valor quando não há a tecnologia local e, sobre o México, ressaltou que o país conta com diversos acordos comerciais, diferentemente do Brasil. “Híbridos e elétricos compartilham diversos componentes. Precisamos de política de curtíssimo prazo e de médio e longo prazo para trazer a produção de itens como bateria, controladores e motores elétricos à região. Até 2030 R$ 32 bilhões serão espalmados no portfólio da Stellantis para oferecer produtos de diferentes níveis de eletrificação.”
Braun também contrapôs que, no México, existe uma característica diferente do mercado brasileiro, uma vez que em torno de 90% da produção local é endereçada ao mercado externo. “No Brasil, aproximadamente 15% são exportados. Na Toyota, em que temos uma condição diferenciada, de 35% a 40% do que é fabricado é embarcado. Mas esta não é realidade comum às empresas do setor.”
Do volume embarcado pela montadora, em torno de 40% são híbridos a gasolina, o que corresponde a cerca de 30 mil veículos por ano, e uma parcela menor de híbrido flex – hoje representados pelo Corolla e pelo Corolla Cross e, em breve, pelo Yaris Cross, que teve seu lançamento adiado por causa do incidente em Porto Feliz, SP – vai ao Paraguai.